Embora tenha sido considerado um sucesso por Elon Musk, dono e CEO da SpaceX, e até rendido elogios da NASA, o lançamento do megafoguete Starship, ocorrido no dia 20 de abril, pode trazer problemas para a empresa.

E isso não apenas em relação aos danos causados pela decolagem na plataforma e entornos na Starbase, a base de lançamento da SpaceX em Boca Chica. Mas, principalmente, aos estragos provocados nas residências próximas e à fauna local, composta também por animais ameaçados de extinção.

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Projetado especialmente para levar pessoas e cargas à Lua e a Marte, o Starship também deve ser usado em uma série de outras tarefas, como lançar a maioria dos satélites de internet Starlink 2.0 de próxima geração da SpaceX à órbita da Terra.

Pouco antes da separação dos estágios, o foguete Starship acionou a autodestruição a 29 km do chão, quando estava caindo, devido a uma falha de pressurização ocorrida a 35 km de altitude. Crédito: SpaceX

Vamos relembrar o episódio, que terminou em uma explosão no ar:

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  • Após longos meses de expectativa, a SpaceX lançou seu megafoguete totalmente reutilizável chamado Starship na última quinta-feira (20);
  • Com 120 metros de altura, o maior veículo espacial já construído na história saiu do chão às 10h34 da manhã (pelo horário de Brasília), a partir da Starbase, a base de lançamento da SpaceX no Texas;
  • No entanto, pouco antes da separação dos estágios, a 35 km de altitude, houve uma falha, forçando o procedimento de autodestruição do foguete, que começou a cair e explodiu no ar a 29 km de distância do solo, cerca de 4 minutos após a decolagem;
  • A SpaceX se referiu ao evento como “rápida desmontagem não programada”;
  • O lançamento estava programado para acontecer três dias antes, mas foi suspenso justamente devido a um problema de congelamento em uma válvula de pressurização;
  • Elon Musk parabenizou a equipe e disse que uma nova tentativa deve ser realizada nos próximos meses;
  • Lideranças da NASA também elogiaram o lançamento do foguete, que será usado em missões do programa Artemis como módulo de pouso na Lua;
  • O episódio está sob investigação da Administração Federal de Aviação (FAA) dos EUA, em meio a alegações de que o lançamento danificou casas e choveu cinzas nos habitats de animais ameaçados de extinção.

Poeira e detritos do chamado teste de voo integrado teriam atingido casas em Port Isabel – uma cidade a cerca de 10 km da plataforma de lançamento – e nas praias de Boca Chica, que são locais de nidificação de animais ameaçados de extinção, como alguns pássaros e tartarugas marinhas.

Dave Cortez, diretor do grupo de defesa ambiental Sierra Club, disse à CNBC que os moradores de Port Isabel relataram janelas quebradas e partículas semelhantes a cinzas cobrindo suas casas, escolas e outras edificações. “O concreto disparou para o oceano, criando estilhaços que arriscavam atingir os tanques de armazenamento de combustível que são esses silos adjacentes à plataforma de lançamento”.

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Diferentemente de outros locais de lançamento de grandes foguetes, as instalações da SpaceX em Boca Chica não dispõem de um sistema de dilúvio, que inunda as plataformas com água ou espuma supressora de ondas de choque, nem de uma vala de chamas para canalizar em segurança os gases de escape.

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Investigação da FAA é prática comum

A investigação de acidentes da FAA é uma prática padrão quando os lançamentos de foguete apresentam problemas. 

Agora, a SpaceX só pode fazer um novo lançamento daquele local se a averiguação concluir que o processo não afeta a segurança pública. 

Como os detritos se espalharam muito mais do que o previsto, o “plano de resposta a anomalias” da FAA também entrou em vigor, o que significa que a SpaceX deve completar “mitigações ambientais” extras antes de solicitar novamente outra licença de lançamento.

No Twitter, Musk disse que a SpaceX começou a trabalhar em uma enorme placa de aço refrigerada a água para passar sob o suporte do lançamento três meses antes do evento, mas que não ficou pronta a tempo. “Parece que podemos estar prontos para lançar novamente em um a dois meses”.

Segundo o bilionário, testes de voo servem justamente para aprimorar os lançamentos. “Este é realmente o tipo de primeiro passo em uma jornada muito longa que exigirá muitos, muitos voos”, disse ele. “Para aqueles que acompanharam a história do Falcon 9 e do Falcon 1, e nossas tentativas de reutilização, acho que pode ter sido perto de 20 tentativas antes de realmente recuperarmos um estágio. Então, foram necessários muitos voos antes que tivéssemos uma reutilização que fosse significativa, em que não precisássemos reconstruir todo o foguete”.

A pergunta que fica é: os moradores locais e a natureza adjacente precisam se submeter a quantas tentativas frustradas até que tudo se ajeite? E, mais: mesmo depois que as coisas estiverem funcionando perfeitamente para a SpaceX, as pessoas e os animais selvagens dos arredores terão sua segurança garantida?

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