Um artigo publicado nesta terça-feira (26) na revista Astronomy & Astrophysics relata a descoberta dos menores “terremotos estelares” já observados. Os eventos aconteceram na estrela anã laranja (ou anã K) Epsilon Indi (ε Indi), que fica a apenas 11,9 anos-luz do Sistema Solar.

Uma equipa internacional, liderada pelo pesquisador Tiago Campante, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), em Lisboa, Portugal, estudou a referida estrela com o espectrógrafo ESPRESSO, montado no Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul (ESO), detectando os pequenos “starquakes”.

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Representação artística de ondas sonoras com diferentes frequências, viajando através das camadas internas de uma estrela. Crédito: Tania Cunha (Planetário do Porto – Centro Ciência Viva)/Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço)

O que são “terremotos estelares”? 

Para entender o que são os “terremotos estelares”, precisamos falar sobre asterosismologia, uma técnica que estuda as oscilações em estrelas. Assim como os terremotos fornecem informações sobre o interior da Terra, essas oscilações estelares nos dão pistas sobre o que está acontecendo dentro das estrelas. 

Surpreendentemente, as oscilações detectadas na estrela Epsilon Indi  foram incrivelmente pequenas, com uma amplitude de apenas 2,6 centímetros por segundo, o equivalente a cerca de 14% da amplitude das oscilações no Sol. Essas medições são tão precisas que a velocidade detectada é mais lenta do que a velocidade média de uma preguiça.

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Campante enfatiza que essa detecção é uma verdadeira façanha tecnológica, abrindo um novo campo de estudo na observação de estrelas frias como Epsilon Indi.

Mas por que essas observações são tão importantes? Segundo Campante, além de nos ajudarem a compreender melhor as estrelas, essas observações têm implicações significativas para resolver um mistério de longa data na astronomia: a relação entre a massa e o diâmetro das estrelas anãs frias. 

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Em comunicado, a especialista Margarida Cunha, também do IA, diz que essas detecções podem ser cruciais para identificar lacunas nos modelos estelares atuais e aprimorá-los.

Infográfico compara a estrela laranja (anã K) ε Indi com o Sol. Crédito: Paulo Pereira (Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço)

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Além disso, os “terremotos estelares” têm implicações importantes para o futuro da exploração espacial. Eles podem ajudar no planejamento do telescópio espacial PLATO, da Agência Espacial Europeia (ESA), que está programado para ser lançado em 2026. As amplitudes de oscilação medidas neste estudo podem ser convertidas em amplitudes na fotometria por esse equipamento, sendo esta uma informação fundamental para ajudar a prever com precisão o rendimento sísmico do observatório.

O estudo das oscilações estelares também promete fornecer mais informações sobre a física complexa das camadas superficiais das estrelas anãs K, que são mais frias e ativas que o Sol.

Escolha do espectrógrafo ESPRESSO

E por que o ESPRESSO foi escolhido para esta pesquisa? Os autores disseram que esse espectrógrafo foi desenvolvido por um consórcio internacional com objetivos específicos, incluindo a detecção e caracterização de planetas orbitando outras estrelas. Esse resultado destaca o potencial do ESPRESSO para investigações científicas avançadas.

As estrelas anãs laranjas, como Epsilon Indi, tornaram-se alvos importantes na busca por mundos habitáveis e vida extraterrestre, devido à sua longa vida útil. A precisão alcançada pela asterosismologia nesta pesquisa pode ser crucial para uma caracterização mais detalhada dessas estrelas e de seus sistemas planetários.

Para Monteiro, a estrela Epsilon Indi promete ser uma janela com vistas brilhantes para o futuro da astronomia.