Telescópio Espacial James Webb deve iniciar uma nova e dourada era na Astronomia

Por Marcelo Zurita, editado por André Lucena 06/09/2021 17h07, atualizada em 06/09/2021 17h08
Ilustração artística do Telescópio Espacial James Webb
Ilustração artística do Telescópio Espacial James Webb. Créditos: NASA / STScI
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Foram concluídos com sucesso os últimos testes no Telescópio Espacial James Webb. Depois de anos de espera, agora está tudo pronto para ser colocado em órbita o instrumento que deve revolucionar a astronomia e iniciar uma nova, e dourada, era dos telescópios espaciais.

O James Webb é o mais poderoso telescópio espacial já construído. Foi concebido há mais de 30 anos para ser o sucessor do Hubble, oferecendo um significativo incremento de resolução e sensibilidade no infravermelho em relação ao seu antecessor.

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Seu espelho principal é composto por 18 células hexagonais que juntas, formam um grande espelho dourado de 6 metros e meio de diâmetro, uma área de captação cerca de 6 vezes maior que a do Hubble.

Comparação em escala entre os telescópios James Webb (à esquerda) e o Hubble (à direita)
Comparação em escala entre os telescópios James Webb (à esquerda) e o Hubble (à direita). Créditos: GSFC

Ao contrário do Hubble, a óptica do James Webb não favorece a observação da luz visível. Apesar de enxergar um pouco o laranja e o vermelho, ele foi projetado para operar no infravermelho. Por isso seus espelhos são revestidos com ouro, porque o ouro reflete melhor o espectro infravermelho.

No infravermelho, o James Webb poderá enxergar a formação de estrelas no interior das nuvens de poeira, analisar a composição da atmosfera de exoplanetas e observar o espaço ainda mais profundamente que o Hubble, registrando a formação das primeiras galáxias do Universo, apenas alguns milhões de anos após o Big Bang.

Nebulosa da Carina registrada pelo Hubble. À esquerda, no espectro visível e à direita, no infravermelho, onde pode-se ver as estrelas se formando por trás das nuvens de poeira
Nebulosa da Carina registrada pelo Hubble. À esquerda, no espectro visível e à direita, no infravermelho, onde pode-se ver as estrelas se formando por trás das nuvens de poeira. Créditos: NASA / HST

Mas, para fazer observações no espectro infravermelho, o Telescópio Espacial James Webb precisará trabalhar em uma temperatura abaixo de -220°C. Do contrário, o calor do telescópio poderá sobrecarregar seus instrumentos. Por isso, além de um poderoso sistema de resfriamento, terá também um escudo solar de 5 camadas, do tamanho de uma quadra de tênis, projetado para bloquear a luz e o calor do Sol, da Terra e da Lua.

Componentes do Telescópio Espacial James Webb
Componentes do Telescópio Espacial James Webb. Fonte: NASA

Isso só será possível porque o James Webb irá operar próximo ao ponto de Lagrange L2, que fica a cerca de 1 milhão e 500 mil quilômetros da Terra, na direção oposta ao Sol. O ponto L2 é uma região estável do espaço, onde a soma das gravidades do Sol e da Terra, permitem que um objeto permaneça em órbita do Sol numa posição sincronizada com a Terra. Nessa posição, seu escudo consegue proteger o telescópio da luz e do calor de Sol, Terra e Lua ao mesmo tempo, porque ambos estão aproximadamente na mesma direção.

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O único problema é que nessa região do espaço não tem oficinas por perto e nem dá para rebocar o equipamento caso precise de alguma manutenção. Por isso, o James Webb foi construído com um rigoroso controle de qualidade e seus sistemas foram testados até a exaustão. Os últimos testes foram concluídos com sucesso na Califórnia, e agora ele está pronto para ser enviado ao espaço.

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Ele será lançado, a partir da base de Kourou, na Guiana Francesa, em um foguete Ariane 5, considerado um dos mais confiáveis veículos de lançamento. Se tudo ocorrer bem no lançamento, o James Webb iniciará uma viagem de duas semanas até o ponto de Lagrange L2. Nesse caminho, ele será desdobrado cuidadosamente e, antes de iniciar suas operações científicas, sua óptica será alinhada e seus instrumentos calibrados, o que deve levar ainda alguns meses.

Desdobramento do Telescópio Espacial James Webb
Desdobramento do Telescópio Espacial James Webb. Fonte: NASA

Desde 1997, o projeto do telescópio espacial já passou por duas grandes revisões, seu lançamento foi atrasado em 14 anos e seu orçamento passou de 500 milhões para mais de 10 bilhões de dólares. Mas ao tudo indica, vai valer a pena cada dia de espera e cada dólar a mais investido no James Webb, o mais poderoso telescópio espacial da humanidade.

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Marcelo Zurita
Colunista

Pres. Associação Paraibana de Astronomia; membro da Sociedade Astronômica Brasileira; diretor técnico da Rede Brasileira de Observação de Meteoros – e coordenador regional do Asteroid Day Brasil

André Lucena
Ex-editor(a)

Pai de três filhos, André Lucena é o Editor-Chefe do Olhar Digital. Formado em Jornalismo e Pós-Graduado em Jornalismo Esportivo e Negócios do Esporte, ele adora jogar futebol nas horas vagas.