Inundações muito perigosas, de potencial mortal, varreram a Europa Ocidental no mês passado. Embora seja um fenômeno até considerado comum na região, pesquisadores garantem que a mudança climática conseguiu agravar ainda mais a situação.

À medida que as pessoas ao redor do mundo continuam queimando combustíveis fósseis e emitindo gases de efeito estufa, a ameaça de desastres semelhantes aumenta. Segundo o estudo, em um único dia, o continente europeu foi castigado por chuvas de 3 a 19% mais intensas do que seriam sem os efeitos das mudanças climáticas causadas pelo homem.

Inundação na Alemanha: estrada inundada, passando por uma ferrovia, totalmente debaixo d’água. Imagem: bear_productions — Shutterstock

O aquecimento global também aumenta entre 1,2 e 9 vezes a probabilidade de ocorrência de chuvas extremas na região, como a que provocou enchentes, também em meados de julho, na Alemanha, na Bélgica, na Holanda e em Luxemburgo.

De acordo com o The Verge, ao menos 220 pessoas morreram na Alemanha e na Bélgica por causa de enchentes que atingiram cidades inteiras. O desastre foi desencadeado por fortes chuvas que quebraram recordes, tendo em vista que a quantidade de água que normalmente poderia cair em um período de alguns meses desabou em apenas dois dias.

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“Esse evento demonstra mais uma vez em 2021 que extremos quebrando recordes observados, exacerbados pelas mudanças climáticas, podem atingir qualquer lugar, induzir enormes danos e causar fatalidades. As autoridades locais e nacionais da Europa Ocidental precisam estar cientes dos riscos crescentes de precipitação extrema para estarem melhor preparadas para eventos futuros em potencial”, disse Frank Kreienkamp, ​​chefe do Escritório Regional do Clima de Potsdam no serviço meteorológico alemão Deutscher Wetterdienst, em comunicado divulgado nesta terça-feira (24).

Interferência humana é a principal causa da mudança climática no globo

A atividade humana é a principal culpada pelo clima extremo que estamos começando a experimentar, segundo um relatório climático da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgado no início deste mês. Como se sabe, ao queimar combustíveis fósseis, os humanos liberam gases de efeito estufa que aquecem o planeta, influenciando o ciclo da água.

Esse relatório da ONU juntou as descobertas de centenas de “estudos de atribuição” que determinam se a mudança climática sobrecarregou eventos climáticos individuais. A nova pesquisa sobre as inundações de julho na Europa é um desses estudos de atribuição, divulgado na segunda-feira por um grupo internacional de 39 cientistas do clima. 

Embora seu estudo ainda não tenha sido publicado em um jornal revisado por pares, os pesquisadores usaram métodos estabelecidos para analisar rapidamente o evento. Eles olharam para os registros de chuva e modelaram quanta água a área poderia ter recebido com e sem a influência das mudanças climáticas. 

Os pesquisadores começaram se concentrando em duas regiões que foram duramente atingidas pelas enchentes: a região alemã de Ahr e Erft e a região belga de Meuse. 

Paisagem inundada pelo rio Zenn, em Wilhermsdorf, Franconia, na Alemanha, após fortes chuvas em 7 de agosto de 2021. Imagem: Petra Weishaar — Shutterstock

No entanto, por meio desse estudo específico, eles encontraram mais desafios do que em outros estudos de atribuição. Não existiam dados sobre o fluxo do rio ao longo do tempo, em parte porque as enchentes arrastaram as estações de medição. 

Eles também tinham dados locais limitados de longo prazo, então ampliaram seu estudo para uma área maior da Europa Ocidental. Por causa dessas limitações, o relatório fornece uma ampla gama de quanto mais provavelmente ​​as mudanças climáticas causaram as inundações.

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A atribuição de condições climáticas extremas é um campo de estudo que está crescendo rapidamente. Graças a mais poder de computação, modelos mais avançados e sensoriamento remoto, os cientistas agora podem vincular a crise climática a eventos individuais com mais velocidade e certeza do que eram capazes há alguns anos.

“Esse é um campo realmente excitante e de ponta agora”, disse ao The Verge o cientista físico Alex Ruane, um dos autores do recente relatório da ONU, que é pesquisador do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da Nasa. 

“Os avanços metodológicos e vários grupos que realmente assumiram isso como o foco principal de seus esforços aumentaram, de muitas maneiras, nossa capacidade e a velocidade com que podemos fazer esse tipo de conexão. Então essa é uma grande vantagem”, comemora.

Até agora, o aquecimento global atingiu cerca de 1,2ºC acima dos níveis pré-industriais. Quando chegar a 2ºC, a chuva de um evento semelhante na Europa pode ser até 6% mais intensa, segundo o estudo. Isso está de acordo com as conclusões do relatório da ONU, que também previu chuvas mais severas e inundações para a Europa Ocidental e Central à medida que o planeta esquenta.

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