Há menos de um mês, antes do início do conflito em grande escala na Ucrânia, o presidente russo, Vladimir Putin, transferiu seus bens para mais perto de casa, antecipando sanções mundiais contra ele. Neste movimento, seus três super iates fizeram uma corrida para águas seguras controladas pela Rússia.

A embarcação Graceful é a mais famosa das três. Trata-se de um tri-deck de 82 metros estimado em US$ 100 milhões – ou seja, R$ 516 milhões em valores convertidos de forma direta hoje (01).

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Construído pela alemã Blohm e Voss, o projeto da H2 Yacht Design foi lançado em 2014 após um período de gestação muito longo e complicado – com direito a casco caindo quando o super iate foi transportado do estaleiro russo (onde sua construção começou em 2005) para a Alemanha.

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No início de fevereiro deste ano, o Graceful estava em Hamburgo, onde atracou no final de 2021 para reformas. Isso incluiu a adição de varandas a certas suítes de hóspedes e a ampliação da plataforma de natação traseira em uma embarcação que já contava com piscina coberta, spa, heliponto, pista de dança, academia e bar. Porém, antes mesmo que essas atualizações no super iate fossem concluídas, a embarcação “fugiu” para águas russas.

Localização: Inferno

Acontece que, desde o último sábado, 26 de fevereiro, a sua localização não foi mais atualizada. Pelo menos, o site de rastreamento de embarcações Vesseltracker até o momento traz o indicativo do super iate ainda definido como “anônimo”.

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Segundo informações do repórter investigativo da Bloomberg Ryan Gallagher, no sábado, uma ramificação do grupo de hackers Anonymous descobriu uma maneira de mexer com os dados de tráfego marítimo e fez parecer que o iate havia caído na Ilha das Cobras, na Ucrânia, localizada no Mar Negro.

Foi neste local que 13 guardas de fronteira da Ucrânia foram atacados na semana passada por supostamente xingarem militares da Rússia. Não só isso, o super iate de Putin teve seu nome alterado de Graceful para “FCKPTN” (um jeito diferente e um pouco mais agressivo de dizer “vai se lascar, Putin”).

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Aparentemente, também foi uma forma de parafrasear aquelas que teriam sido as últimas palavras de soldados ucranianos aos militares russos. Cabe observar que, ao contrário do que disse o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenski, os guardas podem estar vivos. De qualquer forma, como se não bastasse, o super iate de Putin teve também seu destino mudado para “inferno”, antes de agora estar em local desconhecido.

Um sistema frágil

O Sistema de Identificação Automática (AIS) tem sido usado para rastrear a localização de navios comerciais desde 2004, mas é vulnerável a manipulações não autorizadas, como foi o caso do luxuoso Graceful. Como diz Gallagher, isso “se tornou um teatro de guerra de informação”.

Conforme traz o repórter, um estudo publicado na Multidisciplinary Digital Publishing Institute (MDPI), editora de periódicos científicos de acesso aberto, descobriu que o AIS era vulnerável a “manipulações não autorizadas” e observou que as mensagens não são criptografadas ou autenticadas, facilitando adulteração.

As mudanças nas informações de localização da embarcação fizeram parecer que o veículo ficou encalhado na Ilha das Cobras. Os hackers, representados por uma conta alemã no Twitter, “queriam colocar o iate no escopo dos pacotes de sanções”, bem como “colocar um pequeno sorriso em alguns rostos por um curto período nestes tempos sombrios”.

“Não é contra os soldados russos”

Em seu blog, os hackers também listam uma série de suas ações no que entendem ser uma operação muito grande contra Putin. Dentre elas, há ataques a centenas de sites do governo russo, bancos e empresas estatais.

Os ciberativistas também explicam no post que a operação não é contra o povo da Rússia. “Não é nem contra soldados russos,” Segundo eles, a operação “tem como alvo Putin e o aparato estatal controlado por Putin, empresas estatais, a mídia controlada pelo Estado e indivíduos e empresas privadas que se beneficiaram do sistema autocrático de Putin por décadas”.

No corpo do texto, os hackers ainda dizem que os ataques são dirigidos “contra grupos e meios de comunicação que levam o gaslighting de Putin no exterior”. Nas palavras dos ciberativistas, “Putin, que está usando esquadrões de hackers e exércitos de trolls contra as democracias ocidentais, está tomando um gole de seu próprio remédio amargo.”

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Imagem: Scott Bixby/Twitter