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Com quase 365 dias de ChatGPT, muitos talvez nem se lembrem mais de como era a vida antes do chatbot, que revolucionou o mercado de inteligência artificial generativa. Responsável por trazer holofotes para o tipo de tecnologia, o programa otimizou processos de criação, inflou debates entre governos sobre segurança e impacto social, e ainda desencadeou uma ‘corrida da IA’ – que, ao mesmo tempo em que aqueceu o mercado, preocupou especialistas. 

Pensando nisso, e em tudo que se passou desde sua chegada em novembro de 2022, o Olhar Digital preparou uma retrospectiva para entendermos melhor de onde saímos e para onde estamos indo com o ChatGPT e a inteligência artificia (IA). 

Leia mais!

IA: o tema do ano 

O ChatGPT é um modelo de inteligência artificial conversacional desenvolvido pela OpenAI baseado na arquitetura GPT. O sistema de IA, lançado em 30 de novembro de 2022, nada mais é que um modelo de linguagem treinado para conversar e responder perguntas da forma mais natural possível, quase como se fosse um humano. 

Segundo Arthur Igreja, especialista em tecnologia e inovação, as mudanças com a chegada do chatbot foram monumentais, afetando não apenas a forma de pesquisar e criar conteúdo, mas atualizando os setores de medicina, automobilístico e até do agronegócio. Segundo ele, em entrevista ao Olhar Digital, quando o sistema completava seis meses, todas as empresas de tecnologia voltaram suas estratégias para a IA, tornando-a uma prioridade de 2023.  

Agora, após quase um ano da chegada do bot, Igreja conclui: “Com sua chegada, inúmeras pessoas passaram a usar e se interessar pelo assunto. E isso é fantástico”. 

O principal ponto positivo é a democratização do uso da IA, que até então era um tema para ficcionados, para tecnófilos ou para quem era muito do ramo de tecnologia. [Agora] Além das integrações, há muitas possibilidades por toda essa onda que veio com a inteligência artificial a reboque. 

Arthur Igreja, especialista em tecnologia e inovação.

Para Bruno Alano, brasileiro que atuou em um grupo de pesquisas da OpenAI, os impactos da tecnologia não foram apenas significativos, mas multifacetados. Assim como Igreja, o especialista celebra principalmente a democratização do acesso à inteligência artificial.

O fato de levar a tecnologia de ponta para o usuário final acelerou um processo de adoção e compreensão que, tradicionalmente, levaria anos. Isso não apenas estimula a inovação, mas também envolve a sociedade ativamente no desenvolvimento e na adaptação dessa tecnologia, o que é vital para garantir que ela seja moldada de acordo com as necessidades e valores humanos.

Bruno Alano, ex-pesquisador da OpenAI, em entrevista exclusiva ao Olhar Digital.

Comprovando a influência do ChatGPT no que diz respeito à IA, uma pesquisa realizada pela Collins, renomado dicionário inglês, apontou que o termo foi o mais procurado do ano, sendo escolhido como o mais notável de 2023. A escolha reflete a popularidade e a ascensão significativa da tecnologia na sociedade atual. 

Vale lembrar que, não parando no lançamento de 2022, usuários mal haviam aprendido a usar o ChatGPT quando a OpenAI incendiou o mercado lançando, quatro meses depois, o GPT-4, uma versão ainda mais avançada e poderosa do produto. Ele foi disponibilizado para os usuários pagantes do ChatGPT Plus e por uma API pública. 

Não esperávamos todo o sucesso do ChatGPT e sua tecnologia fundamental. O caminho da inovação disruptiva é muitas vezes imprevisível, e os impactos de uma tecnologia emergente como a inteligência artificial nem sempre podem ser estimados com precisão. Quando nos aventuramos no desenvolvimento dos primórdios do ChatGPT, sabíamos do potencial significativo da IA e de seu papel crescente na sociedade, mas a magnitude do seu sucesso ultrapassou nossas expectativas iniciais.

Bruno alano, ex-pesquisador da Openai, ao Olhar Digital.
Bard Bing ChatGPT
(Imagem: AdriaVidal / Shutterstock)

A tal corrida da IA 

Com o boom do produto da OpenAI, que recebeu apoio de ninguém menos que Microsoft, um alerta tocou para todas as big techs e empresas de tecnologia, dando início a chamada corrida da IA.

Entenda a disputa em pontos: 

  • Companhias como Google, Amazon, Meta e até a Samsung entraram na briga para lançar, o mais rápido possível, um produto tão bom quanto o da OpenAI. Até a Microsoft, que já possui participação no ChatGPT, quis lançar seu próprio chatbot de IA — e lançou. Denominado Bing, ele compete diretamente com o Bard, do Google; 
  • Mas a corrida não parou por aí, tendo na competição ainda a China: a Alibaba e a Baidu lançaram concorrentes do ChatGPT, apimentando ainda mais a disputa de longa data entre as potências EUA x China — só este ano, a China lançou mais de 70 modelos de linguagens; 
  • A Alemanha é uma das mais recentes a subir no ringue: o governo do país anunciou um plano de investimentos de mais de R$ 5 bilhões em IA nos próximos dois anos; 
  • Não podemos esquecer também da entrada de Elon Musk na disputa. O bilionário, que é “ex-OpenAI”, anunciou uma empresa focada em IA, a xAI. A tecnologia por ela desenvolvida foi liberada para usuários Premium do X no início deste mês; 
  • Por fim, também tivemos discretas novidades da Apple, que tem atuado de forma mais cautelosa no setor.

Vale explicar que a Apple já trabalha com tecnologia generativa há anos e preferiu não fazer alardes com uma enxurrada de produtos de IA. Apesar disso, em julho, foi divulgado que ela tem trabalhado silenciosamente em um sistema que desafia o ChatGPT e tantos outros — funcionários já estariam até testando a IA da Apple. 

O mesmo “burburinho” corre em relação à Amazon. Fontes ligadas à Reuters revelaram que a empresa já está treinando seu modelo de linguagem (LLM) — e que ele é bem mais poderoso que o GPT-4 da OpenAI.

Privacidade, fakes e perda de emprego: tudo culpa da IA? 

Aqui chegamos ao tópico que provavelmente terá importantes desdobramentos no próximo ano devido à quantidade de polêmicas que o ChatGPT trouxe. 

Desde a carta aberta assinada por Elon Musk e outros especialistas, que pedia uma pausa no desenvolvimento da IA para além do GPT-4, dado aos riscos da tecnologia, muita coisa rolou, indo de problemas com privacidade até um desespero em massa por pesquisas apontarem para a extinção de profissões com a expansão da IA.

Vamos em pontos: 

  • O primeiro grande boom negativo foi o possível impacto no mercado de trabalho, quando pesquisas, e o próprio ChatGPT, listaram várias profissões que acabariam com a chegada da IA. Muitas empresas, possivelmente sem um planejamento, até embarcaram na onda – como é o caso da IBM, por exemplo. Ela foi uma das primeiras empresas a demitir funcionários pensando nessa substituição por IA; 
  • A ONU precisou interferir no alarde dos empregos e, após pesquisa, divulgou que a tecnologia não iria “roubar” empregos, mas que algumas ferramentas poderiam, sim, mudar rotinas; 
  • Pesadelo dos professores, a IA também passou a ser malvista devido aos inúmeros plágios. Assim, discussões sobre direitos autorais passaram a ser o centro dos conflitos no meio do ano; 
  • Podemos mencionar também os problemas de desinformação reproduzidas pelo ChatGPT – vale ressaltar que existe um alerta na plataforma de que é possível criar informações imprecisas sobre fatos, locais e pessoas; 
  • Indo além neste caminho, a tecnologia passou a servir ainda como ferramenta para criação de imagens e áudios fakes, desde publicidades não autorizadas com Tom Hanks e Scarlett Johansson a nudes de adolescentes nas escolas (nos EUA e até no Brasil) — casos que a polícia investiga; 
  • Em seu conflito mais recente está a briga com atores e roteiristas de Hollywood: as classes estabeleceram o que seria a maior greve da história desde 1960 exigindo algumas mudanças, a principal delas sendo a proteção contra o uso de IA por produtores. 
Candidato esperando entrevista de emprego sentados ao lado de um robô com IA (inteligência artificial)
Imagem: Stokkete/Shutterstock

Segundo Bruno Alano, existem, sim, desafios, e muitos deles foram previstos pela OpenAI, sendo primordial que organizações no campo da IA não visem exclusivamente o lucro, para equilibrar a inovação tecnológica com preocupações éticas e sociais. Ademais, no que diz respeito a perda de empregos, há complexidades na situação, mas isso não significa que uma onda de cortes acontecerá a curto ou longo prazo.

A questão de se a IA vai ‘roubar’ empregos é complexa e requer uma análise cuidadosa. Acredito que, de fato, a natureza de muitos empregos vai mudar. Com a evolução da inteligência artificial, certas posições e atividades terão que se adaptar às novas realidades do mercado de trabalho. Contudo, isso não significa necessariamente uma onda de demissões nos próximos meses ou anos. Ao contrário, acredito que a IA pode aumentar a produtividade dos profissionais em diversos campos.

Bruno Alano ao Olhar Digital.

O profissional pontua, no entanto, que tudo dependerá da compreensão de empresas e profissionais em entender o papel da IA e como ela pode ser integrada às funções. “O entendimento correto da IA é fundamental para que os profissionais possam se adaptar e prosperar em um mercado de trabalho cada vez mais influenciado pela tecnologia.

Lei da IA

Com toda essa movimentação, governos como o do Reino Unido tornaram a regulamentação da IA uma prioridade, com a União Europeia dando o primeiro passo para se estabelecer a pioneira na Lei da IA. 

  • Após estabelecer princípios para o uso da IA por big techs no país e propor regras de direitos autorais, o bloco liderou a primeira cúpula mundial de segurança da IA, realizada no início deste mês, no Reino Unido.  
  • Na cúpula, China, EUA e UE concordaram em trabalhar juntas pelo desenvolvimento seguro da inteligência artificial, um feito inédito e possivelmente histórico na trajetória da tecnologia; 
  • Rishi Sunak, primeiro-ministro do Reino Unido, se move estrategicamente para a Grã-Bretanha ser líder global na segurança da IA. O país anunciou o primeiro instituto de segurança de IA do mundo e, embora ainda não tenha um consenso sobre uma Lei, debatida com mais força desde a chegada do ChatGPT, o projeto segue na mesa como prioridade para o próximo ano
  • O país europeu, claro, não é o único no que virou uma corrida paralela da IA, essa pela regulamentação;
  • Tanto os EUA quanto o Japão estudam regras para regular a tecnologia, proteger usuários e, ao mesmo tempo, não impedir seu avanço — à Reuters, em julho deste ano, fontes disseram que as normas do Japão devem ser mais brandas que as da UE; 
  • Recentemente, a Organização das Nações Unidas (ONU) anunciou também a formação de um novo painel voltado para o campo. O grupo deverá apresentar relatórios sobre a governação, riscos e principais oportunidades. 

IA no Brasil

  • Vale destacar que, no Brasil, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, apresentou um novo projeto de lei (PL) para também regulamentar a tecnologia. A proposta segue em tramitação;
  • Recentemente, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) também emitiu seu primeiro relatório sobre IA e seus riscos para o país. Veja mais aqui;
  • Liderando as discussões sobre IA este ano no G20, o Brasil irá presidir a próxima reunião do bloco, que deve ocorrer em 2024. Os temas da reunião serão: efeitos da IA, a mitigação de seus riscos e o enfrentamento da desinformação.

O Brasil enfrenta desafios significativos para acompanhar a evolução da tecnologia de inteligência artificial no mesmo nível que as empresas internacionais, especialmente no que tange à criação e ao desenvolvimento de modelos fundamentais de IA. Uma das chaves para o Brasil deixar de ser apenas um usuário da IA de outros países é [justamente] a legislação.

Bruno Alano sobre avanço da IA no Brasil.

O especialista e ex-OpenAI destacou ainda afirma que outro ponto crucial é a formação e retenção de talentos na área, investimento que complementa a orientação às empresas.

Para que o Brasil avance de um mero usuário para um criador e inovador no campo da IA, é necessário um esforço coordenado entre governo, academia e indústria. Isso inclui políticas públicas adequadas, investimento em educação e pesquisa e um ambiente regulatório que favoreça a inovação e a competitividade.

Ilustração de mão humana quase tocando mão robótica de inteligência artificial
(Imagem: Willyam Bradberry/Shutterstock)

O futuro do ChatGPT (e a breve crise na OpenAI)

Segundo Arthur Igreja, é bem complicado traçar insights futuros, pois temos tantos lançamentos, e a própria OpenIA já anunciou uma série de evoluções. Estando a tecnologia e mercado em infinito movimento, a empresa revelou recentemente diversas mudanças, uma delas foi a chegada de mais melhorias no ChatGPT. 

Quase que como um presente de aniversário, a startup deu um upgrade no programa de IA e anunciou o GPT-4 Turbo, que ocupa agora a posição de IA mais poderosa já lançada pela OpenAI. Além dessa novidade, a empresa disse ainda que permitirá que qualquer pessoa agora crie seu ChatGPT, colocando o programa em um novo nível. 

A mudança no GPT-4 foi muito grande, com a possibilidade de customização, ou seja, a pessoa conseguirá criar literalmente o seu ChatGPT para usos específicos. Os próximos anos estarão ligados a ainda mais integrações, um aumento de poderio também da inteligência artificial em si, e mais possibilidades multimodais crescentes. O ChatGPT ganhou ainda essa questão de poder importar documentos e gerar imagens, acredito que tudo isso vai se potencializar de uma forma bastante grande. 

Arthur Igreja. 

Complementando a visão de Igreja, Alano acrescentou que o atual boom da IA trará um futuro onde a inovação será cada vez mais direcionada para o desenvolvimento de modelos menores e especializados, tudo parte de uma evolução natural do campo da inteligência artificial – tendência na qual a OpenAI já caminha com a nova capacidade de usuários criarem seu próprio ChatGPT.

Com o crescimento exponencial da IA, as empresas que conseguirem desenvolver e manter um ‘moat’ – uma vantagem competitiva sustentável – baseado em dados exclusivos e insights específicos do setor, estarão em uma posição privilegiada no mercado. O futuro da IA é promissor e oferece um potencial incrível para transformar positivamente vários campos, desde a saúde e educação até a indústria e os serviços.

Neste ritmo, empresas como a OpenAI podem não apenas ser parte importante de uma histórica evolução, a partir de um pioneirismo responsável, como ter recordes de lucros. Um relatório do The Information antecipou recentemente que a startup pode alcançar uma receita de mais de US$ 1 bilhão no próximo ano.

Inferno astral? O vai e volta de Sam Altman e a queda do Conselho da OpenAI

As previsões para não apenas aumentar sua receita, mas seu valor de mercado, no entanto, quase foram por água abaixo curiosamente no mesmo mês em que o ChatGPT da OpenAI completa um ano. Entenda abaixo!

Vamos em pontos:

  • Com o ChatGPT prestes a completar um ano (e um ano de muito sucesso), a OpenAI decidiu demitir ninguém menos que o CEO da empresa, Sam Altman;
  • O que a companhia não esperava era a reação extremamente negativa do mercado, funcionários e investidores da startup;
  • Colocando ainda mais ‘lenha na fogueira’, o presidente da empresa de IA, Greg Brockman, também se demitiu em soliedariedade ao amigo, já que teve sua cadeira no Conselho retirada, sendo apenas avisado da saída de Altman (veja aqui);
  • Com o efeito dominó, que contou com pesquisadores e outros funcionários ameaçando uma demissão coletiva, investidores alertaram a OpenAI sobre a possibilidade de um impacto de US$ 86 bilhões em suas ações; 
  • Assim, o grupo passou a discutir um provável retorno de Altman;
  • O primeiro desfecho disso, contudo, foi outra surpresa ainda mais negativa: Emmett Shear, um dos cofundadores da Twitch, foi anunciado como o novo CEO interino (confira detalhes aqui); 
  • Com a nomeação, a Microsoft, uma das maiores apoiadoras da OpenAI, se posicionou dizendo então que tanto Altman como Brockman fariam parte de seu quadro de funcionários – lembrando que ela está trabalhando em sua própria IA;
  • Por fim, fechando o cerco do caos, a dona do ChatGPT ‘voltou atrás’ e achou melhor readmitir Altman. Brockman também voltou para a startup – tudo isso aconteceu em menos de uma semana!

O corte de Altman foi uma supresa não apenas para ele, como para todos os funcionários da empresa (até os cargos mais altos). O especialista, que representou a empresa este ano em todos os eventos, reuniões e cúpulas para debates sobre os riscos da tecnologia, é considerado o rosto da companhia e, devido ao seu conhecimento, filosofia de avanço e apoio à regulamentação, se tornou quase que a “galinha dos ovos de ouro” do segmento da IA.

O retorno do CEO, no entanto, só foi aceito pelo especialista após um acordo que envolveu a reformulação do Conselho da empresa, a qual resultou em novos nomes para o comando da startup. Símbolos do boom da IA generativa, ambos os diretores voltaram essa semana para uma OpenAI totalmente renovada, podendo não apenas comemorar o aniversário e todo trabalho dedicado à empresa, mas inaugurando uma era potencialmente nova da gestão. Veja mais detalhes aqui!

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