Em um feito inédito, o rover Perseverance, da NASA, capturou o som de uma tempestade de poeira em Marte. Segundo um comunicado da agência, a gravação pode ser a chave para entender como a poeira é transportada pelos redemoinhos marcianos.

Ainda de acordo com a nota, o som foi obtido por um microfone localizado no instrumento SuperCam, em 27 de setembro de 2021, durante o sol 215 da missão – sol é como se chama um dia marciano, que tem cerca de 40 minutos a mais do que um dia na Terra.

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Outros instrumentos também detectaram o redemoinho de poeira. Imagens foram feitas pela NavCam e medições de temperatura e pressão foram aferidas pelo Mars Environmental Dynamics Analyzer (MEDA). 

Além disso, os cientistas usaram o microfone para calcular com precisão a velocidade do vento com base na intensidade do som das rajadas.

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O rover Perseverance já havia detectado 90 redemoinhos de poeira em Marte, mas aquela foi a primeira vez que ele teve a sorte de estar com seu microfone ligado no momento exato.

“Com esta gravação do redemoinho de poeira, podemos realmente ouvir e contar partículas impactando o rover”, disse Naomi Murdoch ao site Space.com. Ela é cientista planetária do Instituto Superior de Aeronáutica e Espaço (ISAE-SUPAERO) da Universidade de Toulouse, na França, e principal autora do estudo.

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Com base na gravação de áudio, nas imagens e nas medições de temperatura e pressão, Murdoch e seus colegas determinaram que o redemoinho de poeira tinha cerca de 25 metros de diâmetro e pelo menos 118 m de altura, movendo-se a 5,3 m/s.

Imagem captada pela NavCam do rover Perseverance mostra um redemoinho de poeira em Marte. Créditos: NASA/JPL-Caltech/SSI

As gravações de som quantificaram um total de 308 impactos de grãos de poeira no rover, transportados pelos ventos do redemoinho, e esses impactos foram distribuídos em três ondas. 

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A primeira leva ocorreu quando a borda giratória do redemoinho de poeira começou a passar sobre o Perseverance. Outro grupo veio quando a borda de fuga alcançou o veículo explorador, com concentrações de poeira nas paredes do vórtice. No entanto, a maioria dos impactos se deu quando o centro de baixa pressão do vórtice estava girando acima do rover, o que, segundo a agência, foi uma surpresa intrigante. 

Normalmente, seria de se esperar que a maior parte da poeira estivesse concentrada nas paredes do redemoinho, onde as velocidades do vento são bem altas. Já o centro de um evento como esse deve, em comparação com as paredes do vórtice, ser relativamente calmo e claro. 

Neste redemoinho em particular, todavia, parecia haver uma concentração de poeira no meio do vórtice. E a estranheza não foi um acaso na gravação, já que a NavCam do Perseverance também detectou essa poeira interna.

“Este redemoinho de poeira em particular é incomum mesmo para Marte”, disse Murdoch. “Não sabemos ao certo por que a poeira se acumulou no centro, mas pode ser porque o redemoinho ainda estivesse em sua fase inicial de formação”.

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Estudos anteriores revelaram que redemoinhos de poeira e rajadas de vento isoladas são responsáveis por manter uma quantidade significativa de poeira na atmosfera marciana, mesmo fora da estação de tempestades de areia. 

No entanto, a quantidade de poeira que os redemoinhos movimentam e o processo pelo qual eles levantam a poeira do chão permanecem desconhecidos, e é por isso que encontrar um evento com essa poeira extra no meio pode ser uma peça importante do quebra-cabeça.

Essas descobertas ilustram a importância do ambiente sônico como uma nova fronteira para os cientistas planetários explorarem.

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