Um artigo disponibilizado no servidor de pré-impressão PsyArXiv na última semana, atualmente aguardando revisão por pares, descreve uma pesquisa feita para descobrir como se comunicava o ancestral mais próximo do homem moderno – ou seja, qual era a língua falada pelos neandertais.

“Os neandertais quase certamente falavam línguas que eram bastante parecidas com os nossos idiomas, mas aparentemente menos complexas estruturalmente e menos funcionalmente flexíveis”, diz o autor principal do estudo, Antonio Benítez-Burraco, linguista da Universidade de Sevilha, na Espanha.

publicidade

Essa conclusão é o resultado de uma análise multidisciplinar das capacidades de fala dos humanos antigos, combinando evidências anatômicas, socioculturais, cognitivas, ambientais e genéticas.

Crânio de neandertal descoberto em 1909 na França. Forma da cavidade craniana neandertal indica um cérebro pequeno e menos “globular” que o nosso, sugerindo comunicação limitada. Crédito: Puwadol Jaturawutthichai – Shutterstock

Segundo o estudo, o trato vocal neandertal é altamente semelhante ao nosso, sugerindo que eles eram capazes de produzir a maioria dos mesmos sons que nós produzimos. Da mesma forma, sua audição era semelhante à dos humanos modernos, o que indica que eles possuíam o sistema necessário para uma comunicação vocal complexa.

publicidade

No entanto, a forma da cavidade craniana neandertal indica que seus cérebros eram menos “globulares” do que os nossos, o que significa que o tálamo – uma região fortemente envolvida no processamento da linguagem – pode ter sido menos proeminente. 

Isso, por sua vez, levou à especulação de que os neandertais eram menos capazes de “pensamento intermodal” e, portanto, não poderiam ter a nossa capacidade de criar estruturas linguísticas complexas combinando diferentes conceitos.

publicidade

Além disso, a relativa simplicidade das ferramentas neandertais já descobertas sugere que eles não compartilhavam nossa capacidade de “pensamento hierárquico” e, portanto, não conseguiam construir frases complicadas. 

Leia mais:

publicidade

“Especulação” sobre suposta língua dos neandertais

De acordo com Benítez-Burraco, todas essas restrições cognitivas provavelmente limitam as capacidades linguísticas dos neandertais. “No mínimo, pode-se especular que as línguas neandertais poderiam ter apresentado uma sintaxe menos complexa, um número reduzido de categorias funcionais (como determinantes ou conjunções) e sons menos distintivos”, afirma. “Aparentemente, essas linguagens também podem ter sido menos capazes de transmitir significados proposicionais sofisticados”.

O pesquisador diz ainda que os “ambientes frios, secos e abertos” em que os neandertais viviam podem ter incentivado um “rico consonantismo”. Essa suposição baseia-se em associações conhecidas entre ambiente e linguagem, segundo as quais temperaturas frias “desfavorecem o uso do tom para transmitir informações linguísticas”, enquanto a secura “desfavorece os sons vocálicos”.

“Necessário se faz dizer que esta é uma representação muito grosseira e altamente especulativa de uma suposta língua neandertal”, ressalta Benítez-Burraco. Conforme destaca o site IFL Science, pela própria admissão do autor, é improvável saber ao certo como nossos antigos parentes falavam. 

Já assistiu aos novos vídeos no YouTube do Olhar Digital? Inscreva-se no canal!