Com o passar dos anos, nossos músculos, ossos, olhos, ouvidos e todas as demais partes do corpo vão se deteriorando à medida que envelhecemos. Muitos pesquisadores em todo o mundo buscam formas de combate aos efeitos negativos do envelhecimento humano. 

E essas pesquisas ultrapassam os limites terrestres: reações no corpo do astronauta Matthias Maurer, da Agência Espacial Europeia (ESA), que está na Estação Espacial Internacional (ISS) há dois meses, estão sendo monitoradas para fornecer pistas sobre como enfrentar os desgastes naturais aos quais o organismo está sujeito.

Matthias Maurer, astronauta da ESA, passa por experimentos científicos para monitoramento da saúde. Imagem: ESA

Saúde ocular dos astronautas pode ser comprometida por síndrome típica da microgravidade

Cerca de 70% dos astronautas experimentam alterações no nervo óptico durante uma longa estadia no espaço, um fenômeno conhecido como “síndrome neuro-ocular associada a voos espaciais” (SANS). Essa patologia da visão também é considerada como o risco número dois para a saúde humana durante uma missão a Marte, atrás somente da exposição à radiação.

Maurer e os tripulantes da Nasa Thomas Marshburn e Raja Chari emprestaram seus olhos para um experimento chamado Diagnóstico de Retina: uma lente ocular especial posicionada na parte de trás de um tablet permitiu que os astronautas gravassem imagens de seus olhos e as enviassem para a Terra.

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Com o monitoramento da saúde do astronauta Matthias Maurer, cientistas esperam entender envelhecimento humano na Terra e combater as dificuldades que ele acarreta. Imagem: ESA

Essas imagens serão usadas para treinar um modelo de Inteligência Artificial (IA) que possa detectar alterações oculares e automaticamente dar um diagnóstico. O dispositivo não só ajudará os astronautas a explorar o espaço profundo, mas também facilitará os cuidados de saúde sustentáveis aqui na Terra.

Os cientistas responsáveis pelo monitoramento de Maurer também realizam o experimento de Diagnóstico Acústico, que estuda os efeitos dos sons de fundo da ISS na audição dos astronautas.

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Músculos enfraquecem no espaço

Exatamente como acontece no processo de envelhecimento das pessoas na Terra, os músculos dos astronautas enfraquecem em órbita. Por isso, o monitoramento da perda de massa muscular de Maurer irá ajudar cientistas médicos na Terra a identificar como isso ocorre e a encontrar maneiras de evitar.

Entre os estudos científicos realizados pelo astronauta na ISS está a classificação de células musculares sintéticas do tamanho de um grão de arroz dentro do mini-laboratório russo de 40 cm Kubik, que fica no módulo Columbus. 

Parte dessas células será estimulada eletricamente para desencadear contrações na ausência de peso, enquanto outra gama irá experimentar uma força de gravidade artificial por meio de centrifugação.

A partir daí, pesquisadores do projeto MicroAge irão monitorar como o tecido responde à microgravidade e aos processos de envelhecimento acelerados. Segundo a ESA, isso poderá, um dia, “ajudar as pessoas a manter melhor sua força e mobilidade na velhice”.

Outro experimento que investiga a saúde muscular são os miotones. Maurer usou um dispositivo portátil não invasivo para monitorar a tonicidade, a rigidez e a elasticidade de certos músculos na perna. Ele é um dos 12 astronautas que participam desse estudo para identificar as melhores contramedidas para muitas pessoas afetadas por doenças musculares.

Maurer tem usado uma faixa na cabeça durante seu sono. Um dispositivo acoplado à faixa fornece informações sobre as diferentes fases e sobre a qualidade do sono do astronauta. Imagem: ESA

Exercícios físicos, alimentação e controle da qualidade do sono

Maurer também está tentando otimizar sua forma física no espaço com uma rotina de exercícios que leva cerca de duas horas por dia. Durante vários treinos usando a esteira e fazendo agachamentos, ele colocou um traje de estimulação eletro muscular (EMS) que ativou seus músculos, como parte do experimento easymotion, que visa entender melhor a tensão fisiológica para os astronautas e que pode levar a novos tratamentos de reabilitação na Terra.

Além dos exercícios físicos, Maurer registra suas refeições para os cientistas poderem acompanhar sua ingestão de energia e avaliar sua nutrição. Isso faz parte do estudo NutrISS, que introduz uma nova abordagem para calibrar a dieta e o exercício por longas estadias no espaço. As equipes científicas da Terra esperam que uma dieta cuidadosamente adaptada de alta proteína possa limitar a típica perda de ossos e músculos orientados à microgravidade.

Outro item importante que está sendo monitorado em Maurer é a temperatura corporal, conhecida por ficar mais alta no espaço. Essa “febre espacial” representa um risco potencial para a saúde dos astronautas. 

Assim, o experimento Thermo-Mini acompanha a temperatura corporal do astronauta da ESA e seu ritmo circadiano usando um pequeno sensor térmico preso à testa por quase 40 horas ao longo de três sessões. Com os dados obtidos ajudando a entender esse fenômeno, esse pequeno dispositivo poderia ser usado em hospitais e por pessoas que trabalham em ambientes extremos na Terra, como mineiros ou bombeiros.

Por fim, o sono desempenha um papel importante no bem-estar e na saúde humana. Distúrbios do sono ou um sono insuficiente podem aumentar o risco de doenças e têm impacto no desempenho das pessoas.

Maurer tem usado uma faixa na cabeça durante seu sono para o experimento Dreams. Por meio dessa experiência, um dispositivo acoplado à faixa fornece informações sobre as diferentes fases e sobre a qualidade do sono. De acordo com a ESA, essa tecnologia poderia ajudar tanto astronautas quanto pessoas na Terra a melhorar suas rotinas de sono e identificar possíveis distúrbios.

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