Em um feito observacional de alta precisão, cientistas usaram uma nova técnica com o Telescópio Espacial James Webb, da NASA, para capturar as sombras da luz das estrelas projetadas pelos anéis finos de Chariklo – o maior asteroide centauro conhecido do Sistema Solar.

Na ocasião, Webb fez seu primeiro registro de uma ocultação estelar, que foi compartilhado pelo Twitter oficial do equipamento nesta quarta-feira (25).

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“Este é o primeiro olhar de Webb sobre uma ocultação estelar (quando um objeto em primeiro plano passa na frente de uma estrela do nosso ponto de vista na Terra)”, diz a publicação. “O objeto em movimento aqui é Chariklo, um pequeno corpo gelado entre Saturno e Urano, e a estrela está no centro”.

Localizado a mais de três bilhões de km de distância além da órbita de Saturno, Chariklo é 250 quilômetros menor que a Terra em diâmetro, e seus anéis orbitam a uma distância de cerca de 400 km do centro do corpo.

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Esses dois finos anéis foram detectados em 2013 por uma equipe liderada pelo astrônomo brasileiro Felipe Braga Ribas, doutor em astronomia e astrofísica pelo Observatório Nacional, no Brasil, e pelo Observatório de Paris, na França. Braga Ribas, por sinal, foi um dos convidados do programa Olhar Espacial em 2021, falando exatamente sobre os anéis de Chariklo.

Participação de Felipe Braga Ribas, descobridor dos anéis de Chariklo, no programa Olhar Espacial de 10 de setembro de 2021. Créditos: Olhar Digital YouTube

Segundo ele, a equipe estava observando uma estrela enquanto Chariklo passava na frente dela, bloqueando a luz estelar, como os astrônomos haviam previsto. Esse fenômeno é chamado de ocultação. Para surpresa da equipe, a estrela apagou e acendeu novamente duas vezes antes de desaparecer atrás de Chariklo, e repetiu o feito depois de ressurgir. 

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Foi aí que os cientistas descobriram que esse piscar era causado pelos dois anéis finos que circundam a rocha – os primeiros já detectados em torno de um objeto pequeno do Sistema Solar (antes dessa descoberta, esse tipo de anel só tinha sido observado em corpos gigantes, como Netuno e Júpiter).

Como James Webb conquistou o feito quase dez anos depois

Em 2022, quase dez anos depois da equipe liderada pelo brasileiro, foi a vez de um pesquisador espanhol tentar uma observação de ocultação estelar com Chariklo. E, para isso, Pablo Santos-Sanz, do Instituto de Astrofísica de Andaluzia em Granada, na Espanha, usou o telescópio James Webb.

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Segundo a NASA, “por notável boa sorte”, a equipe liderada por Santos-Sanz descobriu que o asteroide estava no caminho certo para tal evento de ocultação em outubro, o que tornou possível a primeira observação de ocultação estelar do telescópio de próxima geração lançado no natal de 2021.

Uma curva de luz de ocultação da NIRCam do Webb no comprimento de onda de 1,5 mícrons (F150W) mostra as quedas no brilho da estrela Gaia DR3 6873519665992128512 quando os anéis de Chariklo passaram em frente a ela em 18 de outubro de 2022. Crédito da imagem: NASA, ESA, CSA, Leah Hustak (STScI). Ciência: Pablo Santos-Sanz (IAA/CSIC), Nicolás Morales (IAA/CSIC), Bruno Morgado (UFRJ, ON/MCTI, LIneA)

Eles usaram o instrumento Near-Infrared Camera (NIRCam) do Webb para monitorar de perto a estrela Gaia DR3 6873519665992128512 e observar as quedas reveladoras no brilho indicando que uma ocultação havia ocorrido. 

As sombras produzidas pelos anéis de Chariklo foram claramente detectadas, demonstrando uma nova maneira de usar o telescópio para explorar objetos do Sistema Solar. 

Conforme informado pela agência, a curva de luz de ocultação de Webb, um gráfico do brilho de um objeto ao longo do tempo, revelou que as observações foram bem-sucedidas. Os anéis foram capturados exatamente como previsto. 

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Segundo Santos-Sanz, as curvas de luz de ocultação produzirão uma nova ciência interessante para os anéis de Chariklo. “À medida que nos aprofundamos nos dados, exploraremos se resolvemos de forma limpa os dois anéis. A partir das formas das curvas de luz de ocultação dos anéis, também exploraremos a espessura dos anéis, os tamanhos e cores das partículas e muito mais. Esperamos obter informações sobre por que esse pequeno corpo tem anéis e, talvez, detectar novos anéis mais fracos”.

Os anéis são provavelmente compostos de pequenas partículas de gelo de água misturadas com material escuro, detritos de um corpo gelado que colidiu com Chariklo no passado. 

Essa rocha espacial é muito pequena e fica muito longe para que até mesmo Webb possa visualizar diretamente os anéis separados do corpo principal, de modo que as ocultações são a única ferramenta para caracterizar os anéis por si só.

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