O que um simples artigo e o trabalho brilhante de um diretor podem fazer com uma franquia, não? A ideia de investir novamente no grupo de antagonistas da DC Comics soava, assim como o próprio nome sugere, autodestrutiva. Após a não tão boa recepção da crítica e do público com o longa de David Ayer, em 2016, qual seria a melhor estratégia para continuar e revigorar ‘O Esquadrão Suicida‘? Bem, a Warner Bros. apostou 100% no talento e brilhantismo de James Gunn para dirigir e roteirizar um produto bizarro, caótico, divertido e, tal qual a equipe, insanamente alinhado e coeso. Em um espetáculo criativo e superviolento, o cineasta traz um filme digno para o grupo (não tão quanto) e, talvez, o melhor até agora do universo atual da editora de quadrinhos nos cinemas.

Em suma, a produção pega o que funcionou no filme anterior e multiplica, tanto em elenco, violência, humor e ação. Na trama, o grupo de supervilões é recrutado pelo governo para uma missão em uma ilha remota da América do Sul. O objetivo, de acordo com a fria e incisiva Amanda Waller (Viola Davis), é chegar a um projeto ultrassecreto, que ameaça a segurança do mundo e, em troca, os prisioneiros têm a pena diminuída. O retorno de quatro personagens já estabelecidos e a mesma premissa do filme de 2016 são as únicas semelhanças entre as duas histórias – algo que foi sagaz para aproveitar um público já familiarizado com a ideia do Esquadrão e introduzir de forma mais dinâmica e rápida a ação.

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Nanaue, Daniela Melchior (Caça-Ratos 2), Joel Kinnaman (Rick Flag), Idris Elba (Sanguinário), Margot Robbie (Arlequina), John Cena (Pacificador), Peter Capaldi (Pensador), David Dastmalchian (Bolinha) e Julio Cesar Ruiz (Milton) em ‘O Esquadrão Suicida’. Imagem: Warner Bros. Pictures/DC Comics

E o total controle criativo de Gunn já é observado logo nos primeiros 15 minutos de ‘O Esquadrão Suicida’. Além de rapidamente contextualizar o longa de 2016 e reintroduzir Waller, Rick Flag (Joel Kinnaman), Capitão Bumerangue (Jai Courtney) e Arlequina (Margot Robbie), o cineasta mostra que o grande número de peças no elenco – cheio de vilões de quinta categoria, talvez o que há de pior e mais irrelevante da DC – é completamente descartável para o enredo. Desde o início, o filme mostra o tom hilário com um pouco de gore que ditará o tom no decorrer de 132 minutos.

A assinatura do diretor também é visível em quase todos os aspectos técnicos de produção. Desde a trilha sonora – algo que ele trabalhou muito bem em ‘Guardiões da Galáxia’ – que varia do rock clássico ao épico das batidas technopop, a edição de cenas que foca na paisagem natural, mas que não foge de focar nos efeitos especiais quando necessário (aliás, impecáveis) ou até mesmo nas sequências de lutas bem coreografadas e repletas de fotografias excelentes – sério, parece que cada quadro do longa é um screenshot trabalhado de forma única, seja para destacar a beleza/loucura de Arlequina e Idris Elba (Sanguinário) ou mesmo as mortes sanguinárias bem trash dos anos 1980.

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James Gunn é o responsável por fazer de ‘O Esquadrão Suicida’ o melhor filme do Universo Estendido DC. Imagem: Warner Bros. Pictures/DC Comics

Embora o método “transformar vilões em protagonistas” tenha sido frequente nos últimos anos em Hollywood, ainda há um desafio em tornar esse tipo de personagem o centro da trama equilibrando o lado perverso e o carisma para conquistar o púbico. Em ‘O Esquadrão Suicida’, o lado mal dos antagonistas se limita ao sadismo em combate e as formas de matar bastante tenebrosas – algo que Gunn já trabalhou bem em ‘Madrugada dos Mortos’ e ‘Tromeo & Juliet’. Com relação à gangue do filme, o público encontrará menos vilania e mais de algo bem similar aos ‘Guardiões da Galáxia’, também desenvolvido pelo cineasta: o desajuste grupal.

Afinal, a premissa de personagens com habilidades implacáveis, todavia surpreendentemente adoráveis, é algo que o diretor já fez e sabe arquitetar muito bem. Ainda sobre o roteiro, a história de ‘O Esquadrão Suicida’ não é algo deveras criativo – visto que até as franquias ‘Mercenários’ e ‘Velozes e Furiosos’ já utilizou da trama “heróis desalinhados que se juntam para acabar com governos/regimes ditatoriais”. No entanto, Gunn utilizada de argumentos já vistos para desenvolver melhor os personagens já conhecidos e os quase nunca vistos. Ou seja, o filme mostra personalidade não só graças ao cineasta, mas muito por conta das boas atuações. 

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Além de Gunn, boas atuações reforçam brilhantismo

Sylvester Stallone faz a voz do Tubarão-Rei em 'O Esquadrão Suicida'. Imagem: Warner Bros/DC Comics
Sylvester Stallone faz a voz do Tubarão-Rei em ‘O Esquadrão Suicida’. Imagem: Warner Bros/DC Comics

No grande elenco da produção da DC, cabe destacar os dois novos nomes que devem conquistar o público: Caça-Ratos 2 (Daniela Melchior) e Tubarão Rei (Sylvester Stallone). Enquanto a atriz portuguesa atua como a bússola moral do grupo e é responsável pelas cenas com maior teor emocional – incluindo a abordagem de forma muito comovente e natural do clichê “amigos que viram família” -, Nanaue é o maior escape cômico e até “fofo” em meio a todo o filme, e vale ressaltar que o personagem participa de forma ativa e presente na trama, não sendo apenas um “Meu nome é Groot” com objetivos comerciais.

O Pacificador de John Cena traz um fator interessante e que não havia sido abordado com clareza no primeiro filme de Ayer: a rivalidade – afinal, é grupo cheio de vilões. Ao lado do Sanguinário, o vilão protagoniza momentos de tensão bacanas para ver quem é o “supremo atirador” do grupo – visto que ambos têm, praticamente, as mesmas habilidades e características temperamentais. Analisando por trás das câmeras, o lutador/ator não tem medo de abraçar o estilo “machão” e piegas com muito humor e personalidade.

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Já Elba interpreta, de fato, o líder do grupo e levemente protagonista da produção. Porém, por mais que Gunn trabalhe ao longo de toda a trama para mostrar ao público que Sanguinário é diferente do Pistoleiro (Will Smith), infelizmente não há como evitar comparações. Salvo a fobia de ratos que mostra o quão o ator pode ser engraçado, a primeira metade do filme não favorece muito a construção de personalidade do personagem, e muitos ainda irão comparar um ao outro.

Idris Elba (Sanguinário, John Cena (Pacificador) e Joel Kinnaman (Rick Flag) juntos em cena. Imagem: Warner Bros. Pictures/DC Comics

No entanto, o protagonismo de Elba cresce de forma quase gritante no decorrer de ‘O Esquadrão Suicida’ e, em tempo, consegue mostrar o porquê de ser o líder do pitoresco grupo. Uma pena, no entanto, que isso não ocorre com muitos outros personagens que foram evidenciados no marketing da produção – se espera ver mais de Alice Braga, desista. A brasileira apenas cumpre uma função e fica por isso…

E quanto aos atores e atrizes que retornam do primeiro filme? Bem, saiba que Arlequina mantém a evolução como personagem que mostrou em ‘Aves de Rapina’ e brlha ainda mais – sem roubar a cena dos colegas do Esquadrão. E não só por dar sequência aos atos de insanidade, ou por conta do novo figurino, mas sim graças ao excelente trabalho de Robbie que, nas mãos de Gunn, faz com que ela, inclusive, protagonize uma das melhores sequências de ação do Universo Estendido DC. Já Kinnaman, como Flag, é excelente: o ator dá uma nova faceta ao líder de campo e desenvolve a sua jornada de forma menos travada e mais simpática, pegando o público de surpresa em certos momentos.

‘O Esquadrão Suicida’ ainda conta com atuações de peso de dois nomes aclamados e experientes: Viola Davis e Peter Capaldi. Comparado ao filme anterior, creio que Waller parece em menos cenas, contudo exibe as mesmas características impetuosas e tiranas, e performa com tranquilidade até mesmo nos momentos de surtos e nervosismo. Já o eterno ‘Doctor Who’ aparece com uma caracterização bizarra e entrega um Pensador que, mesmo sem ação, desafia a todos de maneira ameaçadora. É graças à total falta de escrúpulos do cientista que o terceiro ato frenético e majestoso ocorre – e por motivos críveis e compreensíveis.

Margot Robbie é a Dra. Harleen Quinzel / Arlequina em 'O Esquadrão Suicida' (2021). Imagem: Warner Bros. Pictures/Divulgação
Margot Robbie como Arlequina em ‘O Esquadrão Suicida’. Imagem: Warner Bros. Pictures/Divulgação

‘O Esquadrão Suicida’ reinventa a franquia e traz filme maravilhoso

‘O Esquadrão Suicida’ não deve deixar todos felizes, principalmente àqueles que preferem produções de heróis mais questionadoras e reflexivas, tal qual Christopher Nolan e Zack Snyder fizeram, porém é aí que está o grande acerto de James Gunn: o filme não tem grandes ambições. Hilário, violento, repleto de boas atuações e com uma história que abre espaço ainda para críticas políticas, o novo filme é, com certeza, o melhor já feito em meio ao Universo Estendido DC – que iniciou em 2013, com ‘Homem de Aço’.

Também vale ressaltar o quão o longa traz a mesma ideia moral construída pela série ‘The Boys’: como seres superpoderosos seriam usados no mundo real e a quem estariam servindo? De qualquer forma, é graças a Gunn que ‘O Esquadrão Suicida’ pavimenta um caminho – e cria expectativas – para o futuro da franquia, além de tirar o gosto amargo deixado pelo longa de 2016.

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‘O Esquadrão Suicida’ reinventa a franquia e traz filme maravilhoso. Imagem: Warner Bros. Pictures/Divulgação

Ficou com vontade de assistir ao filme? Saiba que ‘O Esquadrão Suicida‘, estrelado por Margot Robbie, Joel Kinnaman, Viola Davis, Idris Elba, John Cena, David Dastmalchian, Daniela Melchior, Sylvester Stallone e Alice Braga estreia nesta quinta-feira (5) nas salas de cinema em todo o Brasil. Confira mais detalhes com a sinopse oficial e o trailer logo abaixo:

“Bem-vindos ao inferno, também conhecido como Belle Rave, a prisão com o maior indíce de mortalidade dos EUA, onde os piores super vilões são mantidos e onde eles farão de tudo para sair — até mesmo se juntar à super secreta, super suspeita Força-Tarefa X. A missão de hoje? Juntar um grupo de bandidos, como Sanguinário, Pacificador, Capitão Bumerangue, Caça-Ratos, Sábio, Rei Tubarão, Blackguard, Dardo e a psicopata favorita de todos, Arlequina. Eles recebem armamentos pesados e são atirados (literalmente) na remota, e cheia de inimigos, ilha de Corto Maltese. Atravessando a selva cheia de miliatres adversários, o Esquadrão está em uma missão de localizar e destruir, com só o Coronel Rick Flag para fazê-los se comportar, e os tecnoctras do governo de Amanda Waller em seus ouvidos, rastreando cada movimento”

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