Você sabe o que aconteceu há 440 anos, no dia 12 de outubro de 1582? Não aconteceu nada, nadinha mesmo. Simplesmente porque esse dia nunca existiu. Na verdade, 10 dias inteiros foram suprimidos do mês de outubro daquele ano. Um mês com apenas 21 dias e muita confusão. E todo esse transtorno foi gerado por conta dos astros.

Quando falamos que astronomia é a primeira da ciências, os calendários são uma prova disso. Em vários lugares distintos do Globo os calendários surgiram há milhares de anos, todos eles baseados em ciclos astronômicos do Sol, da Lua ou dos dois ao mesmo tempo. Dessa forma, a observação dos astros era de fundamental importância para a definição dos calendários. 

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Em Roma, considerada o berço da civilização ocidental, era adotado um calendário lunissolar, ou seja, baseado nos ciclos solares e lunares. Os meses se iniciavam na Lua Nova e os anos, no equinócio de primavera. Cada semana tinha 7 dias e era dominada por uma fase lunar.

Reprodução do Calendário de Anzio (Fasti Antiates) de 84-55 a. C., exposto no Museu do Teatro Romano de Caesaragusta. Imagem: Wikimedia Common

Só que esse calendário era muito problemático principalmente porque os ciclos lunares e solares não se encaixavam. Isso exigia a adição de meses extras, com quantidade variável de dias, para completar o ano. Uma confusão que só foi desfeita no ano 46 antes de Cristo, com a adoção do Calendário Juliano.

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O calendário Juliano adotava um ano de 365 dias e 6 horas, dividido em 12 meses de 30 ou 31 dias, além de fevereiro, com 28, mas que a cada 4 anos, ganhava um dia a mais. Isso resolveu a questão do calendário, mas ainda havia um problema: o ano não tem exatamente 365 dias e 6 horas. Na verdade são 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 46 segundos, o que fazia a duração do ano no calendário juliano, 11 minutos e 14 segundos maior que o ano trópico, ou seja, o tempo que a Terra leva para completar uma volta em torno do Sol. Essa diferença acumulada ao longo dos séculos fez com que o calendário juliano chegasse ao ano de 1582 com um erro de mais de 10 dias. 

Muitos feriados religiosos não têm datas fixas. São definidos em função dos ciclos solares e lunares. A Páscoa, por exemplo, é celebrada no primeiro domingo após a primeira Lua Cheia ocorrida depois do Equinócio de Primavera no Hemisfério Norte. E como os equinócios e solstícios estavam ocorrendo 10 dias antes, esses feriados estavam caindo em épocas completamente diferentes do ano. Alguma coisa precisava ser feita, e foi aí que entrou em cena a principal autoridade do mundo ocidental da época: o Papa Gregório XIII. 

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Escultura de Camillo Rusconi (1658–1728) para a tumba do papa Gregório XIII celebrando a introdução do calendário gregoriano. Imagem: Wikimedia Common

Gregório reuniu um grupo de astrônomos e cientistas para corrigir o calendário juliano. O objetivo era fazer o equinócio da primavera voltar a ocorrer no 21 de março e corrigir o erro de 10 dias existente na época. A comissão preparou uma proposta que foi avaliada por Príncipes e matemáticos e depois de 5 anos de estudos, foi promulgada a bula papal Inter Gravissimas em 1582, instituindo o calendário gregoriano.

Pra corrigir o erro de 11 minutos na duração do ano, o calendário gregoriano definiu que os anos múltiplos de 100 e que não fossem múltiplos de 400, não seriam bissextos , ou seja, não teriam o 29° dia acrescentado em fevereiro. Essa foi a parte fácil. O problema foi a solução adotada para corrigir a data do equinócio de primavera que estava atrasada. 

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Os 10 dias de atraso foram abruptamente retirados do calendário gregoriano. Os dias entre 5 e 14 de outubro de 1582 simplesmente não existiram. As pessoas foram dormir na quinta, 4 de outubro e acordaram na sexta, dia 15. Imaginem a confusão. Teve muita gente que perdeu o próprio aniversário naquele ano!

Calendário de outubro de 1582. O calendário Juliano vigorou até o dia 4 daquele mês. O dia seguinte, quando entrou em vigor o calendário Gregoriano, já era o dia 15. Imagem: Wikimedia Common

Com a ajuda da Astronomia, para medir a duração exata do ano trópico, o calendário gregoriano conseguiu encaixar, com precisão, o nosso calendário ao ciclo solar e provavelmente vai permanecer assim por muitos milênios. 

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E graças à iniciativa de Gregório XIII, e ao seu poder de convencimento, seu calendário foi adotado imediatamente nos principais países católicos da época e, ao longo de 3 séculos, em todo o mundo. E foi assim que entraram para a história o Papa Gregório XIII e os 10 dias que nunca existiram. 

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