Os testes bem sucedidos feitos com o yuan digital consolidam a “nova” moeda chinesa como um grande acerto do país asiático — não à toa, o projeto foi responsável por tornar a China a primeira potência a criar sua própria moeda digital. Mas apesar de existirem diversos pontos que podem (e devem) ser seguidos por outras nações, é preciso ressaltar as consequências que o yuan digital pode trazer para o mercado global.

Basicamente, o yuan digital é a versão da moeda chinesa tradicional implantada em um blockchain — tecnologia responsável por sustentar as criptomoedas. Ele foi criado com o intuito de eliminar o dinheiro físico no país, já que cartões de crédito, carteiras virtuais e pagamentos contactless têm tornado os papéis obsoletos.

Os testes com a nova moeda da China tiveram início em 2020. Desde então, o Banco Popular do país asiático tem distribuído o yuan digital e carteiras virtuais em algumas regiões para testar o funcionamento da moeda, bem como monitorar a adesão de sua população. Tem dado certo.

Tanto que já existem empresas como a JD.com que pagam parte de seus funcionários com a moeda digital. Recentemente, a China anunciou um piloto na cidade de Suzhou, perto de Xangai, em que distribuiu algumas quantias de yuan digital e carteiras virtuais para 181 mil consumidores gastarem nas lojas participantes do tradicional Festival do Barco do Dragão, ocorrido entre os dias 1° e 5 de maio.

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A última rodada de testes, no entanto, promete ser dez vezes maior do que os pilotos feitos no ano passado. Ao mesmo tempo em que testa a eficácia do yuan digital na fronteira entre Hong Kong e Shenzhen, a China trabalha no desenvolvimento de uma plataforma — ao lado de Tailândia, Emirados Árabes Unidos e o Banco de Compensações Internacionais — para tornar a moeda viável em níveis internacionais.

Representação do yuan digital
China trabalha para expandir o alcance da moeda digital. Foto: RHJPhtotoandilustration/Shutterstock

Caso as metas sejam cumpridas com sucesso, a nova moeda chinesa deverá ser totalmente implementada em uma cadeia de blocos autorizada — um fato inédito para moedas criadas pelo seu próprio país. Apesar de não ser estipulado nenhum prazo, há uma expectativa de que um lançamento nacional aconteça até daqui um ano.

Vantagens

Há uma série de fatores que explicam a criação do yuan digital. A primeira delas é que as transações com as moedas digitais contornam a necessidade de bancos para liquidar as operações. Até por isso, não há taxa de serviço.

Outro ponto é a questão da velocidade dos pagamentos. Embora outras formas de pagamento utilizadas no país como Alipay ou WeChat também liquidem as transações de formas rápidas, há relatos de que os bancos envolvidos nas operações demoram horas ou mesmo dias para efetuarem a liquidação.

Além disso, por ser apoiado pelo governo, a emissão de yuan digital é igual à emissão de dinheiro em espécie. Isso não só traz mais segurança como permite ao governo um melhor controle sobre o suprimento de suas finanças.

O último ponto é que a medida se alinha à atualidade do universo das criptomoedas. Não à toa, o projeto fez com que a China desbancasse o Federal Reserve (EUA), o Banco da Inglaterra e até mesmo o Banco Central Europeu, que caminham de forma desacelerada quanto às moedas digitais de bancos centrais (CBDCs).

Ilustração de diversas criptomoedas
Projeto chinês se alinha à modernidade das criptomoedas. Foto: eamesBot/Shutterstock

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Riscos

Por outro lado, o yuan digital pode provocar uma verdadeira mudança cambial no mundo todo. Isso porque a maioria das transações entre moedas diferentes usa o dólar americano como intermediário, por meio do protocolo bancário internacional Swift.

Contudo, as transações envolvendo a nova moeda digital da China não precisam do Swift ou do dólar. Inclusive, muitos países das 120 nações parceiras do país asiático questionam os acordos feitos com base na moeda americana, já que trazem riscos financeiros desnecessários de movimentos adversos das taxas de câmbio. A China alega que não pretende substituir o dólar pelo yuan digital, mas sim, permitir que o mercado escolha como concluir as transações internacionais.

Também há o risco de que, se os bancos centrais não forem capazes de atender a demanda por dinheiro digital, o mercado tomará a frente. Isso vai escancarar a perda sobre a política monetária para criptomoedas de países que não adotarem as moedas digitais.

É claro que a criação do yuan digital é algo a ser exaltado (e muito). Mas caso seja implementado de forma global, poderá dificultar a gestão econômica de países que não estejam preparados para essa tecnologia. E isso, claro, inclui o Brasil.

Fonte: The Next Web

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