É praticamente consenso entre os cientistas que a Via Láctea como conhecemos foi formada a partir de uma colisão com uma galáxia anã ocorrida há cerca de 10 bilhões de anos. Contudo, novos dados dão alguns novos detalhes sobre seu nascimento e apontam que uma versão moderna da nossa galáxia já existia nesta data.

Uma pesquisa da Universidade de Toronto, no Canadá, aponta que estrelas deixadas para trás pelo “intruso galáctico” são mais jovens ou mais parecidas com as estrelas do disco principal da Via Láctea. Em outras palavras, isso pode significar que nossa galáxia cresceu mais rápido do que os astrônomos imaginavam.

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“A Via Láctea já havia se desenvolvido muito antes que essa grande fusão acontecesse”, declarou o autor principal do estudo, Ted Mackereth, ao Science News.

Devoradora de mundos

Assim como outras galáxias espirais gigantes no universo, a expansão da Via Láctea se deu graças a uma série de colisões e fusões com galáxias menores ao longo do tempo. Com isso, as estrelas das galáxias “devoradas” se misturavam à galáxia que as devorou, tornando difícil saber como elas eram antes da fusão.

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Contudo, em 2018, astrônomos perceberam que podiam identificar estrelas da última grande fusão através de mapas detalhados de vários milhões de estrelas da espaçonave Gaia, da Agência Espacial Europeia (ESA). Foi descoberto que elas orbitam o centro galáctico em um determinado ângulo em relação ao disco principal de estrelas.

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Isso sugere que a química dessas estrelas pertencia a uma galáxia que mergulhou na Via Láctea. “Essas estrelas são deixadas lá como restos fósseis de sua galáxia original”, diz Mackereth. Foram descobertas evidências de duas galáxias antigas mais ou menos da mesma época, que foram batizadas de Gaia-Enceladus e Sausage.

Por serem parecidas e terem sido descobertas mais ou menos na mesma época, as galáxias são comumente tratadas como uma só e chamadas de “Gaia-Enceladus/Sausage”. Mackereth e sua equipe se perguntaram se poderiam descobrir o grau de desenvolvimento dessas duas galáxias quando elas foram absorvidas.

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Novas ferramentas

Se estrelas mais antigas da Via Láctea se formaram após essa fusão, é sinal que sua formação se deu pela colisão, o que sugere que Gaia-Enceladus/Sausage encontrou uma proto-Via Láctea que estava em um estágio inicial. Porém, se as estrelas têm a mesma idade ou são mais velhas que as do intruso galáctico, nossa galáxia já estava mais desenvolvida na ocorrência do encontro.

Visão da Via Láctea a partir da espaçonave Gaia. Crédito: ESA/Divulgação

Estimativas sobre isso já haviam sido feitas anteriormente, mas a equipe de Mackereth usou uma técnica chamada asteroseismology (astrosismologia) para estimar as idades de cada uma das estrelas estudadas. Este método consiste em verificar o brilho causado por “terremotos estelares” (starquakes) e outras oscilações para sondar as entranhas das estrelas.

“A astrosismologia é a única maneira de acessar a parte interna das estrelas”, disse a física e coautora do estudo, Josefina Montalbán. Com base nesses dados, os pesquisadores conseguem ter uma estimativa mais confiável sobre a idade das estrelas.

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95 estrelas foram observadas com auxílio do telescópio espacial Kepler, da Nasa. Dessas, seis eram de Gaia-Enceladus/Sausage e as outras 89 eram da Via Láctea. Com uma precisão de em torno de 11%, foi estimado que as estrelas da galáxias absorvida eram ligeiramente mais jovens que as da nossa galáxia.

Mais velhas que o esperado

Em outras palavras, boa parte da Via Láctea já havia se formado quando Gaia-Enceladus/Sausage entrou em colapso. Ainda é possível, inclusive, que a galáxia absorvida tenha desencadeado a formação de novas estrelas. Mas para saber mais sobre isso, serão necessárias novas observações de mais estrelas.

A observação de estrelas é algo importante para o entendimento da astronomia galáctica e do processo de nascimento das galáxias. “Se você não consegue diferenciar uma criança, um adolescente e um adulto, então não pode dizer nada sobre uma população de pessoas”, disse o astrofísico Tomás Ruiz-Lara, professor da Universidade de Groningen, na Holanda, que não participou do estudo. “Mas se eu puder distinguir entre alguém na casa dos 40 ou 50 anos, você tem um gráfico melhor da sociedade”, prossegue.

“Com as estrelas é a mesma coisa. Se formos capazes de distinguir a idade corretamente, então podemos distinguir eventos individuais na história da galáxia. No final, esse é o objetivo”, completa Ruiz-Lara.

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