A ficção científica tem seus clássicos em todas as plataformas. ‘Duna’ é um dos vários clássicos nos livros. ‘Matrix’ é um dos clássicos do cinema. ‘Incal’ é um clássico nos quadrinhos. Nos games, talvez o maior clássico – considerando enredo e escopo – seja a trilogia ‘Mass Effect’. Lançados entre 2007 e 2012, os jogos da BioWare, porém, não tiveram um representante à altura na geração passada dos consoles (estou olhando para você, ‘Mass Effect: Andromeda’). Até agora.

Como em time que está ganhando não se mexe, a Electronic Arts remasterizou os jogos originais na coletânea ‘Mass Effect Legendary Edition’, lançada em maio para PC via Origin e Steam, PlayStation 4 e Xbox One – com compatibilidade futura para PlayStation 5 e Xbox Series X|S. A edição reúne os três jogos protagonizados por Shepard, além de mais de 40 DLCs de história, pacote de armas e armaduras, com qualidade 4K Ultra HD com HDR.

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São mais de 100 horas de uma das melhores sequências de jogos da indústria. Para quem não teve a oportunidade de jogar na época do lançamento ou depois, é a chance de conhecer uma franquia que se tornou icônica para os fãs do gênero, e um divisor de águas em termos de desenvolvimento de roteiro para jogos eletrônicos.

De cara, ‘Mass Effect Legendary Edition’ resolve um problema logístico da série: a capacidade de levar seu personagem pelos três jogos. Se você sempre jogou no PC, tudo bem, mas o primeiro deles, por exemplo, não foi inicialmente lançado para PlayStation 3 (só bem depois, numa edição que reunia a trilogia). O segundo e o terceiro tinham um prólogo em que você podia simular algumas das decisões dos jogos anteriores para estabelecer o cenário da campanha atual, caso não pudesse levar seu save de um para outro.

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A nova edição também padroniza o visual dos jogos, ao aprimorar modelos de personagens e texturas. As melhorias nos shaders e efeitos visuais, iluminação, sombras dinâmicas, volumetria e profundidade de campo deixam os jogos mais antigos com a cara do terceiro, não só diminuindo uma distância de cinco anos entre os lançamentos, como os remasterizando para consoles e TVs atuais.

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Mass Effect Legendary Edition
Capitão Anderson ganhou uma harmonização facial para a ‘Legendary Edition’. Imagem: BioWare/Electronic Arts

Os desenvolvedores da ‘Legendary Edition’ ainda padronizaram aspectos de jogabilidade e interface. O combate, especialmente nos primeiros jogos, está menos truncado e a mira foi aprimorada, bem como controles e comportamento do esquadrão. A exploração também foi melhorada, com câmeras que podem se posicionar melhor e particularmente um upgrade no controle do Mako, o tanque que transporta o jogador na superfície dos planetas. Tudo isso unifica a experiência de jogar a saga ‘Mass Effect’ do começo ao fim.

E que experiência! Jogar ‘Mass Effect’ completo, desde o começo, não só me levou de volta quase quinze anos no passado, como mostrou que games bons não envelhecem. Mesmo jogos com gráficos renderizados em 3D, que geralmente sofrem o a passagem do tempo, conseguem ser ainda relevantes graças ao design e o enredo – dois elementos que se sobressaem em ‘Mass Effect’. A remasterização, por sua vez, dá uma limpada em qualquer problema gráfico que poderia se destacar, num jogo que já tinha um visual avançado para sua época.

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Mass Effect Legendary Edition
Shepard usa sua omniblade contra os geths. Imagem: BioWare/Electronic Arts

No jogo, você é Shepard, comandante das forças militares da Terra e candidato a se tornar um spectre, um agente especial à serviço do Conselho da Cidadela (o equivalente à Federação Unida dos Planetas de ‘Star Trek’). Os terráqueos são novatos no jogo interestelar, e nunca um humano ocupou tal posição. Na verdade, a Terra só conseguiu viajar entre os planetas após a descoberta da tecnologia deixada pelos Protheans, uma raça avançadíssima que sumiu misteriosamente 50 mil anos antes.

Na verdade, todas as raças dependem da tecnologia dos Protheans. E cada nova descoberta pode significar um avanço na tecnologia. Por isso, a primeira missão de Shepard no jogo é tão importante: ir até a colônia humana de Eden Prime e checar a escavação de um novo objeto encontrado lá. Porém, o turiano Saren, o mais famoso dos spectres, lidera um destacamento de geths (seres biomecânicos criados artificialmente) para roubar o artefato. No confronto, Shepard entra em contato com o objeto e absorve parte do seu conhecimento. Essa é a porta de entrada para uma saga que vai definir o destino do universo.

Perceba que sempre me referi a Shepard no gênero neutro. A escolha do gênero do personagem é do jogador, que pode definir ainda cabelo, maquiagem e tons de pele. Para a ‘Legendary Edition’, os desenvolvedores trouxeram a aparência feminina de Shepard do ‘Mass Effect 3’ como padrão na criação de personagem em todos os três jogos.

Mass Effect Legendary Edition
Explore mundos alienígenas com o seu Mako. Imagem: BioWare/Electronic Arts

Nessa jornada, você conhecerá uma multitude de personagens – e poderá até se relacionar romanticamente com alguns deles (humanos ou não). A trama é de longe o ponto mais forte de ‘Mass Effect’, que pode ser facilmente comparado a qualquer série ou filme – e até deu origem a alguns livros. Mesmo depois do seu lançamento original, poucos games conseguiram se aprofundar tanto em um enredo, e é isso que torna esse relançamento ainda tão relevante.

Mas mesmo quem já jogou a trilogia na época do lançamento original, pode voltar a se aventurar pelas estrelas sem medo. A ‘Legendary Edition’ distribui os melhores elementos de cada jogo por toda série. Os elementos de RPG de ‘Mass Effect 2’ e o combate aprimorado de ‘Mass Effect 3’ agora fazem parte da trilogia inteira. O relançamento ainda conserta alguns problemas, como as mecânicas do terceiro jogo, que dependiam de interações online, agora podem ser cumpridas offline (o que pode até ter deixado o game mais fácil).

Mass Effect Legendary Edition
Combate foi aprimorado nos três jogos. Imagem: BioWare/Electronic Arts

Claro que o pacote não está livre de críticas. A animação dos personagens, apesar da remasterização, ainda é meio dura e bem pouco natural, especialmente no primeiro jogo. O autosave também em alguns momentos pode mais atrapalhar do que ajudar, por isso é preciso ficar muito atento ao momento de salvar o jogo, para não ver todo seu esforço de obter o melhor final perdido. Mas tudo isso vai passando conforme você fica imerso no universo de ‘Mass Effect’ e avança para o segundo e terceiro jogos, bem menos problemáticos.

Como veterano, eu particularmente preferia um novo jogo de ‘Mass Effect’, ou outro lançamento da BioWare com o mesmo escopo, para a nova geração. Mas jamais poderia negar um convite para voltar a um dos produtos culturais mais completos de uma plataforma ainda tão jovem, como são os games. Se, no futuro, tivermos uma biblioteca ou um museu com os principais exemplares de jogos eletrônicos lançados ao longo dos séculos, ‘Mass Effect Legendary Edition’ certamente estará em alguma prateleira.

*A cópia usada para esse review foi a lançada para PlayStation 4, cedida pela Electronic Arts

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