Em dezembro de 2022, o Olhar Digital noticiou um “eclipse” de Marte, que, naquela ocasião, não pôde ser visto de nenhuma parte do Brasil. Na madrugada desta terça-feira (31), o fenômeno (que, na verdade, se chama ocultação lunar) poderá ser acessível para observadores posicionados no extremo oeste do Amazonas e em Roraima.

No entanto, a visibilidade pode ser prejudicada caso haja muita nebulosidade ou poluição luminosa perto da linha do horizonte, já que a ocultação de Marte pela Lua vai ocorrer próximo do horário em que a dupla estará “se pondo”.

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Ocultação lunar de Marte registrada pelo astrofotógrafo Tom Williams, do Reino Unido, em dezembro de 2022. Créditos: Tom Williams via Twitter

Para que a Lua possa passar “na frente” do Planeta Vermelho, sob o ponto de vista da Terra, os dois astros, obviamente, precisam estar pertinho um do outro. 

Essa proximidade, conhecida como conjunção astronômica, se dará por volta da 1h20, pelo horário de Brasília – 0h20 no horário do Amazonas. (A partir deste parágrafo, todos os horários mencionados têm como referência o fuso padrão de Brasília, para entendimento geral; para saber a hora em relação às áreas de onde a ocultação lunar de Marte poderá ser visível, basta diminuir em 1h).

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Junto com a conjunção entre a Lua e Marte, ocorre o chamado appulse, termo que se refere à separação mínima aparente entre dois corpos no céu, de acordo com o guia de astronomia Starwalk Space.

O que diferencia as duas expressões é que, embora o termo “conjunção” também seja utilizado popularmente para representar uma aproximação aparente entre dois corpos, tecnicamente, a conjunção astronômica só ocorre no momento em que os dois objetos compartilham a mesma ascensão reta (coordenada astronômica equivalente à longitude terrestre).

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Para observadores em São Paulo, a dupla estará visível a partir das 14h43. Eles atingirão seu ponto mais alto no céu por volta das 20h, 24° acima do horizonte a norte, e ficarão inacessíveis a partir de 1h10. 

Dependendo do local de onde se observa, os horários podem variar um pouco, e é por isso que a ocultação lunar de Marte não poderá ser vista de todo o país, já que ela ocorrerá um pouco depois desse horário, conforme mencionado acima.

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Segundo o guia astronômico In-The-Sky.org, a Lua estará em magnitude de -12,3, enquanto Marte terá uma taxa de -0,3, ambos na constelação de Touro. Quanto mais brilhante um objeto parece, menor é o valor de sua magnitude (relação inversa). O Sol, por exemplo, que é o objeto mais brilhante do céu, tem magnitude aparente de -27.

Ocultação lunar, o “eclipse” de Marte

Ocultações lunares só são visíveis de uma pequena fração da superfície da Terra. Como a Lua está muito mais perto do nosso planeta do que outros objetos celestes, sua posição no céu difere dependendo da localização exata do observador na Terra devido à sua grande paralaxe (diferença na posição aparente de um objeto em relação a um plano de fundo, tal como visto por observadores em locais distintos ou por um observador em movimento). 

A posição da Lua vista de dois pontos em lados opostos da Terra pode variar em até dois graus, ou quatro vezes o diâmetro da lua cheia. Isso significa que se a Lua estiver alinhada para passar na frente de um objeto específico para um observador posicionado em um lado da Terra, ela aparecerá até dois graus de distância desse objeto do outro lado do globo.

Mapa mostra as regiões do planeta de onde será possível observar a ocultação lunar de Marte. Imagem: In-The-Sky.org

No mapa acima, contornos distintos mostram onde o desaparecimento de Marte é visível (em vermelho) e onde será possível testemunhar seu reaparecimento (em azul). As linhas sólidas exibem onde cada evento deverá ser visível através de binóculos a uma altitude razoável no céu. Os contornos pontilhados, por sua vez, indicam onde cada evento ocorre acima do horizonte, mas pode não ser visível devido ao céu estar muito claro ou a Lua muito perto do horizonte.

Fora dos contornos, a Lua não passa na frente de Marte em nenhum momento, ou está abaixo do horizonte durante a ocultação. 

Apenas um município brasileiro poderá contemplar o fenômeno em sua totalidade. Em Ipixuna (AM), será possível ver o desaparecimento de Marte à 01h06 e o reaparecimento às 01h24 (horário local). Já em outras cidades do Amazonas, como Lábrea, São Gabriel da Cachoeira e Tabatinga, além de Boa Vista, em Roraima, os observadores podem conseguir ver apenas o desaparecimento do planeta.

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Na imagem abaixo, parte integrante do Almanaque Astronômico Brasileiro, de autoria do astrônomo amador Antônio Rosa Campos, podemos ver as informações referentes ao evento – lembrando, mais uma vez, que deve ser levada em consideração a paralaxe da Lua.

Créditos: Almanaque Astronômico Brasileiro 2023

Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia (APA), membro da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB), diretor técnico da Rede Brasileira de Observação de Meteoros (BRAMON) e colunista do Olhar Digital, explica que os horários de desaparecimento e reaparecimento de Marte variam dependendo da localidade. E não só por conta do fuso, mas também pela paralaxe da Lua, que pode influenciar nos horários e na duração do fenômeno.

“Dependendo da localidade, a ocultação inicia mais tarde e termina mais cedo, porque o trajeto que Marte vai fazer por trás da Lua é menor. Para quem estiver na linha central da faixa de visibilidade, a ocultação de Marte pela Lua deverá durar cerca de uma hora e 20 minutos. Já quem estiver no limite sul ou norte dessa faixa, verá apenas por alguns minutos o planeta caminhando sobre a borda da Lua, sem ser totalmente ocultado por ela”, disse Zurita.

Segundo ele, esse caso é semelhante ao que será visto em Ipixuna (onde, como dito, pode ser possível ver o desaparecimento e o reaparecimento de Marte), cidade que está bem próxima do limite sul da faixa de visualização e onde a duração do evento será bem curta.

“Vai ser uma ocultação em que o planeta vai passar bem rente ao polo sul da Lua. Vai desaparecer e reaparecer apenas 18 minutos depois. Resumidamente, os horários mudam mesmo, dependendo da localização do observador, não apenas por uma questão de conversão do fuso, mas principalmente pela posição dos astros no céu do ponto de vista do observador”.

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