O asteroide 2021 TG14, que tem o tamanho de um ônibus, passou pela Terra neste domingo (17) a uma distância menor do que a órbita da Lua. A rocha espacial passou a 250.000 km (155.000 milhas) do nosso planeta. Para se ter uma ideia, a Lua orbita a uma distância média de quase 385.000 km (239.000 milhas).

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Não havia risco de impacto com a Terra, conforme publicou a Nasa após observações periódicas do Escritório de Coordenação de Defesa Planetária da agência, que atua com outras agências governamentais e uma rede de telescópios parceiros para ficar de olho em objetos espaciais potencialmente ameaçadores para o nosso planeta.

Físicos sugerem novo sistema de defesa contra asteroides: “cortar e fatiar”

Pesquisadores da Universidade de Santa Barbara, nos EUA, propuseram um novo sistema de defesa da Terra contra asteroides que possam bater em nosso planeta. E a melhor forma de resumir a ideia é, basicamente, “cortar e fatiar” as pedras especiais.

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O paper técnico da ideia foi publicado no jornal Advances in Space Research, com um parecer opinativo independente publicado na Scientific American. Segundo o co-autor Phillip Lubin, professor de Física da universidade, a inspiração veio pelo impacto do Meteoro de Chelyabinsk, que atingiu a Rússia em 2013 e feriu quase duas mil pessoas – sem matar ninguém, felizmente.

Ilustração mostra pedaços de meteoros em direção à Terra, ilustrando um novo sistema de defesa contra asteroides caso a Terra esteja sob risco de impacto
Novo sistema de defesa da Terra contra asteroides sugere, literalmente, que as rochas espaciais sejam “fatiadas” e reduzidas em tamanho, a fim de minimizar danos de impacto (Imagem: Virrage Images/Shutterstock)

A situação é um pouco mais complexa do que apenas um simples episódio, mas tira proveito do contexto dele: naquele ano, os cientistas de todo o mundo estavam com seus olhos voltados ao asteroide 2012 DA14, uma rocha espacial de 50 metros (m) de diâmetro que passaria bastante próxima à Terra. Essa atenção toda fez com que nós não percebêssemos a chegada do meteoro russo, 19 m de diâmetro e que entrou na nossa atmosfera em uma inclinação bem aguda e velocidade fora do comum.

“No fim das contas, eram dois asteroides completamente independentes que vinham em nossa direção naquele dia”, disse Lubin, que estava entre os especialistas observando o 2012 DA14. “Um deles, nós já sabíamos que erraria a Terra. O outro, a gente nem viu chegar”.

Situações como essa serviram para ressaltar a importância de um sistema defensivo mais robusto contra possíveis choques. Nos últimos 113 anos, a Terra passou por dois impactos que, felizmente, não trouxeram morte alguma, mas que traziam o potencial de matar milhões caso atingissem algum centro urbano. Mas como escapamos deles?

“Pura sorte”, disse Lubin.

Em defesa dos observadores, eventos que ameacem muitas vidas são normalmente vistos sem dificuldade, além de serem raros: um deles foi o Evento de Tunguska, em 1908, uma explosão que, literalmente, derrubou ao chão centenas de quilômetros quadrados (km²) de árvores na Sibéria. Depois dele, veio o impacto que trouxe a chamada “Seca Recente” ou “Seca Jovem”, há 12,8 mil anos.

Mais raros ainda são os cataclismas com potencial de extinção, como o impacto que levou à criação da Cratera de Chicxulub, sob a Península de Yucatán, no México: para os não iniciados, foi ele quem trouxe a extinção dos dinossauros.

Entretanto, há que se pensar: ainda que saibamos de eventos futuros com esse potencial, o que podemos fazer a respeito? o asteroide Apophis, por exemplo, tem 370 m de diâmetro e passará bem próximo à Terra em abril de 2029. E quanto ao Bennu, o asteroide que tem sua própria tag aqui no Olhar Digital? Com 490 m de diâmetro, ele passará bem próximo a nós em 2036.

Esses objetos já tem uma previsão bastante exata: para todos os efeitos, eles não vão “bater” na Terra, só passar ao lado dela. Entretanto, na nossa região existe o que especialistas chamam de “fechaduras gravitacionais” – basicamente, pequenos pontos de variação gravitacional que podem ou não alterar trajetórias de objetos em nossa direção.

Esse “ou não” que é o problema: “se um deles passar pela fechadura, geralmente a próxima volta [em sua órbita] fará esse objeto bater na Terra”, disse Lubin. Por isso, ele e o coautor Alexander Cohen desenvolveram o método “PI”, que nada mais é que uma sigla em inglês – deveras carinhosa – para “Pulverize-os”.

Novo sistema sugere o lançamento de varas de penetração que prometem pulverizar asteroides antes de um impacto generalizado, facilitando a sua queima na atmos
Novo sistema sugere o lançamento de varas de penetração que prometem pulverizar asteroides antes de um impacto generalizado, facilitando a sua queima na atmosfera ou, em caso de choque, danos reduzidos (Imagem: Alexander Cohen/Reprodução)

De uma forma muito resumida, o PI consiste de lançar diversas varas com capacidade de forte penetração rochosa, com algo entre 10 e 30 centímetros (cm) de diâmetro e cerca de dois a três metros de extensão, dispostas ao longo da trajetória de um asteroide. Feitas de material hiper resistente, elas rasgariam o asteroide em diversos pedaços ou, ao menos, fragmentariam sua integridade o suficiente para que a nossa atmosfera os queimasse durante a reentrada.

Sim, a estratégia ainda prevê que a Terra levaria a pancada, mas, na nossa melhor analogia esportiva possível, ao invés de levar um cruzado no queixo, ela levaria alguns soquinhos no abdômen. Em suma, os pedaços cortados teriam, no máximo, o tamanho de uma casa, e ao cair – se caírem -, não causariam o mesmo dano previsto de um choque com a rocha inteira.

“Se você reduzir grandes eventos, que são perigosos, em uma série de pequenos eventos que não causam dano, você consegue minimizar a ameaça”, disse Cohen. “O diferencial desse método é que ele permite a reação mesmo em janelas mais apertadas de tempo”, acrescentou Lubin.

“Um problema enfrentado por outros métodos, como desvio de asteroides, é que eles são limitados em seus tempos de resposta”, disse Lubin. “Eles dependem de posicionar um dispositivo forte o suficiente para desviar a ameaça no próprio asteroide, e isso tem que ser feito bem antes de ele chegar perto da Terra”.

Lembra-se do filme Armageddon, com Bruce Willis? Lembra-se de como, na narrativa do filme, os perfuradores de petróleo tinham que explodir o asteroide “até uma linha-limite”, ou os pedaços dele atingiriam a Terra de qualquer forma? Mesma analogia: métodos atuais preveem o envio de satélites ou naves descartáveis, para se chocarem contra corpos errantes – pode dar certo? Sim, mas só se colocarmos nossas ferramentas no espaço em tempo hábil.

Já o novo sistema de defesa contra asteroides dos dois físicos pode ser posicionado agora, usando recursos que já temos à disposição, como os foguetes Falcon 9 da SpaceX ou o SLS da Nasa para alvos maiores. Pelos cálculos, objetos como o Meteoro de Chelyabinsk podem ser interceptados minutos antes de um impacto, enquanto rochas maiores, como o asteroide Apophis, podem ser interceptados em até 10 dias antes de um potencial choque.

“Assim como as vacinas que tomamos nos ajudam a prevenir doenças atuais e futuras – algo que a pandemia nos deixou dolorosamente cientes -, nós podemos ‘vacinar’ o planeta por meio das varas de penetração, tal qual as agulhas de uma seringa, e prevenir a perda catastrófica de vidas no futuro”, dizem os autores.

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