Ele conseguiu! Depois de muita expectativa, e um adiamento inesperado, o helicóptero Ingenuity fez seu primeiro voo em Marte e entrou para a história como a primeira aeronave a rotor a voar na superfície de outro planeta.

Com isso está aberto o caminho para que em missões futuras, tripuladas ou não, drones sejam usados para auxiliar na exploração do planeta vermelho, seja para obter imagens aéreas de um local, seja para explorar um terreno inóspito com muito mais agilidade do que usando um rover.

Mas… e agora? Após o primeiro voo, o que acontece com o Ingenuity?

Descanso merecido

Após o voo desta segunda-feira (19), o Ingenuity irá “descansar” por um dia enquanto usa um painel solar sobre suas hélices para recarregar suas baterias.

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Enquanto isso, equipes aqui na Terra estarão recebendo e analisando todas as imagens e dados de telemetria recebidos para formular um plano para o segundo voo, que não deve acontecer antes da próxima quinta-feira (22).

“Se o helicóptero sobreviver ao segundo teste, a equipe ira considerar a melhor forma de expandir o escopo dos testes”, disse a agência espacial norte-americana, Nasa. 

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Mais voos do Ingenuity

A partir do momento em que o rover Perseverance pousou em Marte, em 18 de fevereiro, começou uma janela de 30 “sóis” (como são chamados os dias em Marte) para que a equipe do Ingenuity realize até cinco voos de teste. O voo desta segunda-feira ocorreu no 16º Sol, o que significa que há mais duas semanas para que os voos restantes possam ser realizados.

A ideia é que cada voo subsequente seja um pouco mais complexo que o anterior, com a expectativa de que no quinto voo o Ingenuity seja capaz de subir a cinco metros de altura, escolher um local a 50 metros de seu ponto de partida, se deslocar até lá e pousar. A duração máxima de um voo é de 90 segundos, limitada pelas baterias a bordo do helicóptero.

Vale lembrar que todos os voos do Ingenuity são autônomos, graças a um poderoso computador de bordo baseado em um processador Qualcomm Snapdragon rodando Linux.

Atualmente, são necessários 16 minutos para que um sinal de rádio saia da Terra e chegue até Marte, e mais 16 minutos para que ele retorne, o que torna qualquer tipo de controle direto impossível.

Primeiro “aeroporto” fora da Terra

O local de decolagem do Ingenuity em Marte foi batizado pela Nasa de Wright Brothers Field e recebeu da ICAO (International Civil Aviation Organization, Organização Internacional da Aviação Civil) a designação JZRO, assim como aeroportos aqui na Terra. 

Já o helicóptero ganhou o identificador IGY e o “call sign” INGENUITY. Ambos serão registrados oficialmente na próxima edição do guia “Designators for Aircraft Operating Agencies, Aeronautical Authorities and Services”.

Ingenuity é “prova de conceito”

A Nasa compara o voo do Ingenuity ao primeiro voo dos irmãos Wright, pioneiros da aviação que decolaram com seu “Wright Flyer” em 1903. A conexão é mais forte se considerarmos que o Ingenuity leva em sua fuselagem um pedaço da lona usada para revestir uma das asas do Wright Flyer.

“117 anos depois que os irmãos Wright conseguiram fazer o primeiro voo em nosso planta, O helicóptero Ingenuity da Nasa conseguiu realizar o mesmo feito em outro mundo”, disse o Dr. Thomas Zurbuchen, administrador adjunto da Nasa.

O helicóptero também é comparado ao Sojourner, primeiro rover da Nasa em Marte, que chegou ao planeta vermelho em 4 de julho de 1997 e abriu caminho para todos os rovers posteriores, como o Spirit, Opportunity, Curiosity e Perseverance.

Retrato de família a bordo do rover Perseverance traz menção a missões passadas da Nasa
Placa a bordo do rover Perseverance traz menção às gerações anteriores de rovers da Nasa

“O Ingenuity é um teste experimental de engenharia – queremos ver se podemos voar em Marte”, disse MiMi Aung, gerente do projeto no Jet Propulsion Laboratory (JPL). Com uma atmosfera que tem apenas 1% da densidade da nossa, Marte é um desafio aerodinâmico e exigiu que os rotores do Ingenuity girassem a 2.500 RPM, cinco vezes mais rápido que um helicóptero na Terra.

“Não há instrumentos científicos a bordo e nem metas de obtenção de informações científicas. Estamos confiantes que todos os dados de engenharia que desejamos obter na superfície de Marte e no alto podem ser obtidos dentro dessa janela de 30 sóis”, lembra Aung.