Em operação há 26 anos, o foguete Ariane 5, principal veículo de lançamento do consórcio europeu Arianespace, está com os “dias contados”. Há apenas quatro lançamentos programados para 2022, antes de um final “em grande estilo” em 2023, com a missão JUICE (Jupiter Icy Moons Explorer), da agência espacial europeia (ESA).

É um momento que traz um desafio: encerrar certos aspectos da produção e operação do foguete que já não são mais necessários, mas ainda assim manter a infraestrutura, equipe e mão de obra necessárias para suportar os lançamentos ainda programados. Tudo isso mantendo os padrões de qualidade e segurança de sempre.

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“Temos uma equipe específica e um conjunto de atividades que são atribuídas ao final do programa. Principalmente para garantir as necessidades do final do programa e não ficar em uma situação difícil porque, como a cadeia de suprimentos está se fechando gradualmente, precisamos ter certeza de que não estaremos diante de um problema que não pode ser resolvido”, relatou Jérôme Rives, vice-presidente da Unidade de Negócios Ariane 5 da Arianespace em entrevista à NASASpaceflight.

Em operação há 26 anos, o Ariane 5 é o “carro chefe” da Arianespace. Imagem: elisabetta_monaco / Wikimedia Commons (CC BY 2.0)

Para isso, a Arianespace dividiu em quatro categorias as tarefas necessárias para aposentar o Ariane 5. A primeira é relacionada a peças extras que possam ser necessárias:

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“Por exemplo, encomendamos um motor adicional para o estágio superior — que provavelmente não será usado, mas apenas por precaução”, disse Rives. “Também encomendamos um bocal adicional para o motor Vulcain 2, não um motor completo porque a linha de produção do Vulcain 2 ainda está em andamento, pois também o usaremos no Ariane 6.”

Os motores Vulcain II do Ariane 5 serão usados também no Ariane 6
Imagem: Stahlkocher / Wikimedia Commons (CC BY SA 3.0)

A segunda categoria é relacionada às operações de manutenção, para garantir que todas as instalações sejam capazes de suportar as missões remanescentes. Esta é dividida em duas subcategorias: a manutenção de itens que serão usados no próximo foguete, o Ariane 6, e a manutenção daqueles que não serão.

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Esta segunda subcategoria inclui a operação das instalações para armazenamento criogênico de propelente na plataforma de lançamento, sistemas ambientais e de controle e guindastes para “empilhar” componentes do foguete em vários edifícios. Além disso, trilhos e veículos que transportam os componentes entre os prédios e para a plataforma também devem ser mantidos, bem como a plataforma em si.

A terceira categoria é relacionada à proteção de ativos de produção e manufatura, que não serão necessários se tudo ocorrer como programado, mas que talvez precisem ser reiniciados em caso de problemas.

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Estruturas de suporte aos lançamentos do Ariane 5, como os trilhos usados para levar o foguete à plataforma, também devem ser mantidas
Imagem: NASA/Bill Ingalls (Domínio Público)

A quarta e última categoria é relacionada às competências das equipes, que devem ser mantidas no mesmo nível de sempre para garantir a segurança nos últimos lançamentos do Ariane 5.

“Temos que estar muito focados nessas (missões finais), porque você sabe que a tendência seria prestar menos atenção porque estamos focados no novo veículo. Temos que ser muito cautelosos para garantir que ainda estamos muito, muito concentrados e focados nos lançamentos do Ariane 5 para manter seu nível de confiabilidade, para que seu histórico permaneça muito limpo até o final do programa.”

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Menor custo é o principal objetivo do Ariane 6

Ainda em desenvolvimento, o Ariane 6 irá tirar proveito de novas tecnologias de manufatura desenvolvidas nas últimas duas décadas para reduzir custos de produção e lançamento, numa tentativa de torná-lo competitivo com seu principal concorrente, o Falcon 9 da SpaceX. Hoje, um lançamento em um Falcon 9 custa entre US$ 50 e US$ 60 milhões, enquanto um Ariane 5 sai por US$ 160 a US$ 211 milhões.

“Basicamente, o Ariane 6 é baseado na mesma arquitetura do Ariane 5, mas com um grande avanço em relação à industrialização do conceito, pois leva em consideração as tecnologias que estão disponíveis hoje e que não estavam disponíveis no momento em que o Ariane 5 foi projetado.”

Ilustração do Ariane 64, variante do Ariane 6 com 4 propulsores auxiliares
Imagem: SkywalkerPL / Wikimedia Commons (CC BY 3.0)

“Isso nos permite fazer mudanças drásticas no fluxo de produção e nos custos. O que realmente mudou é a maneira como você produz o veículo e a maneira como você integra o veículo graças, por exemplo, à manufatura aditiva que não existia no início do Ariane 5.”

“Graças a metodologias de produção simplificadas que também são novas, graças à transição de processos analógicos para digitais, hoje temos muitas tecnologias que nos permitem chegar de forma muito mais rápida e, portanto, mais barata ao produto final que queremos ter”.

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