Na próxima sexta-feira (18), o rover Perseverance completa um ano em Marte. Ao todo, o robô da Nasa já coletou seis amostras de rochas para análise do solo marciano. A primeira delas foi oficializada em 2 de setembro de 2021, depois de uma tentativa frustrada feita em agosto.

Imagem da Nasa mostra rocha de onde saíram as amostras coletadas pelo rover Perseverance, em Marte
Rocha perfurada pela broca do rover Perseverance para coleta de amostras de Marte. Imagem: Nasa/JPL-Caltech/Divulgação

Segundo a equipe responsável, a primeira pedra que o veículo explorador tentou coletar — apelidada de Roubion — era tão porosa que a broca do rover provavelmente a desintegrou.

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Os engenheiros do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da Nasa, no sul da Califórnia, ainda tentam entender por que Roubion, literalmente, virou pó. Antes do lançamento, foram feitos diversos testes em dezenas de tipos de rochas na Terra, mas em nenhum dos ensaios os cientistas se depararam com uma situação semelhante. 

Para recriar as propriedades físicas únicas de Roubion e chegar a uma conclusão exata sobre o que levou à falha na coleta, a equipe vai recorrer ao exclusivo Laboratório de Simulação de Materiais Extraterrestres do JPL.

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Engenheiros que trabalham com o Perseverance montaram esta área de teste no JPL para praticar a perfuração em rochas despedaçadas usando uma réplica da broca de extrusão de rocha do rover. Imagem: NASA/JPL-Caltech

“Das rochas que vimos, Roubion tinha a maior evidência de interação com a água”, disse Ken Farley, do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), cientista do projeto Perseverance. “É por isso que ela desmoronou”.

Rochas alteradas pela água são mais suscetíveis a se desmanchar, no entanto, elas são altamente valiosas para os cientistas da Perseverance. A água é uma das chaves para a vida — pelo menos na Terra — e é em busca disso que o rover está explorando a Cratera Jezero. 

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Bilhões de anos atrás, o local continha um lago alimentado por um rio, o que o torna ideal para procurar sinais de vida microscópica antiga. Perseverance está coletando amostras que futuras missões poderiam trazer de volta à Terra para serem estudadas em laboratórios com equipamentos poderosos, grandes demais para serem enviados a Marte.

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Para encontrar pedras semelhantes a Roubion, membros da equipe receberam permissão para buscar rochas na Reserva Ecológica de Santa Margarita, que fica a duas horas de carro da JPL. Eles procuravam por algo que fosse intemperado o suficiente para se parecer com Roubion, mas não tão frágil ao ponto de se despedaçar ao menor toque. Foram selecionadas seis pedras.

“Foi um trabalho bastante físico”, disse Louise Jandura, engenheira-chefe de amostragem da JPL, que tem liderado a campanha de testes. “Estávamos cortando com martelos de pedra e pé-de-cabra. Algumas pedras eram tão grandes que nós cinco seguramos uma tela esticada para colocá-la na caçamba do nosso caminhão”.

No Laboratório de Simulação de Materiais Extraterrestres, uma espécie de centro de serviço que prepara materiais para testes, existem uns barris com um pó avermelhado chamado Mojave Mars Simulant, uma receita especial para recriar o solo que os rovers enfrentam no planeta vermelho. 

Pilhas de pedras — algumas salpicadas com buraquinhos de perfuração — estão espalhadas sobre uma serra perto da entrada. Atrás, está um bunker de concreto com caixas de pedra rotuladas com nomes como: Old Dutch Pumice, China Ranch Gypsum e Bishop Tuff.

“Gosto de dizer que fazemos seleção artesanal e preparação de materiais”, disse Sarah Yearicks, engenheira mecânica que lidera o laboratório. “Testá-los é parte fabricação e parte ciência louca”.

Yearicks era uma das pessoas que estavam presentes na seleção das rochas na excursão à Reserva Ecológica de Santa Margarita. Para os testes em rochas semelhantes a Roubion, a equipe trabalhou com uma broca de construção e outras ferramentas, enquanto a equipe de Jandura usou uma réplica da broca de Perseverance. 

Com sua broca, a equipe de Jandura procurou analisar o comportamento do núcleo das amostras: se tivesse “esfarelado”, eles olhariam para variáveis que poderiam ser a causa. Por exemplo, os engenheiros ajustaram a taxa de percussão da broca e o peso colocado sobre ela. Eles também tentaram perfurar as rochas horizontalmente em vez de verticalmente, no caso do acúmulo de detritos ser um fator.

Para cada ajuste que fizeram, parecia que uma nova informação surgia. Uma delas era que amostras frágeis ainda resistem à broca percussiva. Quando a equipe de Jandura reduziu a força da percussão para evitar a desintegração da amostra, a broca não conseguiu penetrar na superfície. Mas escolher um local da pedra que aguentasse a percussão mais forte significava escolher uma parte que provavelmente teria interagido menos com a água.

Se encontrarem mais rochas como Roubion, os cientistas do Laboratório de Simulação de Materiais Extraterrestres estarão prontos para lidar com materiais originais de Marte e, assim, chegar ainda mais perto de decifrar os mistérios do solo marciano.

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