Em uma jornada que parece tirada de obras de ficção científica, as missões de exploração à Lua estão tornando a construção de uma estação espacial lunar mais próxima da realidade. Os cientistas têm especial atenção voltada para os potenciais depósitos de gelo em regiões permanentemente sombreadas, cruciais para criar uma infraestrutura sustentável por lá.

Recentemente, a Índia marcou um feito significativo com o pouso do módulo Chandrayaan-3 no polo sul lunar, região suspeita de conter gelo. Esse pouso não apenas representou um grande feito para o país, como também para a comunidade científica global.

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As medições dos instrumentos a bordo do módulo de pouso Vikram e seu rover Pragyan, equipamentos da missão Chandrayaan-3, ofereceram aos cientistas planetários uma visão mais próxima das áreas lunares com maior probabilidade de abrigar gelo. Estudos anteriores indicam a presença de gelo em algumas regiões permanentemente sombreadas, mas ainda há incertezas sobre sua quantidade, distribuição e forma.

Algumas crateras escuras na Lua, indicadas em azul na imagem acima, nunca recebem luz. Os cientistas acreditam que algumas dessas regiões permanentemente sombreadas podem conter gelo. (Crédito da imagem: Goddard Space Flight Center da NASA)

No Laboratório de Física Atmosférica e Espacial (LASP), da Universidade do Colorado-Boulder, nos EUA, uma equipe busca compreender a origem da água na Lua. Colisões de cometas ou asteroides, atividade vulcânica e influência do vento solar estão entre as possíveis fontes. Como cada evento deixa uma marca química única, é possível rastrear a água até sua fonte.

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Eles usam dados do Lunar Reconnaissance Orbiter (LRO), da NASA, que passou os últimos 14 anos observando a Lua a partir da órbita. Suas imagens ajudam a investigar a distribuição, forma e abundância de água nos polos lunares.

Enxofre é elemento chave para encontrar gelo lunar

Elementos voláteis, como o enxofre, são peças chave nessa investigação, já que sua presença pode apontar para a origem do gelo lunar. Espera-se encontrar enxofre em maiores quantidades se o gelo foi resultado da atividade vulcânica, pois esse elemento é mais prevalente nesse cenário.

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A temperatura é outra peça do quebra-cabeça: a análise das temperaturas registradas pelo Chandrayaan-3 pode ajudar a compreender onde esses elementos voláteis podem se acumular. As medições do módulo podem testar modelos de estabilidade volátil e revelar quando o enxofre pode ter se acumulado na área de pouso.

Embora não tenha pousado em uma região sombreada, a missão detectou enxofre na superfície lunar, o que intriga os cientistas, pois pode ser um indício da fonte de água.

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Missões cooperativas são essenciais para presença humana na Lua

Essas abordagens são apenas o início de uma série de missões dedicadas a encontrar gelo na Lua. A NASA planeja enviar várias espaçonaves, landers e rovers neste sentido já a partir do fim deste ano, como parte do programa Serviço Comercial de Carga Útil Lunar. Esses avanços são fundamentais para o Programa Artemis, que visa enviar astronautas para investigar o gelo lunar em futuras missões tripuladas.

Além disso, o desenvolvimento de tecnologias como a câmera Sistema Compacto de Imagens Infravermelhas Lunares (L-CIRiS, na sigla em inglês) promete aprofundar os estudos sobre a superfície lunar, medindo temperatura e analisando a composição. Ferramentas como essa serão cruciais para identificar locais propícios para uma estação lunar sustentável, servindo a missões de longo prazo.

A colaboração entre diferentes agências espaciais, como a NASA e a Organização Indiana de Pesquisa Espacial (ISRO), é essencial para uma presença humana duradoura na Lua. Essa cooperação promete ser o alicerce de futuras explorações lunares e, se tudo der certo, da construção de uma estação espacial na superfície lunar.