Pesquisadores japoneses recriaram um ilustre mural afegão que foi destruído pelo Talibã durante a ocupação do país em 2001. Para isso, os cientistas usaram uma mistura de técnicas tradicionais e digitais que, segundo eles, salvará o “espírito” da obra para as gerações futuras.
Com seis metros de comprimento e três metros de altura, a cópia em tamanho real foi apelidada de “superclone” pela equipe de reprodução da Universidade de Artes de Tóquio. A obra original, uma pintura rupestre do século 7, foi destruída junto com duas enormes estátuas de Buda e outros artefatos no Vale de Bamiyan, no Afeganistão.
Frente à consternação mundial motivada pelos acontecimentos, a equipe se empenhou durante três anos para construir uma réplica precisa, com esforços de reprodução de última geração, que foi exibida em um museu em Tóquio em setembro e outubro deste ano, poucas semanas depois que o Talibã retomou o poder em Cabul, em agosto – o que gerou temores de um retorno ao seu reinado brutal ocorrido entre 1996 e 2001.
“Conseguimos recriar uma representação muito precisa em três dimensões, desde sua textura até o tipo de tinta”, disse o coautor do estudo, Takashi Inoue. O mural original ficava no teto da caverna que abrigava os restos de dois Budas de Bamiyan e retratava um Bodhisattva azul – ou alguém a caminho de se tornar um Buda.
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Proteção do patrimônio afegão é preocupação antiga do Japão
Segundo a agência de notícias AFP, o Japão é um grande doador do Afeganistão e há muito tempo está envolvido nos esforços de proteção do patrimônio em Bamiyan, uma encruzilhada de civilizações antigas considerada um dos berços do budismo japonês.
Na preparação para o trabalho, a equipe processou digitalmente mais de 100 fotografias do mural tiradas por arqueólogos japoneses – antes de ser destruído – para criar um modelo computadorizado de sua superfície.
Em seguida, eles colocaram esses dados em uma máquina, que esculpiu a forma exata em um bloco de isopor.
Para completar a réplica, os artistas aplicaram uma tinta tradicional em um tom de lápis-lazúli semelhante ao usado no mural original.
“Com esse processo podemos reproduzir continuamente designs muito próximos dos reais, para transmitir o seu espírito às gerações futuras”, disse Inoue, que é professor especializado em patrimônio cultural euroasiático. “Vamos acabar com o vandalismo. Vamos preservar uma cultura inestimável – a herança da humanidade – juntos”, declarou.
Para o historiador Kosaku Maeda, colíder da equipe de reprodução de Tóquio, as imagens “maciçamente chocantes” dos Budas gigantes desaparecendo em nuvens de poeira ainda são uma memória vívida.
“Uma nação permanece viva quando sua cultura permanece viva”
“Eu estava preocupado que tal ato fosse infligido aos restos mais uma vez”, disse o homem de 88 anos, que visitou o vale repetidamente por mais de meio século. “No entanto, esse trabalho mostra que o vandalismo não tem vez diante da tecnologia moderna, pois tudo pode ser digitalizado”.
Maeda declarou que seu sonho é construir um “museu da paz” separado no vale e, se possível, exibir a réplica da pintura rupestre ali. “Não podemos colocá-la de volta em seu lugar original, mas quero levá-lo para Bamiyan como um legado histórico que a população local pode herdar”, disse ele, que é membro do comitê da UNESCO para a salvaguarda do patrimônio cultural afegão.
“Uma nação permanece viva quando sua cultura permanece viva”, acrescentou Maeda, recitando a mensagem escrita em uma faixa pendurada na entrada do Museu Nacional do Afeganistão, em Cabul.
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