O Cometa Leonard está cada vez mais brilhante, mais próximo da Terra e pode dar um show nos céus a partir desta semana. Mas já nos primeiros dias de dezembro, tivemos uma prévia desse show quando ele se aproximou do aglomerado globular Messier 3 na Constelação de Cães de Caça. Esta aproximação lembrou um astrônomo do século 18, cuja busca obsessiva por cometas o levou a criar um dos principais catálogos astronômicos da época.

Leia mais:

Charles Joseph Messier foi um dos grandes astrônomos franceses do século 18. Ele não teve muita educação formal. Depois que seu pai morreu quando ele tinha 11 anos de idade, sua educação ficou sob responsabilidade de seu irmão, que o treinou para realizar tarefas metódicas e administrativas.

Retrato de Charles Messier pintado por Ansiaux
Retrato de Charles Messier pintado por Ansiaux. Fonte: wikimedia.org

Isso lhe foi muito útil quando, em 1751, aos 21 anos, deixou Badonviller, sua cidade Natal, e foi para Paris, trabalhar como auxiliar do astrônomo da marinha francesa, Joseph-Nicolas Delisle. Com Delisle, Messier aprendeu a operar os instrumentos astronômicos e registrar suas observações com o máximo de detalhes possível.

publicidade

Só que seu interesse pela astronomia havia surgido aos 15 anos, quando Messier presenciou um fenômeno astronômico de rara beleza: o Cometa De Cheseaux, um dos mais brilhantes do século, sendo visível a olho nu até mesmo durante o dia, e que por algumas noites, pintou o céu com um espetacular leque de seis caudas.

Gravura representando o Cometa De Cheseaux de 1744
Gravura representando o Cometa De Cheseaux de 1744. Créditos: Amedee Guillemin

Dá para imaginar o tamanho da satisfação de Messier, quando Delisle, em 1757, lhe incumbiu de procurar por um outro cometa, cujo retorno havia sido previsto por Edmond Halley para o ano seguinte.

Charles Messier tinha tudo para ser o primeiro a reencontrar o famoso Cometa de Halley se não fossem os cálculos errados feitos por Delisle. Invés disso, ele encontrou um outro cometa, que observou e registrou por 31 noites. No ano seguinte, ficou sabendo que aquele cometa já havia sido descoberto anteriormente por De La Nux. Mas aquela busca pelo Halley e o registro do Cometa De La Nux, deu a Messier a certeza daquilo que ele queria ser como astrônomo: um caçador de cometas.

Charles Messier e alguns dos objetos do seu catálogo registrados pelo Telescópio Espacial Hubble
Charles Messier e alguns dos objetos do seu catálogo registrados pelo Telescópio Espacial Hubble. Créditos: HST/NASA

De fato, Charles Messier fez isso muito bem. Entre 1758 e 1808, ele observou 44 cometas, foi descobridor de 13 deles e co-descobridor de outros 7. Só que sua principal contribuição para a Astronomia foi dos “não-cometas” que ele registrou.

Em agosto de 1758, enquanto procurava pelo Halley, Messier se deparou com um objeto nebuloso, muito semelhante a um cometa de brilho fraco. Registrou sua posição e passou a observá-lo todas as noites para tentar determinar sua trajetória no céu. Só que o objeto não se movia. Não era um cometa, e sim a Nebulosa do Caranguejo, atrapalhando Messier em suas buscas. E aquele não seria o único objeto nebuloso a atormentá-lo.

Nebulosa do Caranguejo registrada pelo Telescópio Hubble
Nebulosa do Caranguejo registrada pelo Telescópio Hubble. Créditos: HST/NASA/ESA

Para evitar perder tempo com objetos assim, Charles Messier resolveu catalogar todos eles, anotando suas coordenadas celestes, data da observação e uma descrição detalhada de cada objeto. Nascia aí o famoso Catálogo de Messier onde a Nebulosa do Caranguejo seria o primeiro objeto catalogado, o objeto M1 ou Messier 1.

Em 1771, algum tempo depois que Delisle se aposentou, Messier se tornou o astrônomo da Marinha Real Francesa e ganhou um ajudante: Pierre Méchain. Juntos publicaram, em 1781, a primeira versão do catálogo com 103 objetos entre nebulosas, aglomerados estelares e galáxias, que na época, eram consideradas nebulosas. Mais tarde, Messier e Méchain, adicionaram outros 7 objetos.

110 objetos do Catálogo de Messier
110 objetos do Catálogo de Messier. Fonte: Unione Astrofili Italiani

De todos os 110 objetos do catálogo moderno de Messier, 44 foram descobertas originais do próprio Messier. O primeiro destes objetos, originalmente descobertos por Messier, foi o que o inspirou a criar seu catálogo. Sabe qual foi? Foi um certo aglomerado globular na Constelação de Cães de Caça conhecido como Messier 3. Esse mesmo, que na semana passada recebeu a visita do Cometa Leonard.

Cometa Leonard passando na direção do aglomerado globular Messier 3
Cometa Leonard passando na direção do aglomerado globular Messier 3. Créditos: Gregg Ruppel

Agora, imagine como ficaria Messier ao ver uma cena assim. No mesmo campo de visão, um cometa que tanto o fascinava, e um objeto nebuloso que tanto o atormentava. E ambos fizeram de Charles Messier, um dos mais respeitados astrônomos do seu tempo, e de todos os tempos.

Já assistiu aos novos vídeos no YouTube do Olhar Digital? Inscreva-se no canal!