Para quem acompanha de perto, parece que foi ontem. Mas foi 30 anos atrás, em 25 agosto de 1991, que um estudante de 22 anos da Universidade de Helskinki, na Finlândia, chamado Linus Torvalds enviou um e-mail à lista de discussão comp.os.minix anunciando um pequeno projeto. O texto dizia:
“Estou criando um sistema operacional (livre) apenas como hobby, não será nada grande e profissional como o GNU, para clones AT 386 e 486. Estou desenvolvendo ele desde abril, e está começando a ficar pronto”.
Linus Torvalds
Mal sabia Torvalds que seu projeto se tornaria muito mais popular que o Minix (muito estudado em cursos de ciência da computação) ou GNU Hurd (o sistema ao qual ele se refere na mensagem), que seria visto pela Microsoft como uma séria ameaça à sua hegemonia ou que seria a base do sucesso e fortuna de grandes corporações. Nada mal para um “hobby”.
Hoje, mais de 70% dos smartphones no mundo são Android, e o coração de cada um deles é o kernel Linux. Você tem uma Smart TV com Web OS, um Chromecast ou FireTV? Tem Linux ali. Seus filhos usam um Chromebook para estudar? Mais uma vez, Linux.
Dos 500 supercomputadores mais poderosos do mundo, todos usam uma versão do Linux como seu sistema operacional. E ele é a base sobre a qual rodam os serviços e produtos oferecidos por empresas como o Google, Facebook, Twitter, etc, utilizados por bilhões de pessoas no mundo todo.
O Linux também foi o sistema escolhido pela SpaceX para operar veículos como os foguetes Falcon e a cápsula Crew Dragon, que leva astronautas à ISS. E foi até a outros mundos: o computador de bordo do helicóptero Ingenuity, que provou ser possível voar em Marte e está ajudando o rover Perseverance a explorar o planeta, roda Linux.
Os consoles de videogame também estão adotando o Linux, desafiando a velha (e incorreta) afirmação de que no Linux “não dá para jogar”. O sistema operacional do Nintendo Switch, embora proprietário, usa componentes do Linux e do Android.
O recém anunciado Steam Deck, portátil da Valve, roda o Steam OS, que é uma distribuição Linux. E os mini-consoles que viraram febre nos últimos anos, como o NES Classic, SNES Classic, Mega Drive Mini e Turbografx-16 Mini são todos baseados em Linux.
A Microsoft, cujo CEO na época, Steve Ballmer, já considerou o sistema como “um câncer”, oferece o Linux como opção em sua plataforma de computação na nuvem, a Azure. Não só isso, o uso de Linux dentro da plataforma supera o do Windows Server, e atualmente o sistema pode até ser executado dentro do Windows 10.
Código aberto é o segredo do sucesso
O segredo do sucesso do Linux é a filosofia de desenvolvimento. Não existe um único “dono” ou empresa por trás do sistema. O código-fonte é aberto e pode ser estudado, e modificado, por qualquer um, e as modificações devem ser devolvidas à comunidade.
Linus Torvalds pode ser o “pai” e líder no desenvolvimento do sistema, mas conta com a ajuda de um verdadeiro exército de mantenedores e desenvolvedores, trabalhando voluntariamente ou empregados por empresas como a Intel, Google, RedHat e muitas outras, cada um colaborando com uma parte do projeto.
Isto torna o sistema incrivelmente flexível e adaptável, rodando tão bem em uma plaquinha barata como o Raspberry Pi, onde é a base para os mais variados projetos, quanto no Fugaku, o supercomputador mais poderoso do mundo. Quando uma nova plataforma de hardware surge, geralmente o Linux é o primeiro sistema operacional a rodar nela.
Segundo um estudo global anual da SUSE, uma das mais antigas empresas de software Open Source, entre 800 líderes de TI, o código aberto está sustentando a inovação e as tecnologias essenciais mais recentes. Três dados indicam isso:
- 85% dos líderes concordam que o código aberto permite a inovação de ponta
- 84% dos líderes veem o código aberto como uma forma de gerar inovação de maneira econômica
- 82% dos líderes dizem que se sentem otimistas sobre o futuro do código aberto
Cinco curiosidades sobre o Linux
- Tem dois aniversários: existe uma disputa sobre qual a “data de nascimento” do Linux. Alguns dizem que é 25 de agosto de 1995, quando Torvalds anunciou publicamente o projeto. Outros dizem que é 17 de setembro de 1991, quando o código-fonte da versão 0.0.1 foi disponibilizado publicamente.
- Teria outro nome: Torvalds queria que o sistema operacional se chamasse Freax, uma mistura de “Free” (Livre), “Freak” (Aberração) e X (representando o Unix). Mas Ari Lemke, colega de Torvalds na Universidade de Tecnologia de Helsinki e administrador voluntário do servidor FTP onde o código seria publicado, achou que esse não seria um bom nome, e renomeou a pasta com os arquivos para “Linux”, sem consultar Torvalds.
- É parte de um todo: o Linux é, em essência, apenas um kernel, o núcleo de um sistema operacional, desenvolvido e mantido por milhares de desenvolvedores, sejam indivíduos voluntários ou funcionários de grandes empresas. Na verdade, o kernel Linux tem mais de 8 milhões de linhas de código e mais de 1.000 contribuidores a cada versão. A combinação do kernel com ferramentas e aplicativos dá origem a uma “distribuição” Linux. Estas distribuições podem ser criadas por grupos de voluntários (como os projetos Debian e Slackware) ou empresas que oferecem suporte e serviços associados, como a SUSE, RedHat, Canonical, e muitas outras.
- Está em todo lugar: redes sociais, jogos, carros, NASA, TVs, eReaders, sites, o site da Apple, roteadores, sistemas POS, dispositivos médicos e relógios inteligentes funcionam com o Linux. Serviços em nuvem, NFV e SDN também. Atualmente, 90% das nuvens são baseadas no Linux. A votação eletrônica no Brasil, incluindo as urnas eletrônicas, usa predominantemente Linux. A modelagem 3D do filme Avatar foi possível com Linux. Embora seja um sistema operacional, o Linux é o maior fenômeno da indústria de TI.
- Continua a crescer: Trinta anos depois, o ecossistema de código aberto impulsionado pela criação do Linux continua aumentando. Atualmente, é uma comunidade de 56 milhões de colaboradores.
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