É possível encontrar de tudo em cavernas. De ferramentas neandertais reveladoras, figuras enigmáticas, arco-íris subterrâneo e formas desconhecidas de vida até “soldados geológicos”, alguns dos maiores tesouros da ciência foram descobertos em grutas rochosas. Também foi em uma delas, no Marrocos, que arqueólogos escavaram os ossos humanos mais antigos de que se tem notícia.

A incrível descoberta foi feita em 2017 em Jebel Irhoud, no oeste do país, a cerca de 50 km a sudeste da cidade portuária de Safi. Esse é um sítio arqueológico conhecido desde a década de 1960, que já rendeu uma rica oferta de ferramentas antigas de pedra, ossos e outras relíquias.

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Um projeto de escavação que começou em 2004 levou à descoberta de 16 fósseis de Homo sapiens, entre dentes, crânios e ossos longos de pelo menos cinco indivíduos. Dentro dos mesmos depósitos também havia ossos de animais, principalmente de gazela, e ferramentas.

Usando uma técnica sofisticada chamada datação por termoluminescência, que permite estabelecer uma cronologia clara para os achados, os cientistas determinaram que os itens datavam da Idade da Pedra Média – uma descoberta que revolucionou o estudo da evolução humana.

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Atualmente em exposição no Museu de História Natural Smithsonian, o fóssil humano mais antigo do mundo tem cerca de 300 mil anos. Crédito: Ryan Somma sob a licença Creative Commons

“Isso é muito mais antigo do que qualquer outra coisa na África que poderíamos relacionar com nossa espécie”, disse o professor líder da equipe, Jean-Jacques Hublin, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, ao site IFLScience, na ocasião da publicação dos dois artigos que relatam a pesquisa na revista Nature.

À luz desta nova data, com 300 mil anos, convenceu-nos de que este material que apresentamos é a própria raiz da nossa espécie. O Homo sapiens mais antigo já encontrado na África.

Jean-Jacques Hublin, pesquisador do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva

Berço dos ossos humanos mais antigos do mundo, África seria o “Jardim do Éden”

No primeiro artigo, Hublin e sua equipe descreveram como a morfologia dos ossos fossilizados se alinhava com a dos humanos modernos. Nesta reconstrução composta do crânio de um desses indivíduos antigos, é possível ver claramente que eles teriam uma forma de rosto distintamente humana, embora a caixa craniana, em azul, seja mais semelhante à de hominídeos anteriores.

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Pela reconstrução digital percebe-se que os indivíduos encontrados no Marrocos tinham o formato de crânio distintamente humano, embora a caixa craniana, em azul, seja mais semelhante à de hominídeos anteriores. Crédito da imagem: Philipp Gunz, MPI EVA Leipzig (CC BY-SA 2.0)Crédito da imagem: Philipp Gunz, MPI EVA Leipzig (CC BY-SA 2.0)

Isso sugere que a evolução cerebral continuou dentro da linhagem do Homo sapiens, com uma série de saltos genéticos eventualmente permitindo que nossos antepassados desenvolvessem funções cerebrais e estruturas diferentes das de nossos primos extintos.

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O segundo artigo detalhou a datação dos fósseis. Um fragmento de crânio datado de 260 mil anos descoberto anteriormente na África do Sul havia sido interpretado como pertencente a um indivíduo primitivo do Homo sapiens. Na comparação, ele correspondia às características dos novos achados no Marrocos.

Combinando esses resultados com outras evidências fósseis da Etiópia, os cientistas concluíram que havia motivos para suspeitar que a história evolutiva de nossa espécie poderia abranger todo o continente africano. Como disse Hublin, “se há um Jardim do Éden, é a África”.

Desde as publicações da pesquisa de Hublin, muito mais já foi compreendido sobre como os humanos modernos surgiram e a potencial sobreposição entre o Homo sapiens primitivo e alguns de nossos ancestrais extintos, como os neandertais, denisovanos e o enigmático Homo naledi. E, todos os dias, surgem novas descobertas sobre a evolução da nossa espécie. 

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