Não há dúvidas que estamos vivendo um momento histórico da era espacial. O retorno à Lua, missões à Marte, sondas visitando cometas e asteroides e, a cada dia, o turismo espacial se tornando mais próximo da realidade. Mas, nesta semana marcada pelo primeiro voo tripulado da Blue Origin e os 52 anos do primeiro homem na Lua, também completou-se 10 anos do fim de um dos períodos mais espetaculares da astronáutica: a era dos ônibus espaciais.
Os ônibus espaciais da Nasa foram os primeiros veículos espaciais reutilizáveis da história. Eles substituíram os gigantescos foguetes Apollo e, por 30 anos, foram as mais sofisticadas espaçonaves construídas pelo homem.
O veículo orbitador (OV) parecia um avião, tinha asas, cauda, trem de pouso e 3 potentes motores RS-25. Com 37 metros de comprimento e 18 metros de envergadura, pesava 78 toneladas e tinha capacidade para transportar 7 astronautas e até 27,5 toneladas de carga (para órbita baixa). Para tirar isso tudo do chão e colocar em órbita, o ônibus espacial contava com um gigantesco tanque de combustível externo com 760 toneladas de hidrogênio e oxigênio líquidos, e dois foguetes auxiliares de 500 toneladas de combustível sólido cada.
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Ele era lançado verticalmente, como um foguete convencional. Os 3 motores do ônibus espacial e os dois foguetes auxiliares operavam em conjunto para vencer os primeiros quilômetros de atmosfera. Após o impulso inicial, os foguetes auxiliares eram ejetados e caiam de paraquedas no oceano para serem resgatados e reutilizados.
Pouco tempo depois, o tanque externo também era ejetado, mas ele não era reaproveitado, pois queimava na reentrada atmosférica. E depois de realizar suas missões em órbita, o ônibus espacial retornava à Terra de uma forma espetacular.
A manobra era iniciada com um giro de 180 graus em seu eixo. Para manobras orbitais, o ônibus espacial contava com dois propulsores adicionais na parte de trás do veículo. Com a nave voltada na direção contrária do deslocamento, estes propulsores eram acionados para reduzir sua velocidade orbital e forçar a reentrada na atmosfera. O veículo era então reposicionado num ângulo específico (40°) de forma a gerar o arrasto necessário para freá-lo.
Um escudo térmico, na parte de baixo da estrutura, protegia a nave do calor da reentrada, que podia chegar a quase 2 mil graus. Passada a fase crítica, o ônibus espacial planava como um avião, fazendo manobras de zigue-zague para reduzir ainda mais sua velocidade até o momento da aterrissagem de forma suave em uma das pistas de pouso da Nasa.
Durante quase todo o processo, os astronautas a bordo eram apenas passageiros. O computador a bordo controlava todo o processo de forma automática. Apenas no último momento da aterrissagem o piloto entrava em ação para pousar a nave.
Ao todo, a Nasa desenvolveu 6 ônibus espaciais: Enterprise, Columbia, Challenger, Discovery, Atlantis e Endeavour. O Enterprise foi usado apenas para testes e não chegou à órbita da Terra. Já os demais, concluíram quase 32 mil horas de missões e levaram ao espaço 355 astronautas de 16 países.
Durante o tempo em que estiveram em operação, entre 1981 e 2011, os ônibus espaciais realizaram 135 missões. Colocaram em órbita o Telescópio Hubble, participaram da construção e da manutenção da Estação Espacial Internacional, lançaram inúmeros satélites, e conduziram experiências científicas em órbita da Terra. Mas, infelizmente, duas dessas missões não terminaram com sucesso.
Um acidente no lançamento da Challenger em 1986, e o outro na reentrada da Columbia em 2003, ceifaram a vida de 14 pessoas e puseram em xeque o programa de ônibus espaciais da Nasa. Ele havia se tornado o mais letal programa espacial da história.
Oito anos depois, no dia 21 de julho de 2011, a Atlantis planou no céu americano e pousou no centro espacial John Kennedy pela última vez. Era o fim da gloriosa era dos ônibus espaciais. Mas isso não foi necessariamente um retrocesso. Com a aposentadoria dos ônibus espaciais, a Nasa decidiu terceirizar seus lançamentos. E isso abriu um mercado para empresas privadas como SpaceX, Virgin Galactic e Blue Origin.
Talvez a era que se iniciou com o fim dos ônibus espaciais possa ser ainda mais emocionante e gloriosa.
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