Um artigo científico publicado segunda-feira (4) na revista Nature Ecology and Evolution diz que as mudanças climáticas podem agravar os efeitos da urbanização sobre os mamíferos selvagens. Segundo a pesquisa, os impactos sobre os animais são mais críticos em locais mais quentes e com menos vegetação do que em locais mais frios e verdes.

“À medida que nosso clima aquece, o calor de nossas cidades é algo que continuará a ser um desafio para nós e para a vida selvagem”, disse Jeffrey Haight, pesquisador de pós-doutorado em ecologia espacial urbana na Universidade Estadual do Arizona, EUA, e autor principal do estudo.

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A equipe liderada por Haight examinou fotos tiradas por câmeras de vida selvagem em 725 pontos de 20 cidades norte-americanas participantes do projeto Urban Wildlife Information Network, um esforço contínuo para coletar dados sobre a biodiversidade urbana. Em cada uma delas, as câmeras foram implantadas em locais mais urbanos (como rodovias e aeroportos) e áreas mais naturais, como parques e trilhas.

Uma jovem onça parda (Puma concolor) no Passo Sepulveda, acima de Los Angeles, Califórnia. Crédito: Joana Turner

Diversidade de mamíferos nativos é menor em cidades quentes

Ao examinar as imagens, os pesquisadores detectaram um total de 37 espécies de mamíferos nativos, como guaxinins, esquilos, coelhos, raposas, pumas e veados.

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Eles perceberam, por exemplo, que a diversidade de mamíferos caiu mais acentuadamente na quente Los Angeles do que na mais fria Salt Lake City. 

Além disso, embora Sanford, na Flórida, e Phoenix, no Arizona, sejam igualmente quentes, a primeira tem muito mais vegetação do que a segunda, sendo assim, as áreas urbanas de Sanford suportavam comunidades de mamíferos mais diversas do que as áreas igualmente urbanas de Phoenix.

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Um coelho-do-deserto (Sylvilagus audubonii) fotografado em Phoenix, Arizona. Créditos: Jeffrey Haight e Jesse Lewis

Os pesquisadores ainda não conseguem dizer o que sustenta esses padrões, mas os grandes centros urbanos são conhecidos por reter o calor, o que torna essas localidades mais quentes do que áreas menos desenvolvidas próximas. Cidades mais verdes também tendem a ser mais úmidas, o que pode significar que outros recursos, como a água, são mais fáceis de encontrar, segundo Haight.

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Animais maiores são mais impactados negativamente que os menores

O estudo também descobriu que animais de maior porte, como pumas e alces, são mais afetados negativamente pela urbanização do que os menores. Isso pode ser porque criaturas maiores exigem mais espaço para vagar. “Embora haja muito habitat dentro das cidades, muitas vezes é bastante fragmentado”, disse Haight. “Os humanos também podem ser menos tolerantes com animais de grande porte que vagam pelas cidades”, acrescentou.

Segundo o jornal The New York Times, o estudo apresentou limitações. As câmeras não são igualmente boas em detectar todas as espécies, por exemplo, e os cientistas só analisaram fotos de cidades norte-americanas no verão – diferentes padrões podem surgir em outros lugares ou estações.

A pesquisa destaca a maneira pela qual as mudanças impulsionadas pelo homem no ambiente podem ter efeitos compostos. Também aponta possíveis soluções, sugerindo que talvez cidades quentes e estéreis possam ajudar a proteger seus residentes animais fornecendo vegetação, água e lugares onde a vida selvagem pode escapar do calor.

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