Brasileira faz curso de astronauta nos EUA e conta os bastidores

A astrônoma amadora e caçadora de asteroides Lorrane Olivlet esteve no programa Olhar Espacial na última sexta-feira (16) contando tudo sobre o Space Camp
Por Flavia Correia, editado por Lucas Soares 19/12/2022 13h16, atualizada em 19/12/2022 15h36
lorrane-olivlet-space-camp
Imagem: Arquivo pessoal
Compartilhe esta matéria
Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

No início deste mês, a astrônoma amadora brasileira Lorrane Olivlet, a Lolivlet, que já descobriu mais de 50 asteroides em potencial, participou do Space Camp (Acampamento Espacial), nos EUA, uma experiência única e prática para pessoas treinarem como astronautas.

O curso acontece na One Tranquility Base (Uma Base de Tranquilidade, em português), que fica em Huntsville, no estado do Alabama, e abrange diversas áreas científicas, como engenharia, astronáutica e astrofísica

Segundo o site da organização, os participantes “experimentam o futuro das viagens espaciais e treinam para resolver anomalias tecnicamente desafiadoras, a fim de completar sua missão espacial”. Em resumo, o projeto se traduz em um breve treinamento de astronautas, que inclui:

  • Capacitação no 1/6th Gravity Chair e no Multi-Axis Trainer;
  • Construção e lançamento de seu próprio modelo de foguete;
  • Exercícios de team building (preparação focada nas relações interpessoais do trabalho em equipe);
  • Testes de habilidades de engenharia, ao projetar um escudo térmico de proteção;
  • Planejamento de uma missão espacial simulada à Estação Espacial Internacional, à Lua ou a Marte;
  • Contato com histórias inspiradoras sobre pioneiros comerciais, como Elon Musk, fundador da SpaceX.

Poucos dias antes de embarcar, Lorrane deu uma entrevista exclusiva para o Olhar Digital, na qual se dizia extremamente entusiasmada para viver essa aventura. “Eles focam bastante em engenharia, principalmente. Tem a parte que é bem parecida com os treinamentos de astronautas, uma outra parte mais voltada para STEAM (sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia, arte e matemática), com palestras, além de práticas que estou bem empolgada, em que vamos precisar fazer um escudo térmico e construir um minifoguete”.

Já de volta ao Brasil, na sexta-feira (16), Lorrane, que além de astrônoma amadora (apaixonada pelo espaço desde que tinha apenas três anos) é engenheira biomédica, natural de Belo Horizonte (MG), esteve na última edição de 2022 do programa Olhar Espacial para falar tudo sobre essa incrível experiência.

Pessoas de diversos países e idades participar do Space Camp

Lorrane já havia participado do Habitat Marte, única estação análoga ao Planeta Vermelho de todo o Hemisfério Sul, que fica aqui no Brasil, no Rio Grande do Norte. Trata-se de um lugar que simula exatamente todas as condições marcianas, onde os visitantes podem viver experiências similares às de uma verdadeira viagem extraterrestre.

Embora tenha adorado a experiência, assim como outras das quais participou no Brasil, ela diz que nenhuma delas se compara ao Space Camp.

“O Space Camp é muito diferente de tudo o que eu já vi aqui no Brasil. Eles têm uma estrutura que eu acho que vai demorar muito para a gente alcançar”, disse ela. “E é aberto para pessoas de todas as idades. Foi algo que eu fiquei muito surpresa, porque tudo o que eu participo aqui no Brasil, nesta área, geralmente é voltado para um público muito jovem. Lá, não. Só para se ter uma ideia, na minha equipe, eu era a terceira mais nova. As outras pessoas todas eram mais velhas do que eu. E havia pessoas de tudo quanto é país: Nepal, China, Alemanha… E é muito bem feito, eu diria. Tudo funciona numa harmonia muito grande”.

Equipe “Pioneer”, que contou com a presença da brasileira Lorrane Olivlet e mais 11 membros das mais variadas idades e nacionalidades, junto a um dos monitores do curso. Imagem: Space Camp

Treinamento de astronauta tem missões simuladas e microgravidade

Segundo Lorrane, as atividades duravam o dia inteiro, começando às 8h da manhã e terminando às 21h, horário em que eles tinham que dormir. 

Na entrevista, nossa mais famosa caçadora de asteroides contou que participou de duas missões simuladas: uma para a Estação Espacial Internacional (ISS) e a outra para Marte.

“Eles têm uma área semelhante a um Habitat Marte, que é muito bem feita. É tudo como se fosse Marte mesmo. Todo pintado, um design muito legal, os trajes extraveiculares, enfim, não consigo nem explicar”.

https://www.instagram.com/p/CmAETQtvPe_/

Em cada missão simulada, Lorrane assumiu uma função diferente. “Na da ISS, fui Diretora de Missão, ou seja, eu era a pessoa que ‘batia o martelo’ nas decisões. E na outra, eu fui Comandante de Missão. Nas duas, a simulação era completa, com a parte das naves de chegada e tudo mais”.

Ela também revelou que existe uma dinâmica de microgravidade. “A simulação de gravidade reduzida funciona por um sistema parecido com um guindaste, que nos segura a determinada altitude e nós sentimos o corpo mais leve”. 

Uma parte da experiência que merece destaque é o treinamento no giroscópio – dispositivo composto de um disco rígido ou um volante que gira em grande velocidade ao redor de um eixo de revolução e é suspenso de modo a ter liberdade de movimentos. 

Nos treinamentos de astronautas, a pessoa que está no giroscópio utiliza o peso como motor e tem a sensação de “driblar a gravidade”, o que pode provocar náuseas e até perda momentânea de consciência. Não foi o caso de Lorrane.

“Foi engraçado. É algo que dura pouco mais de um minuto. Eu estava achando a experiência tão legal, tão máxima, que não prestava atenção nas perguntas que estavam me fazendo ao mesmo tempo. O bom é que eu não me senti mal, não fiquei enjoada, apenas achei bastante divertido”.

Leia mais:

Principal desafio: o idioma

Entre os preparativos para a aventura, enquanto estava no Brasil, Lorrane resolveu começar a correr, para garantir o condicionamento físico, e aprimorar o inglês, para conseguir se comunicar sem problemas.

Esse, segundo ela, foi o maior desafio. “É muito diferente você conversar com brasileiros em inglês e conversar com pessoas de outras nacionalidades. Eu, que achava que estava preparada nesta parte, confesso que passei um pouquinho de vergonha na conversação. Mas, as pessoas todas são muito solícitas e gentis”.

Isso foi fundamental, por exemplo, para uma das dinâmicas que mais encantaram a participante brasileira: o Café da Manhã com Cientista. Trata-se de um encontro com algum profissional da área, durante o café da manhã, para um bate papo descontraído e, ao mesmo tempo, enriquecedor e informativo.

https://www.instagram.com/p/CmSeDmuvmfU/

Ela conversou com um militar da reserva das Forças Armadas dos EUA especializado em astrofísica que, de forma muito atenciosa, tirou suas dúvidas e deu dicas preciosas para sua formação e carreira.

Apresentado por Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia — APA; membro da SAB — Sociedade Astronômica Brasileira; diretor técnico da BRAMON — Rede Brasileira de Observação de Meteoros — e coordenador regional (Nordeste) do Asteroid Day Brasil, o programa Olhar Espacial é transmitido ao vivo, todas às sextas-feiras, às 21h, pelos canais oficiais do veículo no YouTube, Facebook, Instagram, Twitter, LinkedIn e TikTok.

Conforme dito anteriormente, a edição que contou com a participação da Lolivlet foi a última deste ano. O Olhar Espacial volta em 2023, com convidados sempre incríveis e assuntos cada vez mais interessantes no mundo da astronomia.

Já assistiu aos novos vídeos no YouTube do Olhar Digital? Inscreva-se no canal!

Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.