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Há exatos 45 anos, em 1º de abril de 1976, dois jovens com menos de 30 anos e um investidor se uniram para criar uma empresa. O objetivo? Produzir computadores pessoais, um conceito que na época ainda estava em sua infância. Estes jovens eram Stephen Gary Wozniak e Steven Paul Jobs, e o investidor era Ronald Wayne. A empresa? Apple Computer Company.
Neste quase meio século, a história da empresa passou por altos e baixos. De uma “startup” em uma garagem a uma das líderes do mercado de computação pessoal nos EUA, seguida por uma quase falência e um retorno triunfal que a tornou a empresa mais valiosa do mundo.
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E ao longo desta jornada, ela influenciou o mundo da tecnologia como poucas, ajudando a moldar a forma como você vê um computador, interage com ele e o integra ao seu dia-a-dia.
Para dar o pontapé inicial na empresa, “Woz” e Jobs venderam suas únicas posses: uma calculadora científica HP-65 e uma Kombi. Wayne, que tinha 41 anos e experiência desenvolvendo documentação para produtos da Atari, seria o “adulto responsável” por desempatar decisões e auxiliar na administração do negócio.
O primeiro produto, o Apple I, foi projetado por Wozniak inicialmente para uso pessoal. Era pouco mais que uma placa de circuitos com um processador e memória, que podia ser conectado a uma televisão e um teclado. Algo revolucionário numa época em que a principal forma de interação com um computador era através de um teletipo, que imprimia o resultado de programas e comandos em papel.
As primeiras unidades foram vendidas para uma das primeiras lojas de informática na região de San Francisco, a “Byte Shop”, que comprou 50 placas já montadas por US$ 500 cada. O preço ao consumidor era US$ 666 porque Wozniak, sempre brincalhão, gosta de números repetidos.
O primeiro grande sucesso da empresa veio em 1977 com o lançamento do Apple II. Além do hardware mais poderoso, capaz de produzir gráficos coloridos, ele foi um dos primeiros computadores vendidos “prontos” para o consumidor final, em um gabinete plástico já com o teclado e todos os componentes montados. Era só conectar a uma TV e usar.
Junto com o PET 2001, da Commodore, e o TRS-80, da rede de lojas de eletrônica Radio Shack, o Apple II formou a “Trindade de 77”, que ajudou a dar o pontapé no mercado de computação pessoal nos EUA.
Muitas empresas começaram a se informatizar com um Apple II e uma cópia do VisiCalc, a primeira planilha eletrônica de sucesso, e ao longo de mais de uma década milhares de estudantes em escolas nos EUA tiveram seu primeiro contato com a informática através de um Apple II ou seus descendentes.
Em 1984 veio o Macintosh, uma aposta ousada em um novo conceito: a interface gráfica. Em vez de memorizar comandos diferentes para cada aplicativo, o usuário só precisaria mover uma seta pela tela usando um novo dispositivo chamado “mouse”, apontando para figuras (os ícones) e selecionando comandos com um toque em um botão.
Com seu design compacto e amigável, o “Mac” foi uma tentativa de transformar o que ainda era visto por muitos como um “bicho papão” em um “eletrodoméstico” acessível a todos.
Todos os sistemas operacionais para computadores pessoais da atualidade, incluindo aí o Windows, Linux, Mac OS X ou Chrome OS, utilizam conceitos que podem ser traçados diretamente a esse ancestral comum.
Em 1985, pouco após o lançamento do Mac, Steve Jobs se desentendeu com o CEO da Apple, John Sculley, e deixou a empresa. Ao longo dos anos seguintes ela foi perdendo o seu foco e liderança, incapaz de competir com o sucesso de PCs cada vez mais baratos, produzidos em massa em Taiwan e revendidos em todo o mundo.
Em 1997 a Apple estava à beira da falência quando comprou a NeXT, empresa criada por Jobs, e trouxe seu fundador de volta, inicialmente como um “consultor”. Rapidamente ele assumiu a liderança, simplificando a linha de produtos, reduzindo custos de produção e focando os esforços de desenvolvimento.
O primeiro sucesso desta nova “era Jobs” veio em 1998, com o iMac. Um computador com linhas arredondadas, amigável, que repetia a estratégia do Mac original: transformar algo amedrontador em um eletrodoméstico, simplificando o acesso a algo que na época ainda estava nascendo: a internet.
Em 2001 a empresa fez uma aposta ousada: desenvolver não um computador, mas um eletrônico de consumo. Um aparelho portátil que aproveitasse o sucesso do formato MP3 para colocar “1.000 músicas no seu bolso”, acessíveis a qualquer momento, em qualquer lugar.
Nascia o iPod, que acelerou a transição da indústria da música de um modelo de negócios baseado em objetos físicos (discos de vinil, CDs, cassetes) para a era digital.
A loja digital iTunes Store, em 2003, foi o passo seguinte: pela primeira vez era mais fácil comprar uma música em formato digital do que baixar uma cópia pirata em um serviço de compartilhamento ou “ripar” um CD.
O modelo de negócios da loja, com faixas vendidas individualmente a preços baixos, ajudou a acabar com o conceito de “álbum musical”. E o alcance global se mostrou uma bênção para artistas e gravadoras independentes, que pela primeira vez podiam distribuir suas obras em pé de igualdade com os grandes nomes da música.
Quatro anos depois, em 2007, Jobs subiu aos palcos para anunciar “três produtos”: um iPod com controles sensíveis ao toque, um telefone e um “dispositivo de comunicação móvel revolucionário”. Os três, na verdade, era um só: o iPhone. E nossos bolsos, filas de banco (lembra delas?) e tempo no ônibus no caminho para casa nunca mais foram os mesmos.
O iPhone não foi o primeiro “smartphone” (empresas como a Nokia, Palm e Microsoft saíram na frente) mas, novamente, foi o primeiro que transformou algo complexo em um “eletrodoméstico”. Pequeno e fácil de usar, o aparelho logo se tornou um objeto de desejo.
Com a chegada dos “apps” e da App Store, em 2008, começou uma revolução no desenvolvimento de software. Pequenos desenvolvedores começaram a criar aplicativos para preencher nichos de mercado ou utilizar a tecnologia disponível nos aparelhos de formas inovadoras. Fortunas surgiram como consequência, e também serviços que hoje consideramos essenciais como o WhatsApp, Instagram ou Uber, só para citar alguns.
O iPhone varreu do mapa os concorrentes já existentes e foi diretamente responsável pela criação de seu único verdadeiro rival, o Android. O projeto já estava em andamento mas foi “resetado” assim que o smartphone da Apple foi anunciado, já que o Google tinha plena consciência de que para competir seria necessário algo muito mais sofisticado do que o que estava sendo desenvolvido.
Em 2008 a Apple anunciou o Macbook Air e redefiniu os notebooks, transformando-os de “tijolos” de alguns quilos em máquinas finas, leves e elegantes. Em 2010 foi a vez do iPad, que fez pelos tablets o que o iPhone fez pelos smartphones.
Em 2015 veio o Apple Watch, que criou uma nova categoria de dispositivos inteligentes e, literalmente, salvou vidas. E nem falamos do Mac OS X, das Apple Stores, dos AirPods, da Apple TV e tantos outros produtos, serviços e ideias.
Ao celebrar os 45 anos da empresa o CEO, Tim Cook, citou Steve Jobs em um tuíte: “a jornada até agora foi incrível, e ainda assim mal começamos”. Que os próximos 45 anos sejam ainda mais incríveis.
Esta post foi modificado pela última vez em 1 de abril de 2021 17:48