Pouca gente tem o hábito de ler o rótulo das embalagens de ração que compra para seus animais de estimação. Mas, se um dia você tiver essa curiosidade, verifique se, entre os ingredientes, está escrito algo como “peixe de oceano” ou “isca branca”. Esses termos, muito genéricos, podem se referir a vários tipos de peixes, inclusive tubarões. 

Cientistas descobriram sinais de carne de tubarão azul, espécie mais pescada do mundo e que está sob ameaça de extinção, em alimentos para pets em Singapura. Imagem: Damsea – Shutterstock

Em Singapura, cientistas descobriram que espécies de tubarão ameaçadas de extinção estão sendo usadas para fabricação de comida para pet. Eles usaram a decodificação de DNA para investigar a composição desses alimentos, o que revelou uma prevalência considerável de rotulagem incorreta de ingredientes. Os pesquisadores sugerem a implementação de padrões globais para rótulos de alimentos para animais de estimação para evitar a superexploração de tubarões em extinção.

Sobrepesca de tubarão ameaça ecossistemas oceânicos

Cruciais para o funcionamento de ecossistemas marinhos saudáveis, os tubarões são predadores máximos, estando no topo da cadeia alimentar oceânica. Mudando a distribuição de suas presas, o que afeta a estratégia alimentar de outras espécies, eles mantêm um equilíbrio na biodiversidade marinha. A diminuição do número de tubarões leva, por exemplo, ao declínio nos leitos de capim-marinho e recifes de corais.

O crescente comércio de carne e barbatanas de tubarão está colocando as populações desses animais em risco. Pesquisas sugerem que cerca de 100 milhões de tubarões podem ser mortos anualmente. A sobrepesca é a maior ameaça aos tubarões em todo o mundo, e a falta de monitoramento e gerenciamento eficazes das práticas de pesca piora a situação das espécies de tubarões vulneráveis.

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Sobrepesca de tubarões para consumo da carne e uso de outras partes do corpo pode desequilibrar o maio ambiente marinho. Imagem: Andreas90 – Shutterstock

“As populações de tubarões são sobrepescadas em todo o mundo, com declínios de mais de 70% nos últimos 50 anos documentados. Isso é um indicativo da atual falta de respeito em que mantemos nossos oceanos”, diz o artigo científico publicado nesta sexta-feira (4), na Frontiers in Marine Science, que descreve os estudos de Ben Wainwright e Ian French, da Yale-NUS College, instituição de cooperação entre a Universidade de Yale e a Universidade Nacional de Singapura.

Um contribuinte para o declínio da população de tubarões é o uso de suas partes em produtos cotidianos, como cosméticos. Muitas pessoas podem não saber que certos cuidados com o corpo e produtos de beleza podem usar escaleno derivado de tubarão.

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Pesquisas anteriores detectaram carne de tubarão em quase 80 amostras de ração nos EUA

Em 2019, outro estudo descobriu a ocorrência de tubarão em 78 amostras de alimentos para animais de estimação coletadas nos EUA. “Dado os resultados de um estudo anterior realizado nos EUA, queríamos ver se tubarões em extinção também são vendidos em alimentos para animais de estimação asiáticos”, explicaram os autores.

Eles decidiram verificar se havia DNA de tubarão em 45 produtos alimentares para animais de estimação de 16 marcas diferentes à venda em Singapura. A primeira coisa que notaram foi que nenhum dos rótulos apresenta, claramente, a informação de que os produtos contêm carne de tubarão.

No entanto, das 144 amostras colhidas, 31% continham DNA de tubarão. Os tubarões mais identificados foram o tubarão azul (Prionace glauca), seguido pelo tubarão-seda (Carcharhinus falciformis) e pelo tubarão-de-pontas-brancas-de-recife (Triaenodon obesus).

Tubarão-seda, também encontrado nas amostras de ração em Singapura, consta na lista de vulnerabilidade da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Imagem: Sergey Dubrov – Shutterstock

Esses dois últimos são considerados “vulneráveis” na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). O tubarão-seda também está listado na Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Silvestres (CITES), o que significa que seu comércio deve ser controlado para evitar o consumo excessivo que ameaçaria a sobrevivência da espécie.

Rótulos devem ser mais específicos

“Grande parte dos donos de animais de estimação provavelmente são amantes da natureza, e achamos que a maioria ficaria alarmada ao descobrir que eles poderiam estar contribuindo sem saber para a sobrepesca das populações de tubarões”, disseram os autores.

Eles sugerem mais transparência nos rótulos dos ingredientes dos produtos alimentares para animais de estimação. “Evitar termos vagos na lista de ingredientes para permitir que os consumidores façam escolhas de compra informadas e implementar padrões globais para rótulos de alimentos para animais de estimação são dois passos para evitar a sobrepesca de tubarões”, disse French.

“É necessária uma maior responsabilização em todas as cadeias de fornecimento de frutos do mar de alimentos humanos e animais de estimação, o que mitigaria a pesca insustentável e o uso de recursos incompatíveis com a sobrevivência das populações de tubarões”, completou Wainwright.

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