Quando a missão Inspiration4 foi anunciada, em fevereiro passado, seus organizadores afirmaram que dois dos quatro tripulantes seriam escolhidos entre os doadores a uma campanha de arrecadação de fundos para o hospital St. Jude, nos EUA, dedicado ao tratamento de câncer pediátrico.

Um dos escolhidos foi Chris Sembroski, engenheiro de dados norte-americano que trabalha na Lockheed Martin. Mas ele não foi o sorteado. Na época, sabia-se que o felizardo foi outra pessoa, que cedeu seu lugar a Sembroski. Entretanto, a identidade do “benfeitor” era um mistério até agora.

O verdadeiro vencedor foi Kyle Hippchen, um piloto norte-americano da companhia aérea Endeavor que foi colega de quarto de Chris na faculdade. Ele doou US$ 600 à campanha (Sembroski doou US$ 50), mas com mais de 72.000 participantes no sorteio, não acreditou que teria chance de ganhar.

Chris Sembroski (à esquerda) e Kyle Hippchen (à direita). Amigos unidos pela paixão ao espaço. Imagem: Kyle Hippchen / Arquivo Pessoal

A “ficha caiu” quando Hippchen começou a receber e-mails um tanto vagos da SpaceX pedindo mais detalhes sobre si. Foi aí que ele decidiu ler as “letrinhas miúdas” nos termos do concurso e descobriu haver um limite máximo de peso para os tripulantes, 113 kg. E na época, ele pesava 150 kg. 

publicidade

Imaginando haver sido selecionado, Kyle avisou à SpaceX que estava desistindo do concurso. Foi aí que a empresa, em vários e-mails e telefonemas subsequentes, confirmou que ele havia sido, de fato, escolhido.

“Cheguei a pensar em como perder 37 quilos em seis meses, o que é possível, mas não é a coisa mais saudável”, disse Hippchen. Foi então que Jared Isaacman, organizador e comandante da Inspiration4, permitiu que ele escolhesse seu substituto.

“A disposição de Kyle em dar seu assento a Chris foi um ato incrível de generosidade”, disse Isaacman. 

A tripulação da Inspiration4: Jared Isaacman, Hayley Arceneaux, Dra. Sian Proctor e Chris Sembroski. Imagem: John Kraus/Netflix

Hippchen e Sembroski se conheceram enquanto eram estudantes na Universidade Aeronáutica Embry-Riddle, no final da década de 90. Eles se amontoavam em carros com outros estudantes apaixonados pelo espaço para fazer a viagem de uma hora rumo ao sul para assistir aos lançamentos dos ônibus espaciais. E também faziam parte de um grupo que ia a Washington advogar em favor das viagens comerciais ao espaço.

Como sinal de gratidão, Sembroski se ofereceu para levar alguns itens pessoais do amigo ao espaço. Hippchen juntou seus anéis de gradiuação do segundo grau e faculdade, “berimbelas” de capitão de uma linha áerea, o Coração Púrpura que um tio-avô recebeu na Primeira Guerra Mundial e alguns itens de seus melhores amigos do colegial.

Seguindo uma tradição, no dia da viagem Sembroski usou um telefone na torre de lançamento para fazer uma chamada antes da partida. Ele ligou para Hippchen para agradecer mais uma vez. “Serei eternamente grato”, disse Sembroski.

Leia mais:

Hippchen não contou sua história antes para não “tirar os holofotes” do amigo: “Era o show deles, e não queria distrair do que eles estavam fazendo”, disse. Ele contou a familiares e amigos mais próximos, e chegou a dar pistas a alguns colegas, mas estima que, na época, apenas 50 pessoas sabiam que foi ele o felizardo.

Mas ele chegou a experimentar um “gostinho” do espaço, voando em um simulador de gravidade zero com amigos e parentes da tripulação durante o treinamento. E também assistiu ao lançamento da Inspiration4 em um camarote VIP.

Ainda assim, a decepção por não poder ir ao espaço é grande. Hippchen afirma que ainda não assistiu ao documentário na Netflix que conta a jornada da Inspiration4: “Dói demais. Estou incrivelmente desapontado, mas é a vida”, disse.

Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!