Uma pesquisa publicada nesta quinta-feira (25) na revista Science Advances indica que a intensa onda de incêndios florestais que castigou a Austrália no verão de 2019 e 2020 provocou uma anomalia na faixa da atmosfera da Terra conhecida como estratosfera, que fica a 50 km de altitude da superfície e abriga a camada de ozônio.

Média modelada de três meses de perturbações na estratosfera da Terra provocadas por incêndios intensos na Austrália entre 2019 e 2020. Imagem: Damany-Pearce, L., Johnson, B., Wells, A. et al.

Segundo o estudo, enormes regiões de deserto e a vida de bilhões de animais foram dizimadas pela fumaça e pelas cinzas provenientes das queimadas ocorridas no período que ficou conhecido como “Verão Negro” no país. A neblina resultante provocou sufocamento em grandes cidades, desencadeou emergências de saúde e escureceu geleiras distantes na Antártica.

Pesquisadores rastrearam como parte dessa biomassa incendiada contribuiu para o maior aquecimento estratosférico em 30 anos, afetando de forma feroz o buraco na camada de ozônio sobre o polo sul do globo.

Combinando dados de satélite com observações em solo do comportamento aerossol em modelos computacionais, uma equipe de pesquisadores liderada por Lilly Damany-Pearce, cientista da Universidade de Exeter (Exon), na Inglaterra, pôde detectar a fumaça que flutuava muito alto na atmosfera.

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De acordo com o estudo, as queimadas consumiram mais de 5,8 milhões de hectares de área e foram de fúria tão intensa que formaram seus próprios sistemas meteorológicos, incluindo tempestades infundidas por fumaça (pirocumulonimbus) que se arrastaram durante dias.

Esses sistemas e seus vórtices bombearam a fumaça para altitudes significativamente altas, com os raios solares aquecendo as partículas escuras e fazendo com que elas subissem cada vez mais, em um processo chamado auto-lofting.

O primeiro vórtice, detectado em 31 de dezembro de 2019, atingiu uma altitude de 16 km. Depois, em 12 de janeiro de 2020, outra pluma foi detectada até 35 km no céu – no meio da estratosfera – persistindo por até 2 meses.

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Durante esse período houve um aumento abrupto da temperatura média global na estratosfera de 0,7°C. Temperaturas anômalas persistiram por quatro meses, e a modelagem climática dos pesquisadores demonstrou que isso não poderia ser explicado não fosse pelos 0,81 teragramas de partículas de fumaça injetadas na estratosfera.

Esse foi o maior pico de temperatura na estratosfera da Terra desde a erupção do Monte Pinatubo, um estratovulcão ativo localizado na ilha Luzon, nas Filipinas, em 1991.

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