Na última sexta-feira (22), o Olhar Espacial recebeu Carlos Alberto Palhares, astrônomo amador do Observatório Zênite, em Monte Carmelo (MG). Graduado em Ciência da Computação pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) e mestre em Tecnologia da Informação pelo Centro Paula Souza, ele atua profissionalmente como técnico de TI na Universidade Federal de Uberlândia, onde tem um projeto de divulgação de astronomia.

Sob o comando de Rafael Rigues, editor de Ciência e Espaço do Olhar Digital, e do nosso colunista Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia (APA) e diretor técnico da Rede Brasileira de Observação de Meteoros (Bramon), o Olhar Espacial é transmitido ao vivo, todas as sextas-feiras, às 21h, pelos nossos canais oficiais no YouTube, Facebook, Instagram, Twitter, LinkedIn e TikTok, e conta sempre com a participação dos espectadores, enviando suas perguntas, sugestões e críticas.
Palhares, que pratica astronomia amadora desde criança, quando conheceu as principais constelações brincando com um atlas e aprendeu a identificá-las no céu, revelou todo o processo pelo qual passou até se tornar uma das referências nacionais no assunto.
“Sou da geração do cometa Halley – ou da geração que se frustrou com o Halley”, brincou o entrevistado, fazendo referência à última passagem do corpo celeste (quase) visível da Terra. O fenômeno, muito divulgado na mídia na época e aguardado ansiosamente pelos espectadores, não correspondeu às expectativas, entrando para a história da astronomia como a aparição sob as piores condições registradas nos últimos 2 mil anos.
De qualquer forma, o evento, entre outros valores científicos, serviu para levar muitas crianças e adolescentes daquela geração, como Palhares, a se apaixonarem pelo mundo astronômico.
Quanto dinheiro é necessário para começar na astronomia?
Zurita abriu a entrevista com uma questão fundamental para todos aqueles que pretendem se aventurar na astronomia: dinheiro para investir. Aqui é importante salientar que a nomenclatura “amador”, no caso de Palhares e tantos outros, refere-se apenas ao fato de que eles não têm formação específica na área.
De acordo com Palhares, a princípio, o investimento necessário é praticamente zero. “Hoje, todo mundo tem um celular. Você pode instalar um aplicativo, aprender a reconhecer as constelações, alguns planetas e saber visualizá-los a olho nu. Então, quem quiser começar, pode fazer isso sem dinheiro nenhum”, afirmou.
“Agora, com um bom binóculo, a pessoa já vai ter uma gama maior de objetos a serem observados”, explicou o entrevistado. “Eu indico para todos que quiserem começar de forma mais séria, a adquirir um binóculo. Por meio desse instrumento, você consegue identificar as constelações do céu, centenas de aglomerados e o Catálogo Messier quase todo, por exemplo. E um binóculo eficiente, hoje em dia, está em torno de R$600 a R$700”, afirmou.
Ele destacou que a evolução tecnológica facilitou muito para aqueles que desejam iniciar no ramo. “Antigamente, usávamos os atlas. Hoje, com aplicativos e softwares, ficou tudo muito mais simples”.
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Por solicitação de Rigues, Palhares indicou o que um bom binóculo precisa ter para ajudar as pessoas a começar suas buscas no céu. “Não precisa de muita coisa”, afirmou o convidado, mostrando um dos seus. “Este, por exemplo, é 10 x 50. Isso significa que ele tem um zoom óptico com 10 vezes de aumento e uma lente objetiva de 50mm. Essa já é uma boa configuração para iniciantes”.
Ao utilizar um binóculo com esse perfil, o observador consegue enxergar as fases de Vênus, as luas galileanas de Júpiter, as crateras lunares, nebulosas e muitas outras maravilhas do Universo, de acordo com Palhares.
Comprar um telescópio e outros equipamentos mais caros requer cuidado
Segundo Palhares, a alta do dólar fez com que as ofertas de produtos para astronomia sofressem certa redução, com algumas lojas especializadas sendo fechadas. No entanto, ele afirma que o mercado de usados oferece bons produtos.
Ainda assim, ressaltou: “Se você não sabe o que vai comprar, não compre. Pesquise, pergunte para conhecidos, frequente clubes de astronomia, vá a encontros onde você poderá experimentar equipamentos. E, só depois, decida”, aconselhou.
Ou seja, antes de partir para a etapa de adquirir um telescópio e outros equipamentos mais caros, é necessário cautela. Para isso, Palhares e os apresentadores se colocaram à disposição do público para orientá-los por meio das redes sociais.
Espectadores puderam visualizar o céu em tempo real
Aqueles que acompanharam o programa ao vivo foram presenteados com visões encantadoras do céu. Palhares compartilhou a tela de seu computador, por meio do qual um software captava imagens em tempo real de seu telescópio.
Inicialmente, o instrumento estava apontado para o planeta Saturno, que aparecia de forma um pouco desfocada e tremida devido às condições atmosféricas da Terra no momento, que interferem diretamente nas observações.

Outra situação que atrapalha as visualizações astronômicas é a poluição luminosa. “Quanto a isso, não temos muito o que fazer. Mas, dependendo do horário, a posição dos corpos no céu facilita e pode ajudar. Para Saturno, por exemplo, quanto mais tarde for, mais difícil vai ficando de se ver”, explica Palhares.
O convidado mostrou também imagens do planeta feitas em outros momentos e deu uma verdadeira aula sobre suas características, além das melhores posições orbitais para os observadores conseguirem contemplá-lo com mais facilidade.
Também foram analisadas imagens de Júpiter, suas luas e a Grande Mancha Vermelha. Além de mostrar fotos, o convidado posicionou seu telescópio para presentear os apresentadores e a audiência com imagens ao vivo do planeta e suas luas Ganimedes e Io.

Por último, Palhares mostrou a nossa Lua, com detalhes impressionantes de algumas crateras e do limite entre a parte clara e o lado distante (ou “escuro”) do satélite, onde o relevo é visto com ainda mais nitidez.

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