Ao analisar as dietas de macacos-aranha de mãos pretas (Ateles geoffroyi) no Panamá, pesquisadores descobriram que as frutas de palma que esses animais comem regularmente contêm pequenas doses de etanol.

Amostras de urina de dois dos macacos-aranha também revelaram metabólitos específicos do etanol, o que sugere que o álcool não está apenas passando por seus corpos, e sim está sendo absorvido e utilizado de alguma forma.

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Novo estudo reforça a hipótese do macaco bêbado, apresentada por um biólogo norte-americano em 2000. Imagem: Jan Tobolka – Shutterstock

“Pela primeira vez, pudemos mostrar, sem sombra de dúvida, que primatas selvagens, sem interferência humana, consomem frutas contendo etanol”, disse a primatóloga Christina Campbell, da Universidade Estadual da Califórnia, autora da pesquisa, que foi publicada na Royal Society Open Science. “Este é apenas um estudo, e mais precisa ser feito, mas parece que pode haver alguma verdade nessa hipótese de ‘macaco bêbado’”.

A hipótese do macaco bêbado foi apresentada pela primeira vez pelo biólogo da UC Berkeley Robert Dudley, em 2000. Ele afirma que a forte atração que os macacos mostram ao cheiro e ao sabor do etanol é uma vantagem evolutiva que lhes permite caçar frutas maduras, devorando-as antes que outros animais possam chegar até elas.

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Apetite por álcool identificado em nossos ancestrais deixou de ser benéfico em seres humanos

Esse mesmo desejo por etanol existe em nossa própria espécie, mas sem o aproveitamento dos benefícios nutricionais de toda a fruta. Em vez disso, os humanos aprenderam a destilar elementos, e “o outrora vantajoso apetite por álcool” visto em nossos ancestrais primatas tornou-se agora um perigo para o nosso bem-estar.

É uma ideia interessante, mas até agora, as evidências para esta hipótese foram limitadas e principalmente anedóticas. Chimpanzés selvagens (pan troglodytes), por exemplo, foram pegos comendo seiva fermentada de palmeiras, e nessa seiva foram mais tarde encontradas concentrações de etanol de quase 7%. No entanto, não está claro se o etanol em si está atraindo os chimpanzés para a fruta.

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A pesquisa feita no Panamá é a primeira a medir diretamente a ingestão de frutas com teor etílico por primatas. Macacos-aranha em cativeiro já mostraram sensibilidade aos odores de frutas maduras que contêm etanol, mas esse é o primeiro estudo a mostrar o consumo preferencial dessas frutas na natureza.

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De acordo com a pesquisa, macacos-aranha não apenas comem um monte de frutas contendo etanol, como também parecem estar metabolizando os açúcares fermentados. “Os macacos provavelmente estavam consumindo as calorias da fruta com etanol”, diz Campbell. “Eles obteriam mais calorias de frutas fermentadas do que de frutas não fermentadas. Quanto mais calorias, mais energia”.

Uma propensão semelhante também pode existir em humanos. Na verdade, as frutas comidas por macacos-aranha são as mesmas usadas por populações indígenas humanas na América Central e do Sul para fazer chicha, que é uma bebida alcoólica fermentada.

Quando a levedura se alimenta do açúcar, produz álcool, provavelmente como uma maneira de combater outros concorrentes. O composto volátil então flutua pelo ar, atraindo animais como nós para o lanche suculento. Quanto mais frutas fermentadas comemos, mais energia recebemos, e, possivelmente, mais “bêbados” ficamos.

No caso dos macacos-aranha, no entanto, Dudley suspeita que há pouca embriaguez. As frutas parcialmente consumidas que os pesquisadores testaram continham apenas um ou dois por cento do etanol. “Eles provavelmente não estão ficando bêbados, porque suas entranhas estão enchendo antes de atingir níveis de embriaguez”, explica Dudley.

“Mas está proporcionando algum benefício fisiológico. Talvez, também, haja um benefício antimicrobiano dentro dos alimentos que eles estão consumindo, ou a atividade da levedura e os micróbios podem estar pré-digerindo a fruta”.

Macacos e humanos compartilham gene que trabalha a enzima do etanol

Se há alguma vantagem evolutiva para o álcool, transmitida por dezenas de milhões de anos de um ancestral compartilhado entre nós e primatas modernos, isso apareceria no DNA de um animal? Os cientistas dizem que sim. Genes codificados para o metabolismo do etanol são difundidos entre mamíferos que comem frutas e néctar. Na verdade, humanos, chimpanzés, bonobos e gorilas compartilham uma mutação em um gene que melhora uma enzima de etanol em 40 vezes.

Quais benefícios esse gene finalmente dá aos animais ainda precisa ser pesquisado, mas acessar calorias extras provavelmente lhes proporcionou uma vantagem evolutiva em um ambiente onde encontrar calorias requer muito trabalho duro.

“Dado que a seleção positiva nesses genes codificadores para o metabolismo do etanol tem sido substancial entre as espécies de mamíferos que consomem frutas e néctar de forma mais geral, o consumo natural de carboidratos fermentados provavelmente será mais difundido do que se imagina atualmente”, concluem os autores.

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