Conforme noticiado pelo Olhar Digital, a NASA criou um habitat impresso em 3D para simular a vida em Marte. Há pouco mais de 40 dias, a agência revelou quem foram os quatro voluntários selecionados para passar um ano vivendo na instalação, que fica no Centro Espacial Johnson, em Houston, no Texas.

Com início entre os meses de junho (treinamento) e julho (imersão), a missão representativa da qual o time vai participar faz parte do programa CHAPEA (sigla em inglês para Saúde e Desempenho da Tripulação em Exploração Análoga).

De acordo com um comunicado emitido pela agência, essa é a primeira de três simulações da superfície de Marte planejadas de um ano, durante as quais os membros viverão e trabalharão na estrutura de 160 metros quadrados chamada Mars Dune Alpha.

O habitat simulado de Marte da NASA inclui chão de areia vermelha para simular a paisagem marciana. A área será usada para realizar caminhadas espaciais simuladas durante as missões análogas. Crédito: NASA

“A simulação nos permitirá coletar dados de desempenho cognitivo e físico para nos dar mais informações sobre os impactos potenciais de missões de longa duração a Marte na saúde e no desempenho da tripulação”, disse Grace Douglas, Cientista Líder de Tecnologia Avançada de Alimentos da NASA e pesquisadora principal do CHAPEA. 

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Segundo ela, em última análise, essas informações ajudarão a agência a tomar decisões para projetar e planejar uma missão humana bem-sucedida a Marte.

“Parece um pouco irreal”

Uma das integrantes é a bióloga integrativa Kelly Haston, natural do Canadá, que atua como pesquisadora na Califórnia. Com experiência na construção de modelos de doenças humanas, liderou projetos inovadores baseados em células-tronco derivando vários tipos de células para aplicação em infertilidade, doença hepática e neurodegeneração.

Kelly Haston, bióloga integrativa, será a comandante da primeira missão análoga a Marte do Mars Dune Alpha. Crédito: NASA

Em entrevista à agência AFP de notícias, Haston confessou ainda estar um pouco incrédula. “Para ser sincera, isso ainda me parece um pouco irreal”, disse ela, que tem mestrado em Endocrinologia e doutorado em ciências biomédicas, cuja tese combinou abordagens baseadas em animais e células para descobrir defeitos biológicos associados à infertilidade. Já seu trabalho de pós-doutorado se concentrou na esclerose lateral amiotrófica.

Durante a missão análoga, a canadense de 52 anos assumirá a função de comandante, ao lado dos companheiros Ross Brockwell (engenheiro de voo), Nathan Jones (médico) e Alyssa Shannon (enfermeira, oficial de ciência). A equipe conta ainda com uma tripulação de apoio composta por dois membros: Trevor Clark (engenheiro aeroespacial) e Anca Selariu (microbiologista).

Na fileira de cima, da esq. para a dir.: Kelly Haston, Ross Brockwell e Nathan Jones. Na fileira de baixo, da esq. para a dir.: Alyssa Shannon, Trevor Clark e Anca Selariu. Créditos: NASA

Todos eles já se conheceram, e a integração foi bastante satisfatória, segundo Haston. “Nós realmente nos entendemos muito bem. Ver como nos tornaremos um grupo unido e bem-sucedido é uma das partes mais emocionantes da missão”.

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Simulação de desafios das futuras missões humanas a Marte

Quando se inscreveu para participar do projeto, quase um ano antes de ter seu nome confirmado como membro, ela visitou o local. “Surpreendentemente, você tem a sensação de que é espaçoso, uma vez lá dentro. Há até um espaço sideral”.

Lá, os participantes vão simular os desafios das futuras missões humanas a Marte, como limitações de recursos, falhas de equipamentos, atrasos na comunicação e outros estressores ambientais.

Para reproduzir de forma fidedigna o ambiente marciano, o lugar é coberto com areia vermelha e não oferece ar livre. Uma das atividades mais aguardadas por Haston é a simulação de caminhadas espaciais. “Possivelmente, é o que mais quero fazer”, revelou a cientista.

Embora nunca tenha sonhado em ir para Marte, algo fundamental motivou a bióloga a tentar uma vaga no programa: a ciência. “Isso está de acordo com muitos dos meus objetivos na vida em explorar diferentes caminhos de pesquisa e ciência”. Além disso, ela gosta da ideia de fazer parte das cobaias para uma “experiência que pode avançar a exploração espacial”.

Distância da família será maior dificuldade

O que mais aflige Haston em passar tanto tempo imersa nessa experiência é a falta do companheiro e da família. Nenhum dos membros da missão poderá se comunicar com o mundo externo, a não ser por e-mail ou por vídeo.

Tirando essa inconveniência, e o fato de ficar tanto tempo sem passear e ir para a serra, de resto, a bióloga espera aproveitar intensamente a oportunidade, conforme fez em experiências anteriores.

Um exemplo foi uma viagem científica que ela fez para a África, onde estudou as características genéticas das rãs por vários meses – dormindo em um carro ou em uma barraca, com outras quatro pessoas e sem celular.

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