Alunos do Ensino Médio do estado australiano de Victoria estão participando de uma experiência “nutritiva” junto à Estação Espacial Internacional (ISS). Sob a supervisão de cientistas da Universidade de Tecnologia de Swinburne, os estudantes desenvolveram um “iogurte espacial”.

Neste momento, eles estão esperando o produto — que está na ISS — retornar para as instalações da Nasa, aqui na Terra. Quando isso acontecer, os adolescentes iniciarão o processo de investigação dos valores nutricionais do alimento.

Frascos de iogurte produzidos por estudantes na Austrália foram enviados para a ISS (imagem meramente ilustrativa)
Imagem: nikkytok – Shutterstock

Segundo os líderes do projeto, os resultados poderiam fornecer informações sobre como proporcionar aos astronautas uma nutrição vital durante voos espaciais de longa distância.

Um fator crucial na saúde humana é a condição geral do nosso microbioma intestinal, que abriga mais de 100 trilhões de bactérias. E manter a saúde e a diversidade dessas bactérias pode ser ainda mais importante no espaço do que na Terra. 

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Saúde gastrointestinal dos astronautas

Um experimento realizado pela Nasa em 2016 enviou o astronauta norte-americano Scott Kelly para passar um ano na ISS, deixando seu irmão gêmeo Mark, também astronauta, na Terra. Em 2019, a agência divulgou os resultados inovadores da pesquisa.

De acordo com o estudo, Scott experimentou mudanças significativas em seu microbioma gastrointestinal quando estava no espaço — e isso não persistiu depois que ele voltou à Terra.

Teorizou-se que as mudanças no microbioma experimentados por astronautas se devem à falta de exposição aos micróbios “cotidianos” encontrados na Terra. Além disso, as pessoas no espaço estão expostas a menos gravidade e altos níveis de radiação, que aumentam à medida que viajam mais longe.

Entender como complementar as bactérias intestinais dos astronautas e sustentar sua saúde é um dos objetivos da atual pesquisa da Nasa, que está explorando isso através do uso de probióticos encapsulados e experimentos de gravidade simulados.

Como se deu o experimento

Parte dessa pesquisa envolve a participação dos estudantes. O iogurte produzido por eles é feito pela fermentação bacteriana do leite. O ácido lático gerado nesse processo atua nas proteínas do leite para criar o sabor característico e a textura encorpada do iogurte. 

A investigação dos estudantes quer saber, ainda, se diferentes cepas probióticas de bactérias podem ser usadas para fazer iogurte diretamente no espaço. O resultado ideal seria mostrar que culturas saudáveis e vivas de bactérias podem ser geradas a partir de bactérias congeladas e produtos lácteos enviados ao espaço. Isso ainda não foi alcançado, embora iogurte tenha sido feito usando bactérias anteriormente devolvidas do espaço.

As amostras do experimento foram preparadas no Centro Espacial Kennedy. Imagem: Rhodium Scientific

Isso seria extremamente benéfico durante voos espaciais longos, nos quais alimentos frescos são limitados e cápsulas probióticas típicas perderiam potência. O iogurte também oferece os benefícios nutricionais do leite do qual as bactérias estão se alimentando.

Segundo os cientistas envolvidos no projeto, os alunos começaram essa jornada por dois caminhos. Através do programa SHINE, seis alunos da Haileybury, uma rede de escolas particulares de Victoria, trabalharam com a equipe de Swinburne para desenvolver, fazer o protótipo e produzir um experimento para a ISS.

O segundo caminho foi através do desafio inaugural Swinburne Youth Space Innovation Challenge (SYSIC), que oferece a oportunidade de enviar um experimento ao espaço como parte da carga científica Swinburne/Rhodium.

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Equipes de quatro escolas realizaram um curso de 11 semanas de aplicações espaciais antes de lançar seu experimento. A equipe vencedora foi do Viewbank College, que recebeu seis frascos experimentais para desenvolver seu projeto. As demais equipes também foram premiadas com um frasco cada — todos trabalhando para o objetivo de investigar probióticos, bactérias e iogurte no espaço.

Uma vez prontas para voar, as amostras finais de bactérias foram preparadas e colocadas em congelamento profundo no Centro Espacial Kennedy, nos EUA.

Todos os 33 frascos embarcaram para a ISS na espaçonave SpaceX Crew Dragon 24, e foram lançados em 24 de dezembro. Na ISS, as amostras foram removidas do congelamento profundo pelo astronauta Mark Vande Hei e deixadas reservadas em uma câmara de experimentos de temperatura ambiente no Módulo de Experimento japonês, chamado Kibo.

Depois de 72 horas, as amostras foram colocadas de volta em congelamento profundo para dar continuidade ao processo. Espera-se que elas se tornem iogurte durante esse tempo. Já em Terra, elas serão investigadas por cientistas e estudantes nos próximos meses, assim que retornarem à Austrália.

Um iogurte “de outro mundo”

Os alunos optaram por explorar seis diferentes cepas de bactérias misturadas em várias combinações, bem como certas cepas isoladas. Com o controle dos experimentos baseados no espaço realizados na Terra, eles poderão determinar se as bactérias enviadas à ISS foram significativamente afetadas pela redução da gravidade.

Serão usados métodos como sequenciamento de DNA para isolar quaisquer variações na composição genética das bactérias, e investigar quantas gerações (ou divisões celulares) ocorreram nas amostras.

Os alunos também projetaram propositalmente o experimento para testar as opções de leite com e sem lactose, para ver as potenciais diferenças na produção nutricional. No entanto, talvez a parte mais aguardada por todos os envolvidos seja o teste final: experimentar! E, assim, descobrir se o iogurte espacial realmente é “de outro mundo”!

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