Uma galáxia distante, chamada B2 0402+379, localizada a 750 milhões de anos-luz da Terra, revelou um espetáculo cósmico notável ao ser observada por pesquisadores da Universidade de Stanford, nos EUA: um par de buracos negros supermassivos, pesando juntos 28 bilhões de vezes a massa do Sol. 

Embora existam buracos negros individuais com mais massa, essa descoberta representa o sistema binário mais pesado já identificado pelos cientistas.

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Os monstros cósmicos recém-revelados intrigam os astrônomos devido às suas características únicas, oferecendo pistas valiosas sobre o processo misterioso de crescimento desses objetos para tamanhos gigantescos. Isso porque, enquanto buracos negros menores se formam a partir de estrelas colapsadas, a transformação destes em supermassivos ainda é um enigma.

Uma impressão artística de um buraco negro supermassivo binário na galáxia elíptica B2 0402+379. Crédito da imagem: NOIRLab / NSF / AURA / J. daSilva / M. Zamani.

Problema final do parsec

A teoria sugere que buracos negros em pares podem perder seu momento orbital à medida que se aproximam, transferindo essa energia para estrelas próximas. No entanto, há um desafio conhecido como o “problema final do parsec”, no qual a perda de impulso estabiliza à medida que a distância orbital diminui, deixando-os presos em uma órbita estável.

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O artigo que descreve a descoberta do monstro binário na galáxia B2 0402+379, publicado recentemente no periódico científico The Astrophysical Journal, cujo autor principal é o astrofísico Tirth Surti, diz que esse sistema apresenta indícios do referido problema. 

Dados coletados pelo Telescópio Gemini do Norte, em Mauna Kea, no Havaí, foram analisados cuidadosamente pela equipe de Surti, que calculou as propriedades e o comportamento dos dois objetos.

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Os dados da pesquisa foram coleatdos pelo Espectrógrafo Multi-Objetos do Telescópio Gemini do Norte, no Havaí. Crédito: GMOS | Gemini Observatory

Os cientistas descobriram que a galáxia que os hospeda é o “fóssil” de um aglomerado de galáxias. Essas galáxias penduradas eventualmente se juntaram e se tornaram B2 0402+379. Então, o buraco negro supermassivo binário é o que resta do aglomerado de buracos negros que caiu no centro galáctico e permaneceu lá.

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Os dois monstros cósmicos da galáxia B2 0402+379 são separados por 7,3 parsecs, ou cerca de 24 anos-luz, com um decaimento orbital que parece ter estagnado há aproximadamente três milhões de anos. Essa estabilidade levanta questões intrigantes sobre a interação entre buracos negros supermassivos e as estrelas ao redor. 

A equipe acredita que o decaimento orbital anterior do binário ejetou tantas estrelas das proximidades que simplesmente agora não há mais nenhuma para a qual possam transferir seu momento orbital. Eles estão muito bem presos, por enquanto.

Buracos negros não devem permanecer estáveis para sempre

O astrofísico Roger Romani, da Universidade Stanford, destaca a peculiaridade do caso, observando que, geralmente, galáxias com pares de buracos negros mais leves se unem mais rapidamente, enquanto o binário em B2 0402+379, devido à sua grande massa, necessitou de mais tempo para essa junção.

O futuro desse binário supermassivo permanece incerto. Embora pareça estável atualmente, a possível injeção de material após fusões galácticas futuras poderia desencadear mudanças. No entanto, dada a fusão prévia das galáxias que formaram B2 0402+379, essa opção parece improvável. Outra possibilidade está na existência de material dentro da galáxia que poderia influenciar a união paralisada dos buracos negros supermassivos.

A equipe de pesquisa espera explorar o núcleo da B2 0402+379 para avaliar a presença de gás, fornecendo informações cruciais sobre o destino desse curioso par de buracos negros.