Em tempos de fake news e, principalmente, nesse momento de pandemia, é sempre bom lembrar que vacinas não causam autismo. Essa teoria é comprovadamente falsa. Aproveitando que nesta sexta-feira (2) é celebrado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, o Olhar Digital esclarece como surgiu essa história e por que ela não passa de uma lenda.

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As redes sociais, como o Whatsapp, ajudam a impulsionar notícias falsas.
Imagem: rafapress/Shutterstock

Em 1998, um estudo publicado pela revista científica The Lancet, apontou uma correlação entre a vacina tríplice viral e o autismo. Somente 22 anos depois, em 2020, a revista se retratou sobre a investigação e retirou o artigo do ar, após o British Medical Journal (BMJ) classificar a constatação como “falsificação elaborada”.

Andrew Wakefield, médico britânico responsável pelo controverso artigo, foi obrigado a se retratar por seus erros metodológicos. Mas, o estrago já estava feito e ganhou grandes proporções.

Houve uma queda expressiva na vacinação no Reino Unido, que quase levou a uma grave crise de saúde no país. Muitos pais americanos se recusaram a vacinar seus filhos, o que contribuiu para um aumento direto de casos de sarampo nos EUA. O Brasil, que chegou a erradicar a doença graças às campanhas de imunização, voltou a registrar casos em 2019.

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Agora, com a Covid-19 se alastrando pelo mundo há mais de um ano, o movimento antivacina inspirado na ideia de Wakefield, e que ganhou impulso graças às redes sociais, volta a ameaçar a saúde global. No Brasil, 17% das pessoas entrevistadas pelo Datafolha, em janeiro, afirmaram que não pretendiam se imunizar contra a doença.

A pesquisa mais recente, realizada em março, já apontou queda no índice: agora, são 9% os contrários à vacina. Na Europa, levantamento do Our World in Data aponta que 37% dos franceses disseram que definitivamente ou muito provavelmente, não devem se vacinar. O percentual é de 23% na Alemanha, 17% na Holanda, 14% no Reino Unido e 12% na Itália. Nos EUA, 26% dos entrevistados são contra a vacina.

Médico que relacionou a tríplice viral com autismo em pesquisa científica teve registro cassado. Nenhuma vacina causa autismo. / AndreyPopov-Istockphoto

Inexatidão e falta de ética

Em 2010, o Conselho Médico Geral do Reino Unido (CMC) afirmou que Andrew Wakefield agiu de forma desonesta, enganosa e irresponsável. O médico perdeu seu registro, sendo impedido de praticar a profissão, o que não teria acontecido se a conclusão do estudo fosse verdadeira.

De acordo com o CMC, alguns elementos do artigo eram inexatos, e seus métodos de pesquisa pouco éticos. Wakefield utilizou uma amostragem de apenas 12 crianças, aleatoriamente, numa festa de aniversário infantil: um número muito baixo e uma circunstância inadequada para qualquer afirmação grave como a que ele fez.

Estudo realizado na Dinamarca é considerado o mais completo sobre o tema. A pesquisa comprovou que não há qualquer relação entre a tríplice viral e o autismo. Pesquisadores do Instituto Serum Statens acompanharam, até 2013, a evolução de cerca de 660 mil crianças nascidas entre 1999 e 2010.

A conclusão foi de que não houve aumento na incidência de autismo entre os vacinados. Durante o período, apenas 6.517 crianças foram identificadas com o transtorno do espectro do autismo. Ou seja, a cada 100 mil habitantes, menos de 130 receberam esse diagnóstico. E, dessas, não houve diferença alguma entre as que foram e as que não foram imunizadas. Além disso, no caso das que receberam a vacina, não foi identificado um aumento no risco.

O Comitê de Revisão de Segurança de Imunização do Instituto de Medicina dos EUA catalogou todos os artigos científicos publicados e não publicados sobre o tema. O relatório, com mais de 200 páginas, refutou completamente a teoria de Wakefield, demonstrando não haver qualquer relação entre vacinação e autismo.

Fontes: Exame / El País