Segundo um levantamento feito pelo Grupo de Pesquisas Astronáuticas (ARG, na sigla em inglês), os satélites da Starlink, serviço de internet oferecido pela SpaceX, estão envolvidos em cerca de 1,6 mil eventos de risco de colisão com outros objetos espaciais em órbita da Terra.

Hugh Lewis, chefe de pesquisa do grupo, usou informações da base de dados conhecida como “Socrates” (inglês para “Relatórios de Satélites Orbitais que Avaliam Encontros Perigosos no Espaço”) para determinar diversos casos onde objetos espaciais passaram a uma proximidade inferior a um quilômetro (1 km) de outro objeto em órbita — mesmo que esse “quase” encontro tenha sido entre dois satélites da plataforma.

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Foto tirada da base de um satélite da Starlink, que se envolve em riscos de colisão 1,6 mil vezes por semanaem situações de colis
Os satélites da Starlink são os mais numerosos atualmente orbitando a Terra: a SpaceX já lançou cerca de 1,7 mil deles, contribuindo para um grande aumento no risco de colisões. Imagem: Starlink/Divulgação

Provedores de internet via satélite têm em comum a constante preocupação de mover seus satélites pela órbita da Terra, por diversos motivos: o mais óbvio é a amplitude de cobertura do serviço, a fim de evitar gargalos ou quedas de qualidade de conexão. Outra situação envolve o lançamento de naves espaciais e foguetes, que têm prioridade de trajetória, forçando satélites a saírem do caminho.

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O problema é que a base Socrates não apenas analisa possíveis casos que ocorreram, mas também promove monitoramento a fim de criar modelos preditivos. Lewis, um dos principais pesquisadores do ramo na Europa, vem publicando seus relatos no Twitter, e a situação para ele é preocupante:

“Eu tenho olhado para os dados, voltando até maio de 2019, quando a Starlink teve seu primeiro lançamento, para entender o peso trazido por essas mega constelações [nome atribuído a um grande conjunto de satélites]”, disse ele. “Desde então, o número de encontros marcados pela Socrates mais que dobrou, e agora estamos em uma situação onde a Starlink é responsável por pelo menos a metade deles”.

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Preocupações em relação a problemas causados pela Starlink e constelações similares não são novas: em abril de 2021, a União Astronômica Internacional produziu um levantamento que indicava outro problema — o céu está ficando mais brilhante e dificultando o trabalho de observação dos astrônomos.

No mês seguinte, dois satélites — um da Starlink, e outro da concorrente Oneweb — quase colidiram. Entre os satélites da empresa de Elon Musk e os de empresas concorrentes, há cerca de 500 “quase encontros” toda semana, segundo Lewis.

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Siemak Heser, CEO da Kayhan Space, confirma essa percepção. A empresa de Boulder, Colorado, especializa-se no desenvolvimento de sistemas de tráfego para satélites e relata que um operador de sua empresa que gerencie 50 desses objetos deve receber algo em torno de 300 alertas de possível choque por semana — e tem que agir com manobras evasivas em pelo menos 50 desses avisos.

Heser baseou suas informações em uma base de dados obtidos por meio de monitoramento da Força Espacial, a área do governo dos Estados Unidos que fiscaliza ações pertinentes ao espaço. Segundo o CEO, a base dá conta de cerca de 30 mil satélites — funcionais ou desativados — com tamanho mínimo de 10 centímetros (cm), oferecendo até mesmo localização em tempo real de todos eles.

O problema é que esse número está aumentando — e vai continuar a aumentar de forma rápida, já que as empresas do ramo continuamente lançam cada vez mais satélites a fim de ampliar a cobertura de seus serviços. “Isso está saindo do controle”, disse o CEO. “Os processos atualmente implementados são muito manuais, não escaláveis e não há informação suficiente compartilhada entre as partes envolvidas para atuar no caso de uma colisão acontecer”.

O pior é que, no caso de um choque realmente acontecer, não serão apenas os dois objetos que colidiram que serão afetados: destroços do impacto podem ser ejetados em todas as direções, atingindo outros satélites ou corpos celestes de pequeno porte, alterando suas trajetórias sem aviso prévio.

Até o momento, a SpaceX e a Oneweb não comentaram o levantamento.

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