“Padrões galácticos” são encontrados em tumbas islâmicas antigas

Por Edson Kaique Lima, editado por Rafael Rigues 08/07/2021 08h11, atualizada em 08/07/2021 10h36
Comparativo entre túmulos e estrelas
Crédito: Stefano Costanzo/ESA
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Milhares de tumbas antigas islâmicas, que datam do período medieval, foram dispostas em “padrões galácticos” bem difíceis de serem detectados. As sepulturas em questão foram encontradas na região de Kassala, no leste do Sudão, país localizado no nordeste da África. Para entender a lógica dos povos antigos, os pesquisadores usaram um método projetado originalmente para a cosmologia.

A equipe utilizou imagens de satélite para identificar a localização de mais de 10.000 monumentos, que vão desde túmulos feitos de pedra, estruturas mais simples espalhadas por toda a pré-história, até as chamadas “cubas”, um termo genérico que se refere às tumbas, santuários e estruturas mortuárias islâmicas.

Depois que os pesquisadores mapearam os monumentos funerários, eles tiveram uma série de problemas na interpretação dos dados, uma vez que não foram muitas as tumbas escavadas.

Para interpretar a razão pela qual os túmulos estavam dispostos daquela forma, foram usados dados colhidos anteriormente, que permitiram criar a hipótese de que seguiam padrões galácticos.

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Em um primeiro momento, as tumbas pareciam agrupadas de maneira aleatória. Porém, os pesquisadores suspeitaram que poderia haver um significado mais profundo implícito no arranjo dessas tumbas antigas. Então, fizeram uma busca por técnicas de modelagem estatística que pudessem auxiliá-los na busca por padrões.

Método inovador

O método escolhido foi o processo de agrupamento Neyman-Scott, desenvolvido originalmente para estudar estrelas e galáxias, que não é muito comum de ser usado em estudos de arqueologia e paleontologia. A principal característica desse modelo reside no fato de que ele pode lidar com conjuntos de dados arqueológicos que não possuem dados de escavação e registros históricos.

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Porém, seu uso exige um número muito grande de elementos, que são a base para análises estatísticas significativas. Usando esse modelo, os pesquisadores conseguiram perceber que as tumbas islâmicas escondiam vários aglomerados menores em torno de túmulos maiores, que seriam algo como “centros” de atração para enterros subsequentes.

Ao que parece, essa disposição era impulsionada pela sacralidade geral da localização, ou seja, esses túmulos centrais seriam de pessoas de maior graduação na sociedade, com os “cidadãos comuns” sendo sepultados ao redor deles. Além disso, outros fatores alteravam a construção das tumbas, como a disponibilidade de materiais para construção e topografia.

Área com tumbas no Sudão
Outros aspectos afetavam a construção das tumbas, como a topografia. Crédito: Stefano Costanzo/ESA

Elogios e críticas

Procurados pelo Science Alert, outros arqueólogos e paleontólogos elogiaram o método escolhido pela equipe, classificando o feito como uma adição interessante e potencialmente valiosa para futuras escavações em áreas parecidas com a encontrada no Sudão. Porém, ele não deixou de gerar alguma preocupação em alguns especialistas.

De acordo com o professor de modelagem arqueológica e paleoambiental da Universidade de Bournemouth, no Reino Unido, o fato de a equipe incluir tumbas de períodos diferentes “no mesmo bolo” é arriscado. Segundo ele, isso pode acabar fazendo que diferentes tradições funerárias sejam encaradas como uma coisa só, podendo gerar distorções.

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Redator(a)

Edson Kaique Lima é redator(a) no Olhar Digital

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Rafael Rigues é redator(a) no Olhar Digital