Um novo estudo liderado por cientistas do Reino Unido e da Áustria revelou que, de fato, a fome pode estar ligada a sentimentos negativos, como raiva ou irritabilidade. Como justificativa para a pesquisa, estava determinar até que ponto essa relação fome/raiva é verdadeira (inclusive partindo do uso coloquial da palavra “hangry”, em inglês, que é um misto entre “angry” e “hungry”, com a primeira significando “bravo” e a segunda “com fome”, em português).

Segundo o estudo, muito pouca pesquisa determinou diretamente até que ponto a relação entre fome e emoções negativas é robusta. Mais do que isso, conforme traz o professor de psicologia social Viren Swami, da Universidade Anglia Ruskin, no Reino Unido, a pesquisa analisou essa condição em ambientes cotidianos, em vez de em um laboratório.

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Usando aplicativo para coletar informações

Para os trabalhos dos cientistas, foram recrutados 121 adultos com idade entre 18 e 60 anos, com 64 deles completando o estudo. As mulheres representaram 81,3% da amostra – e foi usado um aplicativo baseado em método de amostragem de experiência (ESM) para a coleta de informações dos participantes (que se mantiveram anônimos nessa tarefa).

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Durante 21 dias, essas pessoas tiveram que responder na ferramenta em seus telefones a questionários curtos de forma semi-aleatória, cinco vezes ao dia, relatando momentos de experiências de fome e bem-estar emocional. “Isso nos permitiu gerar dados intensivos”, comentou o Dr. Stefan Stieger, professor de psicologia na Karl Landsteiner University of Health Sciences, na Áustria, que coordenou o trabalho de campo.

Dentre as informações coletadas dos participantes, havia detalhes sobre idade, nacionalidade, status de relacionamento atual, peso, altura e educação. Após apresentarem esses dados pessoais, as pessoas respondiam a perguntas sobre sentimentos atuais de fome, irritabilidade e raiva. Elas também relatavam seu estado emocional no momento e nível de alerta.

“Autorrelatos de fome (ou seja, como os participantes experimentam subjetivamente seus níveis de fome) são significativos no contexto da emotividade”, nas palavras do Dr. Swami. “Como a fome autorrelatada provavelmente depende da consciência dos sinais de fome, pode-se supor que ela reflete a extensão em que os efeitos fisiológicos da fome se traduziram em consciência e processos de atribuição.”

A fome se correlacionou com a raiva

Os pesquisadores então viram que a fome se correlacionou com uma variação de 56% na irritabilidade, uma variação de 48% na raiva e uma variação de 44% no prazer entre os participantes do estudo. Além disso, essas variações coincidiram com as flutuações diárias da fome e dos níveis médios de fome durante o período de três semanas.

Assim, foi possível “sugerir que a experiência da fome é traduzida em emoções negativas por meio de uma série de pistas e contextos situacionais cotidianos que são percebidos negativamente […]”.

“Em outras palavras, a fome pode não levar automaticamente a emoções negativas. Mas dado que as inferências sobre o significado do afeto tendem a ser relativamente automáticas e inconscientes, pode não demorar muito para que indivíduos famintos sintam raiva e irritabilidade.”

Algumas limitações no estudo foram consideradas, como o uso de medidas de item único para mensurar irritabilidade e raiva – que não permitiu aos cientistas explorar “nuances potenciais” em cada experiência. O Dr. Swami observou que ele e seus parceiros apenas mediam raiva, irritabilidade, excitação e prazer.

Foram excluídos outros estados emocionais para limitar a carga sobre os sujeitos do estudo. No entanto, para o professor, a pesquisa “sugere que ser capaz de rotular uma emoção pode ajudar as pessoas a regulá-la, como reconhecer que sentimos raiva simplesmente porque estamos com fome”.

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Imagem: djedzura/iStock

Via Medical News Today