Uma publicação feita nesta segunda-feira (18) em uma conta atribuída ao Telescópio Espacial James Webb (JWTS) no X (antigo Twitter) traz um vídeo viral que mostra como Júpiter atuaria como escudo protetor da Terra, mas ressalta que as coisas talvez não sejam bem assim.

Há muito tempo se acredita que a poderosa gravidade de Júpiter ajuda a desviar asteroides e cometas para longe da Terra. No entanto, poucas evidências concretas apoiam essa teoria, no mínimo, reconfortante. 

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Alguns estudos sugerem exatamente o contrário, como um artigo publicado em 2010 pela Oxford University Press.  Usando simulações de computador, o astrofísico Jonti Horner, da Universidade de Nova Gales do Sul, Austrália, e o professor Barrie Jones, da Universidade Aberta, do Reino Unido, descobriram que Júpiter, na verdade, aumenta o risco de um impacto cósmico na Terra. 

As simulações feitas pelos pesquisadores revelam que, embora o gigante gasoso faça um bom trabalho ao desviar cometas que vêm de muito além do nosso Sistema Solar, ele faz o oposto em relação a cometas e asteroides próximos, colocando-os em uma rota de colisão com a Terra e aumentando a taxa geral de impacto.

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Grandes impactos podem ter sido positivos e negativos para a Terra

No início da história da Terra, acredita-se que ela foi atingida por um objeto que tinha entre uma e três vezes a massa de Marte – que teria formado a nossa Lua. De acordo com uma matéria de 2009 do jornal The New York Times, se esse impacto não ocorresse, nosso mundo provavelmente seria mais parecido com Vênus, com temperaturas superficiais incapazes de suportar água líquida e de abrigar a vida. 

Posteriormente, uma chuva de cometas e ataques intensos de asteroides teriam atingido o planeta quando jovem, o que liberou os compostos voláteis necessários para a formação da atmosfera, hidrosfera e biosfera. 

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O impacto de um asteroide contra a Terra pode ter consequências devastadoras a depender do tamanho da rocha e do local antigido. Crédito: Dima Zel/Shutterstock

Mais adiante, no entanto, os mesmos tipos de impactos que entregaram elementos formadores de vida a uma Terra jovem poderiam tê-la aniquilado.

Houve cinco grandes eventos de extinção em massa na história da Terra. Enquanto algumas espécies oportunistas prosperavam na carnificina, a biosfera levou tempo para recuperar a diversidade presente antes de cada um desses episódios catastróficos.

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Afinal, Júpiter é um amigo ou um inimigo da Terra?

Um estudo da Fundação B612 revelou que, entre 2000 e 2013, nosso planeta foi atingido por 26 objetos que explodiram com força entre uma e 600 quilotoneladas (40 vezes a potência da bomba de Hiroshima).

Podemos dizer que temos sorte, porque se os eventos de impacto fossem ainda maiores ou mais frequentes, a biosfera da Terra seria totalmente diferente do que é hoje – talvez, até inexistente. 

Muitos, no entanto, acham que não tem nada a ver com sorte, defendendo a tese de que devemos isso a Júpiter. É uma crença amplamente difundida de que o nosso vizinho gigante atua como escudo cósmico, diminuindo drasticamente o fluxo de planetesimais (corpos rochosos oriundos do início do Sistema Solar) entre os planetas mais próximos do Sol. 

Por mais popularizada que seja a noção de Júpiter como “escudo contra cometas”, sua origem é obscura. Segundo Horner e Jones” a ideia de que um planeta gigante é necessário além da órbita de um rochoso, para que este seja habitável, está bem enraizada na comunidade astronômica, mas é difícil encontrar as origens de Júpiter como escudo”.

Júpiter pode ser, ao mesmo tempo, aliado e inimigo do nosso planeta. Crédito: Vadim Sadovski – Shutterstock

Esse conceito ganhou força por meio do livro Rare Earth (Terra Rara), escrito por Peter Ward, geólogo e biólogo evolutivo, e Donald E. Brownlee, cosmólogo e astrobiólogo. Nele, os autores afirmam que “por limpar nosso Sistema Solar de perigosos asteroides e cometas que cruzam a órbita da Terra, Júpiter tem uma influência benéfica na vida no nosso planeta”.

O livro, por sua vez, se baseia em um estudo de George Wetherill, que faz uma referência a Júpiter como algo parecido como “uma barreira que deve ser penetrada tanto pelos cometas da nuvem de Oort quanto pelos asteroides do cinturão de Kuiper se quiserem alcançar órbitas de cruzamento da Terra”.

No entanto, o termo “barreira” tem uma conotação na dinâmica planetária que implica que Júpiter é mais um filtro dinâmico ou membrana do que um escudo impenetrável.

Em um artigo seguinte, publicado anos mais tarde, Wetherill concluiu que “sistemas planetários rochosos mais facilmente semelhantes aos nossos podem ser abundantes, mas perigosos, a menos que protegidos por planetas gigantes gasosos”.

Tirada de contexto, esta passagem é lida como se o autor argumentasse a favor da função de Júpiter como escudo. No entanto, segundo o Space Journal of Arcadia, a alegação foi, na verdade, feita em referência ao papel de Júpiter de livrar o Sistema Solar externo de seus últimos planetesimais restantes – atraindo-os para dentro, ou seja: para os arredores da Terra e dos planetas próximos.

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As duas coisas

Para o cenário de Júpiter como amigo, parece haver um viés de seleção, e apenas eventos em que ele pode ter de fato protegido a Terra são normalmente relatados nas pesquisas. Já os casos em que o gigante colocou o nosso planeta em sua mira cósmica, arremessando asteroides e cometas contra nós, foram amplamente ignorados.

Um exemplo é o cometa C/1995 O1 Hale-Bopp. Com base nos elementos orbitais logo após o objeto ter sido observado pela primeira vez, em 1995, ele parece ter feito sua última aproximação do Sol há 4.200 anos, passando muito perto da Terra no caminho. Modelagens computacionais mostram que o cometa provavelmente foi atraído por Júpiter poucas semanas antes da descoberta, vindo a se aproximar da Terra dois anos depois, quando ficou conhecido como o “Grande Cometa de 1997”.

Há um exemplo ainda mais preocupante de Júpiter atuando como inimigo da Terra. É o caso do cometa D/1770L1 Lexell, cuja passagem pelo nosso planeta em 1770 foi o quase acidente cometário mais próximo registrado na história. Ele passou a apenas pouco mais de dois milhões de km da Terra (cerca de cinco vezes a distância daqui até a Lua). 

Três anos antes, o mesmo objeto havia se aproximado de Júpiter, o que alterou seu trajeto para uma órbita ameaçadora da Terra. Lexell novamente teve um encontro com Júpiter em 1779, que o ejetou do Sistema Solar inteiramente. 

Portanto, com esse cometa, o gigante gasoso agiu primeiro como um perigo para a Terra e depois como um protetor.

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