Com o aumento das tensões entre Rússia e Estados Unidos depois de Vladimir Putin ameaçar utilizar armas nucleares na guerra da Ucrânia, os russos alteraram, de forma silenciosa a data de sua provável saída da Estação Espacial Internacional (ISS). A declaração foi feita pelo chefe da Roscosmos na última quarta-feira (21).

A quarta foi marcada pelo lançamento da missão Soyuz MS-22, que transportou uma tripulação de dois cosmonautas russos e um astronauta da NASA para a ISS. Na coletiva de imprensa depois do evento, Yuri Borisov, chefe da agência espacial, disse que é “altamente provável” que a Rússia deixe a estação até 2028.

O país nunca deu, de fato, uma data para a saída da ISS. No entanto, nos últimos meses, diversas declarações indicaram uma saída a partir de 2024. O próprio Yuri disse que, daqui a dois anos, os russos já poderiam estar prontos para deixar a estação. 

Agora, ele ainda fala sobre 2024, mas diz que os russos devem depender da estrutura até 2028. “Planejamos [trabalhar na estação] até 2024, e então continuaremos dependendo da condição da ISS. Altamente provável, até 2028”.

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A ISS deve funcionar até 2030, quando seu tempo de vida útil deve chegar ao fim. O projeto, que engloba agências do mundo inteiro, é conduzido principalmente pelos russo e pelos americanos. Declarações da NASA já indicavam o desejo dos EUA de manter a parceria por mais tempo além de 2024.

Entenda como funciona a colaboração na Estação Espacial

É comum dizer que a ISS tem um “lado russo” e um “lado americano” (embora a realidade seja um pouco mais complexa), e astronautas dos dois países são presença constante nas tripulações que se revezam em órbita a cada seis meses.

Além disso, a própria estrutura da ISS garante a cooperação entre seus membros. O “lado russo” depende de painéis solares no “lado americano” para obter energia elétrica, e estes dependem dos russos para, basicamente, manter a estação “no lugar”.

Uma espaçonave Progress, da Rússia, chegando para atracar na Estação Espacial Internacional (ISS). Esses cargueiros também são usados em manobras de reposicionamento do laboratório em órbita. Imagem: NASA

Isso porque, mesmo a mais de 400 km da superfície, ainda há atrito entre a estação e a atmosfera da Terra, o que faz com que a velocidade e a altitude do laboratório orbital sejam constantemente reduzidas. Por isso, são necessárias manobras periódicas para compensar essa “queda”, feitas usando os propulsores das espaçonaves russas que regularmente visitam a estação.

Mesmo acreditando que a Rússia não deixaria o programa, algumas alternativas vêm sendo testadas. Em junho, uma nave Cygnus da norte-americana Northrop Grumman que estava conectada à estação depois de deixar uma carga útil para a tripulação, realizou uma manobra de impulso operacional pela primeira vez, com o intuito de testar essa capacidade funcional até então executada apenas pelas cápsulas Progress, da Rússia.

Além disso, embora os veículos Dragon da SpaceX não tenham propulsores orientados para executar tal manobra, Lueders disse que a empresa está estudando incluir essa “capacidade adicional” em suas cápsulas de carga. 

Segundo Lueders, a NASA estaria olhando para essas capacidades apenas como “flexibilidades operacionais”. No entanto, se a agência tivesse um meio independente de impulsionar a estação e realizar manobras de evasão de detritos, os EUA provavelmente conseguiriam dirigir a estação sem a parceria russa.

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Ocorre que, conforme destaca o site Ars Technica, ninguém na NASA realmente gostaria que isso acontecesse. E um dos pontos principais para essa resistência, segundo Lueders, é que a relação colaborativa entre os países membros da ISS representa um símbolo importante para a cooperação humana em um mundo repleto de conflitos.

“A ISS é uma parceria internacional que foi criada com dependências conjuntas, o que a torna um programa incrível. É um lugar onde vivemos e operamos no espaço, de forma pacífica”, disse ela. “E eu realmente sinto que esta é uma boa mensagem para nós, que estamos operando pacificamente e seguros agora e seguindo em frente. Se a parceria se rompesse [devido às tensões geopolíticas], seria muito triste”.