Lançada em 2006, a missão New Horizons, da Nasa, é dedicada a explorar a superfície de Plutão e o Cinturão de Kuiper, uma área do sistema solar exterior que concentra grande quantidade de rochas espaciais geladas das mais variadas dimensões e formatos. 

Sonda New Horizons, da Nasa, estuda Plutão desde 2006. Imagem: muratart – Shutterstock

Ao analisar imagens do planeta anão feitas pela sonda, pesquisadores identificaram uma área de formação irregular que se acredita ter sido formada por erupções de dois vulcões de gelo – ou criovulcões – chamados Wright Mons e Piccard Mons.

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Agora, um estudo feito com base em uma nova análise indica que a superfície ao redor desses dois montes pode ter sofrido influência de atividade criovulcânica bastante recente, o que levanta a possibilidade de que esses vulcões ainda estejam ativos e que a água líquida, ou algo parecido, flua ou tenha fluído há pouco tempo sob a superfície de Plutão.

De acordo com o estudo, publicado na revista Nature Communications na terça-feira (29), isso também significa que provavelmente há mais calor no interior do planeta anão do que os cientistas pensavam anteriormente. E com base em outra pesquisa recente, os pesquisadores acreditam que seu trabalho pode até aumentar a possibilidade de existir vida sob sua superfície.

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Uma imagem da superfície de Plutão captada pela sonda New Horizons em 2015 mostra evidências de potencial criovulcanismo (marcações em azul). Imagem: NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Southwest Research Institute/Isaac Herrera/Kelsi Singer

Wright Mons é um monte de aproximadamente 5 km de altura e cerca de 150 km de largura, enquanto Piccard Mons tem cerca de 7 km de altura e 250 km de largura. Ambos têm depressões extremamente profundas em seus picos, sendo a de Wright Mons quase tão profunda quanto a altura do monte. 

“Não há outras áreas em Plutão que se parecessem com esta região”, disse Kelsi Singer, cientista planetária do Instituto de Pesquisa do Sudoeste em Boulder, no estado norte-americano do Colorado, e principal autor do estudo. “E é totalmente único no sistema solar”.

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Cientistas vão aprofundar estudos sobre os vulcões de gelo de Plutão

Ao contrário de outras regiões do planeta anão, essa área tem poucas ou nenhuma cratera de impacto, indicando que a superfície foi formada, relativamente, há pouco tempo: provavelmente não tem mais de um ou dois bilhões de anos, tendo algumas áreas até menos de 200 milhões de anos, segundo Singer.

De certa forma, os criovulcões são análogos aos vulcões da Terra. Grande parte da superfície de Plutão é feita de gelo e as temperaturas por lá estão muito abaixo do ponto de congelamento da água. Isso significa que a água líquida, ou algo parecido que seja pelo menos parcialmente fluido, seria como o magma na Terra, subindo à superfície após uma erupção e congelando, ou enrijecendo, com o tempo.

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“Provavelmente, não está saindo completamente líquido – é mais como uma coisa lamacenta onde você tem um pouco de líquido e um pouco de gelo, ou pode até ser mais como um sólido fluindo”, disse Singer. “Todos nós sabemos que o gelo pode fluir porque temos geleiras que fluem na Terra”.

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Embora os cientistas não compreendam totalmente como a atividade criovulcânica em Plutão pode funcionar, eles acreditam que ela provavelmente é alimentada pelo calor radiogênico criado pelo decaimento de elementos radioativos no interior do planeta anão.

Os cientistas chamam a atividade geológica como a de Plutão de “tectônica geral”, que ainda pode criar características como falhas nas rochas, embora não possua placas tectônicas.

Esses criovulcões de Plutão exibem algumas semelhanças com os chamados “vulcões em escudo” na Terra, que são vulcões de baixo perfil que se formam a partir do acúmulo constante de fluxos de lava em estruturas arredondadas. 

Alguns vulcões na Terra, e em outros planetas, também têm uma depressão no meio, chamada caldeira, que é formada quando um vulcão recém-erupcionado colapsa no vazio deixado por todo o material que expeliu. 

Ainda há muito que os pesquisadores não sabem sobre os vulcões de gelo de Plutão, como, por exemplo, como eles foram formados e como o criovulcanismo realmente age no planeta anão. 

A ideia de que a água líquida poderia existir sob a superfície de Plutão aumenta as chances da existência de vida ali de praticamente inexistente para um pouco mais plausível, dada outra pesquisa sugerindo que Plutão era quente quando se formou e ainda poderia ter um oceano líquido sob sua superfície gelada. “Acho que é um pouco mais promissor e que pode haver algum calor e água potencialmente líquida mais perto da superfície”, disse Singer. “Mas ainda há alguns grandes desafios para os micróbios que queiram viver em Plutão”.

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