Depois de atravessar uma passagem estreita e forrada de areia, o rover Curiosity, da NASA, chegou recentemente à chamada “unidade de rolamento de sulfato”, uma região do Monte Sharp, em Marte, repleta de minerais salgados e que é procurada há muito tempo.

Em 14 de agosto, o rover Curiosity, da NASA, usou seu instrumento Mastcam para capturar o panorama acima enquanto se dirigia ao centro desta cena, uma área que forma o estreito Passe Paraitepuy. Créditos: NASA/JPL-Caltech/MSSS

De acordo com um comunicado da agência, os cientistas supõem que bilhões de anos atrás, esses minerais foram deixados por córregos e lagoas à medida que a água secava. Se tal hipótese estiver correta, eles podem oferecer pistas de como e por que o Planeta Vermelho deixou de ter um clima mais parecido com o da Terra para se tornar o deserto congelado que é hoje.

publicidade

A equipe responsável pelo Curiosity já sabia que os minerais existiam nesse determinado local porque a região foi avistada de cima pelo Mars Reconnaissance Orbiter (MRO), um satélite da NASA que investiga nosso vizinho desde 2005. Do alto, a espaçonave detectou o material anos antes da chegada do rover ao planeta, motivo pelo qual os cientistas estavam ansiosos para que ele pudesse ver tudo de perto.

Mais um registro feito pelo rover Curiosity com sua Mastcam durante sua viagem até um ponto estratégico lotado de minerais salgados. No panorama acima, capturado em 23 de agosto, vê-se uma colina batizada de “Bolívar” e alguns cumes de areia adjacentes. Créditos: NASA/JPL-Caltech/MSSS

E isso não foi nada fácil. Para se ter uma ideia, a missão Curiosity completou, recentemente, 10 anos em Marte, e só agora o explorador robótico conseguiu, finalmente, alcançar esse cobiçado destino.

publicidade

Ao chegar, o rover descobriu uma variedade diversificada de tipos de rochas e sinais de antiga presença de água, entre eles, nódulos texturizados “empipocados” e minerais como sulfato de magnésio (sal de Epsom), sulfato de cálcio (incluindo gesso) e cloreto de sódio (sal de mesa comum).

Uma pedra chamada “Canaima” foi selecionada para ser a 36ª amostra de perfuração da missão – e a escolha não foi tarefa fácil. Segundo o comunicado da NASA, além de critérios científicos, a equipe teve que considerar o hardware do Curiosity.

publicidade
Imagem da 36ª perfuração bem-sucedida do rover Curiosity no Monte Sharp, em uma rocha chamada “Canaima”, feita no dia 3 de outubro. Créditos: NASA/JPL-Caltech/MSSS

Ele tem uma broca percussiva rotativa no final de seu braço de dois metros, que serve para perfurar amostras de rocha para análise. Freios desgastados no braço robótico recentemente levaram a equipe a concluir que algumas rochas mais duras podem exigir muito mais “marteladas” para ser escavada com segurança.

“Como fazemos antes de usar cada broca, limpamos a poeira e, em seguida, cutucamos a superfície superior de Canaima com a broca. A falta de marcas de arranhões ou recuos foi uma indicação de que pode ser difícil de perfurar”, disse a gerente de projetos da missão Curiosity, Kathya Zamora-Garcia, do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da NASA. “Fizemos uma pausa para considerar se isso representava algum risco para o nosso equipamento. Com o novo algoritmo de perfuração, criado para minimizar o uso da percussão, nos sentimos confortáveis em coletar uma amostra de Canaima”.

publicidade

Todo cuidado se faz necessário porque, enquanto rochas pontiagudas e cortantes podem danificar as rodas do rover, a areia pode ser igualmente perigosa, potencialmente fazendo com que ele fique preso se as rodas perderem tração. 

Leia mais:

Coletânea com as 36 perfurações para coleta de amostras feitas em Marte pelo rover Curiosity. Créditos: NASA/JPL-Caltech/MSSS

Embora cientificamente interessante, o terreno mais rochoso do Monte Sharp torna mais difícil encontrar um lugar onde todas as seis rodas do Curiosity estejam em solo estável. E se o rover não estiver estável, os engenheiros correrão o risco de não controlar o braço robótico, caso ele bata em rochas irregulares. “Quanto mais interessantes os resultados científicos ficam, mais obstáculos Marte parece nos oferecer”, disse Elena Amador-French, coordenadora de operações científicas da missão, que gerencia a colaboração entre as equipes de ciência e engenharia.

Já assistiu aos novos vídeos no YouTube do Olhar Digital? Inscreva-se no canal!