Prós
  • Excepcional pacote de tecnologia
  • Grande alcance e potência
  • Vale o que custa
Contras
  • Estepe ocupando porta-malas
  • Design ostensivo não é para todos os gostos
  • Custa o que vale

Foi só um dia com ele. A BMW, como a gente dizia na 5a série, foi regulada com o acesso a seu novo elétrico de luxo, o iX, oferecido na versão mais potente disponível agora, o XDrive 50 (ainda virá a 60).

O iX é a ideia da BMW para o futuro, e demonstra. É difícil achar defeito num carro de quase R$ 800 mil que entrega o investimento (achei dois). Luxo é algo subjetivo, mas dá para dizer quase com certeza que é o elétrico mais luxuoso sendo vendido em concessionárias do Brasil neste momento.

Soberbamente carrão

Antes de chegar no luxo, o essencial: é um SUV de 4,95 m de comprimento, e, 1,69 m de altura e 1,96 m de largura (para ficar mais fácil de lembrar: 5 metros, por 1,70 e 2) e 2,5 toneladas. Grande para um carro em geral, mas considerado um crossover médio no espaçoso mundo dos SUVs.

O design transmite uma massiva opulência, algo que você pode considerar virtude ou defeito. Pessoalmente, quando eu vi o BMW iX pela primeira vez, parado numa demonstração, não gostei do design. Pareceu que pendia demais para esse lado vultoso, monolítico, e a grade em particular pareceu “na sua cara” demais. Era um exemplar em vermelho.

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Mas, vendo a versão que me foi cedida, em azul escuro, e (não sei se isso influencia) dirigindo, pareceu bem mais elegante. Eu geralmente sou fã de cores vivas, mas a cor fria parece ter sido bem mais favorável à figura do BMW iX.

Frente do BMW iX
Frente do BMW iX, com sujeira da viagem | Foto: Mário Kurth/Olhar Digital

A pseudo-grade, aliás, é orgulhosamente em plástico, para ninguém esquecer que é um elétrico. E tem a primeira tecnologia a ser lembrada: ela se autorregenera de pequenos danos, como riscos e impactos de pedrinhas. Faz isso através do calor, sozinha com o tempo, mas você pode usar um proverbial secador de cabelos para agilizar o processo.

Movendo esse conjunto todo existem dois motores. Um deles não tem nem rolamentos: é suspenso magneticamente. Eles geram exorbitantes 523 cv de potência, fazendo de 0 a 100 km/h em 4,6 segundos, fazendo just ao S em SUV e colocando o monolítico carrão na faixa de mais espartanos esportivos puros.

BMW iX é um iate sobre rodas

É o que faz de um iX um iX é não ser espartano. É como um iate ultratecnológico sobre rodas. É um interior tão espaço quanto o exterior, em couro tratado com azeite de oliva, em duas opções: preto e (gostei mais dessa) castanho. A opção pode ser escolhida na compra.

Interior do BMW iX
Interior do BMW iX, mostrando o painel único e os ajustes em cristal nas portas | Foto: Mário Kurth/Olhar Digital

No lugar de um painel tradicional com um tablet, há apenas um tablet ultra-wide, que tanto controla mídia e aplicativos quanto dá as informações de forma integrada.

Detalhes de luxo incluem o painel central de madeira, que tem uma roda em cristal para controlar a interface. Também em cristal são os controles nos bancos, que ficam nas portas.

A roda de controle é bem interessante. Funciona como o saudoso iPod, operando o menu girando no sentido horário ou anti-horário e apertando para baixo para clicar. É um jeito bem prático para controlar a interface sem precisar tocar no painel, o que um problema para a maioria dos carros modernos.

Console central do BMW iX
Console central do BMW iX | Foto: Mário Kurth/Olhar Digital

Outra coisa bem inovadora em interface: é possível operar a central de mídia (e outras funções) com gestos. Você faz o gesto de enrolar um fio com o indicador para aumentar ou diminuir o volume, e usa o polegar (como pedindo carona) para trocar de música ou rádio. Isso funciona por uma câmera, que pode ser usada também para gravar a atividade no carro.

Falando em música, é um outro grau de luxo: o carro possui um sistema de som 4D Bowers and Wilkins Diamond. Inclui caixas nos próprios bancos, que fazem as pessoas literalmente vibrar, numa experiência de sala de cinema privada. Inclui uma demonstração criada pelo compositor cinematográfico Hans Zimmer, para impressionar os passageiros. Leva um tempo para se acostumar isso de música vibrando nas costas, mas é uma experiência única.

Falando em costas, o banco faz massagem na lombar do motorista. Discreta, nada que possa deixar alguém com sono, não tanto para prazer como para evitar o cansaço muscular da viagem. É uma boa pedida: eu geralmente saio um pouco dolorido de viagens longas (nada muito sério, mas dá para sentir), e a massagem manteve minha coluna em ordem.

Outra mordomia útil futurista: o teto solar, fixo, pode se tornar opaco ou transparente apertando um botão. É como a janela do Boeing 787, uma corrente elétrica muda a característica do vidro.

Na traseira, achei outra coisa menos que ideal: o porta-malas é enorme, mas também é o estepe que fica sobre a superfície, tornando todo o espaço esquisito de usar.

Porta-malas do BMW iX
Porta-malas do BMW iX | Foto: Mário Kurth/Olhar Digital

É uma coisa que também acontece num concorrente direto, o Jaguar I-Pace, e tem a ver com maximizar o espaço para baterias. Falamos de um carro com autonomia nominal de 630 km, afinal.

Naturalmente num veículo nessa faixa de valor, faróis de led e limpadores de para-brisas são automáticos, e há um sistema de câmeras 360 graus. É possível ver a estrada simulada com o carro visto por cima, na hora de estacionar ou se alguém se aproxima. Esse é um recurso que não é exclusivo, mas é o próximo passo após a câmera traseira: o mapa traz informações mais precisas que os próprios olhos seriam capazes de prover.

Bólido da nova era

Com um dia só para apreciar, o teste prático do BMW iX foi um bate-e-volta entre São Paulo e a Riviera de Bertioga. Logo na saída, no estacionamento do prédio do Olhar Digital, um homem nos parou para perguntar sobre o carro. Ficou realmente curioso de saber que era elétrico. Então demonstrei andando um pouquinho ali mesmo. O contaste entre um carrão assim se movendo no mais completo silêncio deixou o admirador perplexo. É algo que quem já dirigiu elétricos acha normal, mas ainda meio irreal para a maioria das pessoas.

Sair com o iX é uma questão de ativar o motor com o botão de ligar e usar um seletor também em cristal, que não se parece em nada com uma alavanca de marchas, como alguns elétricos preferem fazer. A marcha aparece no painel, o seletor não para na posição.

É pisar e ele mostra do que é feito: é extremamente responsivo no acelerador, mais ainda se você configurar o modo esportivo, grudando os passageiros ao banco com quase 1G. A máxima é limitada a 220 km/h, mas não é como se houvessem autobahns no Brasil onde usar isso tudo. .

O BMW iX se comporta como um bólido. É maciço, massivo e supreendentemente ágil para seu tamanho. Ele tem a inércia toda de seu peso, que é sentida em freadas e numa tendência a acelerar na descida.

BMW iX na Imigrantes
BMW iX na Imigrantes | Foto: Mário Kurth/Olhar Digital

Mas isso apenas se você desativar a configuração padrão do acelerador, como eu fiz: o iX tem uma opção de consumo que usa “freio motor” e desacelera o carro ao tirar o pé do acelerador. Não chega a ser one pedal drive: você ainda precisa usar freio. Mas isso previne o carro de embalar de forma indesejada, e estende a duração da bateria. Como não é a experiência mais esportiva, e como eu não precisava economizar bateria, decidi desativar durante o teste.

Uma das coisas mais interessantes em dirigir o iX, e que você só percebe do banco do motorista e em ação, é o HUD (heads-up display). Como num avião militar, o carro projeta no vidro algumas informações básicas e importantes: a velocidade atual e a próxima instrução do GPS. Com isso, você pode manter o olhar na estrada constantemente.

A salvação para a chatice do trânsito

Quanto à aventura da viagem, eu não teria muito o que dizer. Seria o tédio da perfeição: uma viagem sem nenhum transtorno não é história para contar. Mas tivemos um problema na volta, e então descobri a tecnologia que mais me agradou de todas.

Como já é comum nessa faixa, o iX tem sistemas de piloto automático e permanência de faixa. De fato, a BMW tem um sistema próprio de GPS, capaz de entregar autonomia nível 3 (você dá o endereço e o carro vai sozinho, mas precisa estar no volante). Como a BMW está mapeando o Brasil para isso, pode acabar sendo a primeira a ter isso no país, e o iX e outros modelos devem receber essa autonomia na forma de uma atualização.

Na estrada, o piloto automático do BMW iX funciona como devia, mantendo a faixa e distância. Mas o que aconteceu na volta foi uma condição bem menos que ideal numa estrada: um congestionamento.

Na maioria dos carros, há uma velocidade mínima para iniciar um sistema de piloto automático. Mas, por pura curiosidade, resolvi fuçar enquanto o carro estava parado e eis que, não, não há mínima para o piloto automático do iX. Quer dizer que você pode ativar o piloto automático num congestionamento e o carro vai andar sozinho cada vez que o carro da frente começar a se mover de novo.

BMW iX no congestionamento
BMW iX no congestionamento | Foto: Mário Kurth/Olhar Digital

Você pode simplesmente (com o cuidado obrigatório de estar ao volante) ser guiado pelo fenômeno mais irritante para qualquer motorista. De todos os pedaços de futuro com que o pacote de tecnologia do iX brinda o motorista, esse definitivamente está no alto da lista para mim.

Preocupação ambiental

Por fim, para quem vai adquirir um carrão com tanta cara de carrão, pode tirar uma culpa da cabeça: diferente dos carrões tradicionais, não é um ataque ambulante ao meio ambiente. O iX é feito com plástico reciclado, metais de origem controlada, em fábricas alimentadas por energia renovável. O couro nos bancos (de gado criado solto) é tratado com azeite de olive, no lugar dos processos químicos normais (e poluentes) da indústria de couro. Até o detalhe em madeira do console central não usa verniz. E é, obviamente, um carro elétrico, que não vai queimar combustíveis fósseis em seu ciclo de vida (exceto se a energia elétrica vem de uma termoelétrica a combustíveis fósseis, o que não é geralmente o caso no Brasil).

Todas as montadoras tem um sério karma para pagar por emissões ao ambiente. Mas não há o que criticar em fazer certo. Como tudo o que está no BMW iX, espera-se que esse seja o padrão do futuro.

Meu tempo com o iX foi curto. Fiquei com ele entre as 9h e 17h. Foi só uma degustação, mas esse é um prato para não esquecer. É o topo de linha, é o carro chefe, é o flagship. É um carro de R$ 800 mil. Não se espera nada aquém do extraordinário, e extraordinário é o que ele entrega.

Nossa avaliação
Nota Final
9.2
  • Design
    9.0
  • Conforto
    10.0
  • Potência
    9.0
  • Custo-benefício
    8.0
  • Acessórios
    10.0

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