Uma pesquisa apontou que pessoas com sintomas depressivos tendem a acreditar e difundir mais informações falsas sobre vacinas e a Covid-19. Segundo os pesquisadores, isso está ligado a um viés de crença em pontos negativos dos acontecimentos, em detrimento dos positivos, em pessoas com depressão.

O estudo foi realizado no Hospital Geral de Massachusetts (MGH), nos Estados Unidos, e os resultados foram divulgados na revista da Associação Médica Americana (Jama). O objetivo era examinar se pessoas com sintomas depressivos eram mais receptivas à desinformação sobre vacinas da Covid-19.

“Uma das coisas notáveis ​​sobre a depressão é que ela pode fazer com que as pessoas vejam o mundo de forma diferente”, declarou o autor principal do estudo, Roy Perlis. “Para algumas pessoas deprimidas, o mundo parece um lugar particularmente escuro e perigoso”.

Detalhes da investigação

Para investigar a propensão dos depressivos à desinformação, os pesquisadores examinaram as respostas de mais de 15 mil adultos estadunidenses a dois formulários que foram disponibilizados online. O primeiro, sobre sintomas da depressão, e o segundo,com perguntas relacionadas às vacinas contra a Covid-19.

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Os pesquisadores descobriram que os níveis de depressão cresceram pelo menos três vezes em comparação com os níveis pré-pandemia. A maioria dos participantes apresentava sintomas de leve a moderados. Porém, quanto mais intensos os sintomas, maior a propensão a crer em informações falsas.

A presença de sintomas depressivos foi associada a uma probabilidade 2,2 vezes maior de endossar desinformação sobre a Covid-19, principalmente em relação às vacinas. Além disso, essas pessoas também tinham 2,7 mais propensão a não se vacinar contra o coronavírus.

Nova análise

Imagem mostra uma jovem segurando um smartphone; na tela do dispositivo é possível ver a frase 'fake news'
Segundo os pesquisadores, quanto mais sérios os sintomas, maior a propensão a acreditar em notícias falsas sobre vacinas. Crédito: Shutterstock

Dois meses depois, a equipe de Perlis analisou os dados de um subconjunto de mais de 2.800 entrevistados, que responderam uma segunda pesquisa. Os que já apresentavam sintomas depressivos no primeiro levantamento, endossaram ainda mais desinformação sobre a Covid-19 no segundo.

“Embora não possamos concluir que a depressão causou essa suscetibilidade, olhar para uma segunda onda de dados pelo menos nos disse que a depressão veio antes da desinformação”, disse Perlis. “Ou seja, não era a desinformação que estava deixando as pessoas mais deprimidas”.

O estudo também contava com perguntas sobre mídias sociais e fontes de notícias usadas pelas pessoas com sintomas depressivos para saber sobre a Covid-19. Segundo os pesquisadores, isso permitiu excluir a possibilidade de que a depressão seja resultado de receber notícias falsas.

Espectro político não era um fator

Além disso, eles também descobriram que o efeito não se limitava a pessoas de um determinado espectro político ou de grupos demográficos específicos. Para os pesquisadores, esses resultados são importantes tanto para o combate à Covid-19, quanto para o combate à depressão.

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“Nosso resultado sugere que, ao abordar os níveis extremamente altos de depressão neste país durante a Covid-19, podemos diminuir a suscetibilidade das pessoas à desinformação”, disse Perlis. “Só podemos mostrar uma associação. Não podemos mostrar que a depressão causa a suscetibilidade.

O médico também enfatiza que não se pode culpar as pessoas com sintomas depressivos pela desinformação. Segundo ele, essa suscetibilidade faz com que esse público seja mais uma vítima da desinformação do que propagadores de fake news sobre a Covid-19.

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